Folha de S. Paulo


'Quem planta vento colhe tempestade', afirma Renan Calheiros sobre Cunha

Renato Costa/Folhapress
Rodrigo Maia (DEM-RJ), novo presidente eleito da Câmara, se encontra com Renan Calheiros
O presidente do Senado Renan Calheiros após a posse de Rodrigo Maia na presidência da Câmara

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), evitou falar abertamente sobre a cassação de seu correligionário Eduardo Cunha (RJ), ocorrida na segunda (12), mas admitiu que a perda do mandato do ex-deputado já era esperada.

"Quem planta vento colhe tempestade. É uma lei da natureza", afirmou nesta terça-feira (13) o peemedebista.

Após a sessão que cassou seu mandato, Cunha fez ameaças a aliados e disse que publicará, em breve, um livro com todas as conversas sobre impeachment que teve nos últimos tempos.

"Não sou especialista em Eduardo Cunha. Não gostaria nem de falar sobre isso."

Indagado ainda sobre uma citação de Cunha a ele em seu discurso, Renan disse apenas: "afaste esse cálice de mim".

Renan foi eleito pela segunda vez consecutiva à Presidência do Senado - quarta durante sua trajetória como senador - em fevereiro do ano passado, mesma data em que Cunha assumiu o comando da Câmara.

Ao longo de 2015, fez constantes ressalvas à condução dos trabalhos da Casa vizinha pelo colega de partido. Isso porque havia uma dificuldade de fazer acordos com os deputados, liderados por Eduardo Cunha, o que impedia que as propostas aprovadas pelos senadores tivessem seguimento.

"Do ponto de vista da agenda, as coisas vão melhorar", destacou, em referência ao atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Renan contou ter assistido à sessão que cassação de Eduardo Cunha na casa do senador Wilder Moraes (PP-GO).

O ex-presidente da Câmara e ex-deputado peemedebista perdeu o mandato por 450 votos favoráveis contra apenas 10 contrários. Para Renan, não é possível prever os placares de decisões como essa. "Ninguém esperava. Essas coisas você não tem muita indicação segura do que vai acontecer".

CONTESTAÇÃO

Em resposta às declarações de Renan, o ex-deputado Eduardo Cunha negou, por meio de nota, que a Câmara tenha deixado de apreciar matérias importantes advindas do Senado enquanto estava sob seu comando, entre fevereiro de 2015 e maio de 2016.

"Ao contrário do Senado, que deixou de apreciar vários temas importantes aprovados na Câmara". O ex-deputado mencionou entre as propostas que os senadores não apreciaram, mesmo que a Casa vizinha já tivesse aprovado, os projetos de terceirização, redução da maioridade penal, correção do FGTS e PEC da reforma política. "Esperamos que o Senado aprecie essas matérias".

Cunha também comentou na nota o trecho de seu discurso em que mencionou o presidente do Senado. Ao subir à tribuna da Câmara para se defender, na segunda, o ex-deputado disse haver uma diferença de tratamento entre as denúncias aceitas pelo STF.

"Na ação penal número 982 do STF, os mesmos delatores, acusam como beneficiários das supostas vantagens indevidas os senadores Renan Calheiros, Jader Barbalho, Delcídio do Amaral e Silas Rondeau. Entretanto, a ação penal que deveria ser indivisível foi aberta apenas contra mim".

Em tom de ironia, Cunha encerrou desejando "sucesso" a Renan e completou: "Espero que os ventos que nele chegam através de mais de uma dezena de delatores e inquéritos no STF, incluindo Sérgio Machado, não se transformem em tempestade. E que ele consiga manter o cálice afastado dele".


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