Folha de S. Paulo


Nova fase da Operação Acrônimo mira empresário ligado a Pimentel

Ed Ferreira - 29.mai.2015/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 29-05-2015, 10h20: Equipe da Policia Federal da Operacao Acronimo, contra lavagem de dinheiro, cumprindo mandado de busca e apreensao na Grafica Brasil, na Asa Norte. (Foto: Ed Ferreira/Folhapress, PODER)
Equipes da PF durante Operação Acrônimo apreendem documentos em empresa, em 2015

A Polícia Federal deflagrou na manhã desta terça-feira (13) mais uma fase da Operação Acrônimo. Um dos alvos é Felipe do Amaral, empresário ligado ao governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT).

Filho de uma prima da ex-mulher do governador, Amaral é suspeito de ter recebido propina da montadora Caoa em troca de intervenções feitas por Pimentel no Ministério de Desenvolvimento em favor da empresa. O petista esteve à frente da pasta de 2011 a 2014, durante o primeiro mandato de Dilma Rousseff na Presidência.

O empresário foi levado em condução coercitiva para a depor na Polícia Federal de São Paulo.

A sede nacional da rede de restaurantes Madero, em Curitiba, foi alvos de buscas. A investigação aponta que o suposto dinheiro repassado pela Caoa teria sido usado por Amaral para abrir no interior de São Paulo uma hamburgueria gourmet da qual Pimentel seria sócio oculto.

Em junho, a revista "Época" publicou que Amaral havia sido citado na delação de Benedito Oliveira, o Bené, apontado como operador de Pimentel e que firmou acordo de delação premiada.

Bené disse, segundo a revista, que o empresário recebeu aporte financeiro para montar uma hamburgueria gourmet por solicitação de Pimentel. O dinheiro, segundo o delator, veio de uma propina de R$ 20 milhões paga pela Caoa, que teria negociado isenção fiscal com Pimentel na época em que ele foi ministro.

Outro alvo de condução de coercitiva é o empresário Sebastião Dutra, dono da gráfica Color Print. Segundo as investigações, ele teria emitido notas fiscais falsas para uma das empresas envolvida na construção do restaurante.

A gráfica foi uma das fornecedoras para a campanha de Pimentel ao governo de Minas em 2014.

A ação desta terça foi autorizada pelo ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Herman Benjamin, relator da Acrônimo na corte. Foram emitidos seis mandados judiciais, sendo quatro de busca e apreensão e dois de condução coercitiva em São Paulo, no Distrito Federal e no Paraná.

ACRÔNIMO

A Operação Acrônimo foi deflagrada em 2015 e apura irregularidades no financiamento e na prestação de contas da campanha de Fernando Pimentel, que foi indiciado pela PF, ao governo de Minas Gerais sob suspeita de corrupção passiva, tráfico de influência, organização criminosa e lavagem de dinheiro.

Em outras frentes, investiga suspeitas de favorecimento a empresas com empréstimos do BNDES, subordinado ao Ministério de Desenvolvimento, pasta que foi comandada pelo hoje governador.

CEMIG

Felipe Torres do Amaral chegou a ser nomeado Diretor de Gás da Cemig (estatal de energia de Minas Gerais), em maio deste ano, mas o cargo foi extinto menos de um mês depois de ele assumir —após seu nome ter sido citado na delação de Bené.

Depois disso, Amaral foi contratado como assessor da diretoria, onde ainda é empregado. A Cemig é presidida pelo ex-ministro do Desenvolvimento Mauro Borges, que substituiu Pimentel no governo Dilma e também é investigado pela Acrônimo. Sua defesa sempre negou as acusações.

Procurada, a assessoria da Cemig disse que a extinção da diretoria foi uma estratégia empresarial da estatal.

PGR

A Procuradoria-Geral da República emitiu uma nota em que afirma que Amaral foi sócio de um restaurante que teria recebido, segundo investigações, R$ 800 mil para uma reforma a partir de contrato simulado.

"Os recursos destinados à obra seriam parte dos R$ 20 milhões que o governador, quando era ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, teria recebido da montadora Caoa em troca de isenção fiscal, conforme denúncia formulada na Ação Penal 836, que tramita no STJ."

OUTRO LADO

O advogado de Pimentel, Eugênio Pacelli afirmou que seu cliente não tem qualquer ligação que ultrapasse o limite do parentesco ou o campo da licitude com o Amaral.

"O presidente do Senado (Renan Calheiros) disse recentemente que o Congresso estava se transformando num hospício, e o Brasil está se transformando num grande hospital, onde todo mundo quer fazer uma grande operação. Esse fato relacionado a Felipe é um verdadeiro café requentado porque já era de conhecimento da Polícia", afirmou Pacelli.

Em nota, Márcio Augusto Paixão, advogado que defende Felipe do Amaral, afirmou que seu cliente não foi alvo de condução coercitiva, mas que responderá de forma espontânea a perguntas da delegada responsável pelo caso.

"Felipe colocou-se à disposição da Polícia Federal para prestar todos os esclarecimentos em mais de uma oportunidade", diz a nota, que afirma ainda que o empresário "nunca recebeu valores indevidos provenientes de terceiros, sendo absolutamente inverídicas as declarações". A defesa classificou as afirmações do delator como falsas, acusando-as de induzir "a Polícia Federal ao erro —o que ficará provado no decorrer do inquérito".

Procurada pela reportagem, a Caoa informou por meio da assessoria de imprensa que aguarda um posicionamento do seu departamento Jurídico para se pronunciar sobre a operação deflagrada nesta manhã.

A Madero informou, em nota de sua assessoria, que entregou à PF os documentos necessários pedidos pela Justiça e que Felipe do Amaral deixou de ser franqueado da rede em outubro de 2015.


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