Folha de S. Paulo


Coronel da PM ironiza estudante que teve olho perfurado em protesto

Reprodução/Facebook
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Perfil do tenente-coronel Henrique Motta nas redes sociais

O tenente-coronel da Polícia Militar Henrique Motta, que comandou a operação policial na manifestação contra o governo de Michel Temer deste domingo (5), ironizou a estudante Deborah Fabri, 19, que teve o olho perfurado no ato de quarta-feira (31), em uma postagem no Facebook.

A imagem, compartilhada no perfil pessoal de Motta, mostra um "tweet" da jovem de 2015, em que ela afirma ser a favor de "qualquer ato de qualquer destruição em protesto de cunho político que tenha objetivos sólidos" e a mensagem postada pela estudante na quinta-feira (1º), após ser liberada do hospital. Entre as imagens, os dizeres: "quem planta rabanete colhe rabanete".

Deborah é um dos sete feridos após o início do confronto entre manifestantes e policiais na rua da Consolação, na manifestação de quarta-feira. Ela relatou a médicos ter sido atingida após a explosão de uma bomba. Não é certo que ela tenha perdido totalmente a visão do olho esquerdo, mas a recuperação é improvável, afirmou o diretor operacional do Hospital de Olhos Paulista, Willian Fidelix, à Folha.

O perfil do policial também possui postagens contrárias ao governo de Dilma Rousseff, cujo impeachment foi o estopim das manifestações que ocorreram nesta semana na capital paulista. Uma delas, de 20 de maio, traz uma montagem da foto do elenco do filme "Aquarius", que protestou contra o impeachment no Festival de Cannes. Os dizeres dos cartazes foram substituídos pela frase "somos babacas".

Nesta segunda-feira (5), o coronel compartilhou uma imagem de uma página intitulada "Em terra de esquerdista quem tem cérebro é Rei", que questiona os protestos contra Temer.

BOMBAS

No domingo, o protesto seguiu pacífico até o Largo da Batata. Na dispersão, por volta das 20h45, segundo relatos, um empurra-empurra em frente à estação Faria Lima do metrô terminou com bombas lançadas pela Polícia Militar para dispersar a multidão.

Motta afirmou que a PM foi socorrer o metrô, que havia fechado as portas por volta das 19h, por segurança, para evitar excesso de gente nas plataformas. Segundo ele, tentaram forçar a entrada para a estação.

Após a confusão, o PM bateu boca com manifestantes próximos à estação. Um deles perguntou se a PM vai ao protesto para garantir a integridade física dos manifestantes ou para reprimir.

"A sua pergunta é cretina. Aqui é para preservar as pessoas que vieram manifestar. A manifestação foi linda, bonita, maravilhosa, da Paulista até aqui. Depois elementos que estavam lá começaram a jogar garrafa. Tinha mascarado no meio e você viu."

A outro, disse ter "não ter lado": "Eu represento o Estado. Eu estou aqui para manter a lei e a ordem".

OUTRO LADO

Procurada por meio da Secretaria de Estado da Segurança Pública, a Polícia Militar afirmou que "respeita a liberdade de expressão e o direito de opinião, desde que não configure crime. Isso vale também para os seus integrantes". Segundo a nota enviada, no caso do tenente-coronel, "não há indícios de que as suas opiniões tenham em algum momento interferido em seu trabalho técnico, que tem se mostrado isento e imparcial".

"O fato de ter e de expressar uma opinião política não implica em ações parciais, tanto é que inúmeros jornalistas, por exemplo, manifestam nas redes sociais posicionamentos políticos, mas não deixam de exercer suas funções nos respectivos veículos de comunicação", afirma a nota.


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