Folha de S. Paulo


Lula propõe frente ampla e bloco de oposição a Temer

Li Ming/Xinhua
Lula ao lado de Chico Buarque, durante a defesa de Dilma no Senado
Lula ao lado de Chico Buarque, durante a defesa de Dilma no Senado

De volta à oposição, o PT propõe aos aliados a formação de um bloco de resistência ao governo Temer.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reativou a articulação de uma frente ampla de esquerda.

Nesta quarta-feira (31), enquanto acompanhava a votação do impeachment ao lado de Dilma Rousseff, no Palácio da Alvorada, Lula sugeriu a Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, a composição de bloco de oposição no Congresso, oferecendo aos pedetistas a liderança da minoria.

No Alvorada, Dilma defendeu "luta política". "Não é a primeira vez que sou cassada. Não vai ficar assim", disse ela, segundo aliados.

Antes concentrado na defesa do mandato de Dilma, o PT reacende, agora, o debate sobre a criação de uma frente inspirada no modelo do Uruguai com vistas a 2018: uma grande coalização que reúna, além de partidos, sindicatos, associações, movimentos de esquerda, intelectuais e artistas em torno de um programa.

Segundo Lupi, Lula não descarta o lançamento de um candidato fora do PT para a Presidência, entre eles o ex-ministro Ciro Gomes (PDT).

"Ele diz que Ciro é o mais preparado, o problema é o temperamento", disse o pedetista.

No modelo da frente, os partidos perdem o protagonismo e as candidaturas passam a ser lançadas em nome da coalização.

"Olhando para 2018, deve-se almejar uma candidatura única dessa frente e desse programa, comprometida e emergida desse processo", diz o cientista político Aldo Fornazieri, um dos entusiastas da ideia. "Esse candidato pode ser Lula, se tiver condições, Ciro Gomes ou outro nome que não seja candidato de si mesmo ou de um único grupo", continua ela.

Lula conversou com a cúpula do PCdoB em defesa da proposta e sugeriu aos aliados uma reunião conjunta, que deve acontecer depois do feriado de Sete de Setembro.

Segundo o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), "Lula aposta nesta frente". O deputado frisa, em um claro recado ao PT, que não deve haver "hegemonia" entre os partidos."Não pode ter força principal, nem acessória."

"É uma grande saída para a resistência", diz Luciana Santos, presidente nacional do PCdoB, numa alusão à frente.

Disposto a se credenciar para a disputa e ganhar a confiança do PT, Ciro se reuniu com o ex-governador Tarso Genro, um dos entusiastas da frente. Na avaliação do petista, ele e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, "são duas lideranças que terão um papel importante no futuro do país".

"Quero estar junto com eles numa nova frente política, democrática e republicana, com toda a esquerda pensante, num período próximo, em direção a 2018", afirma Genro.

A atuação da frente, no entanto, é alvo de divergências. Dirigentes do PT e movimentos de esquerda rejeitam a união em torno de Ciro.

"A frente não é eleitoral. Não se trata da aproximação do partido com uma pessoa, e sim de uma articulação permanente", diz Valter Pomar, da Articulação de Esquerda.

Além de avaliar que a discussão não está madura, movimentos de esquerda rejeitam o nome do ex-ministro como alternativa para 2018.

O impeachment reabre também a disputa interna no PT pelo comando do partido.

"Nosso objetivo é ganhar o PT para o PT", diz o secretário de formação do partido, Carlos Henrique Árabe.


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