Folha de S. Paulo


Vamos fazer oposição, mas não contra o Brasil, diz líder do PT no Senado

Definitivamente na oposição, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PT-PE), avaliou que a decisão da Casa de cassar o mandato da agora ex-presidente Dilma Rousseff é uma injustiça cometida pelas elites do país e por pessoas que estão envolvidas em casos de corrupção.

Para ele, a decisão de manter a habilitação de Dilma para ocupar funções públicas, atesta que o julgamento foi político e que, muitos que foram de seu governo ou eram seus amigos, usaram a chance como uma "compensação". Ele também avalia que os senadores entenderam que as penas eram desproporcionais ao crime que a ela foi imputado.

O petista afirmou ainda que o partido fará uma oposição muito dura ao governo mas não contra o Brasil. "Nós não vamos reproduzir a maneira que esses segmentos fizeram oposição a nós", disse.

Confira a entrevista de Humberto Costa (PT-PE) para a Folha:

Andressa Anholete/AFP
O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE)
O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE)

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Qual o sentimento do senhor agora que o processo foi concluído?
Meu sentimento é de indignação pela injustiça cometida. Uma injustiça porque ela não cometeu crime de responsabilidade e uma injustiça porque pessoas que estão envolvidas em corrupção, em falcatruas, em propinas estão por aí livres, lépidas e fagueiras enquanto ela paga o preço pela tentativa da elite brasileira de derrubar o nosso projeto.

Houve uma vitória da presidente em relação à manutenção do seu direito de exercer funções públicas?
Não, de nenhuma forma. Nós e o povo brasileiro fomos fragorosamente derrotados com essa decisão de destituição da presidente Dilma. No segundo aspecto, apenas ponderamos uma coisa que era evidente. Além dela não ter cometido nenhum crime de responsabilidade, mesmo a punição a este crime não cometido era desproporcionalmente grande. Então, imaginamos que não deveríamos fazer com que ela fosse proscrita de toda a vida pública. Foi esse o espírito.

Mas a divisão em relação às penas, foi bom ou ruim para ela?
Essa foi uma demanda da própria defesa e nós não podíamos, de forma alguma, deixar de encaminhar essa proposição. Até porque, além de ela não ter cometido crime, ela seria condenada a penas desproporcionalmente grandes. Acho que foi uma maneira de dosar o tamanho da pena que foi aplicada a ela. Não vejo que essa decisão dê a ela, a priori, o direito de participar de eleições. Acho que essa é uma questão que está regulada pela lei da Ficha Limpa e essa lei diz que, quando há um colegiado que toma essa decisão e condena alguém, nessa condição a pessoa perde o direito de disputar eleições. Agora, isso naturalmente vai ter uma interpretação por parte do Supremo [Tribunal Federal] que vai tirar essa dúvida.

Houve algum acordo entre o PT e parte do PMDB para que essa votação fosse dividida?
Claro que não. Como íamos fazer um acordo com nossos algozes?

Como o senhor interpreta a diferença de votos que houve entre a primeira e a segunda votação?
Primeiro, a compreensão de que não havia realmente uma razão de ordem jurídica para a condenação dela. As razões eram políticas. Segundo, uma constatação de que essas pessoas achavam também que a pena era desproporcionalmente maior que qualquer crime que ela tivesse cometido. E, finalmente, acho que para muitos funcionou como uma compensação. Muitos foram integrantes do governo, foram amigos dela, tiveram a possibilidade de votar de uma maneira e de outra.

Por que senadores que foram aliados dela mudaram de lado?
Porque fizeram a leitura de que ela perdeu a governabilidade e que não dava mais para implementar essa medida de plebiscito e de eleições diretas.

E essa divisão fragiliza a base de Temer?
Não essa votação. Essa unidade deles era só para garantir a aprovação do impeachment. Mas as diferenças de visões, de práticas vão fazer com que a ruptura dessa base aconteça de forma muito mais rápida do que a gente pensa.

Como o PT vai se comportar no governo Temer?
Vamos fazer uma oposição muito dura. Vamos combater qualquer tentativa de retirar do povo pobre, dos trabalhadores, qualquer conquista, especialmente as que foram conquistadas nos últimos anos. Obviamente não faremos oposição ao Brasil. Nós não vamos reproduzir a maneira que esses segmentos fizeram oposição a nós. Mas vamos atuar de maneira firme contra as medidas desse governo. Pelas propostas que estão sendo ventiladas, posso dizer de antemão que não teremos concordância: ideia do aumento da idade mínima sem uma discussão aprofundada, essa ideia de desvincular o salário mínimo dos benefícios tanta da Previdência quanto da assistência social. São coisas que já de pronto vamos colocar em pontos antagônicos.


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