Folha de S. Paulo


Para Estados Unidos, impeachment seguiu ordem constitucional

O afastamento definitivo da presidente Dilma Rousseff seguiu o ordenamento constitucional, considera o governo dos EUA, que espera manter a "forte relação bilateral" e avançar em temas de interesse mútuo.

A declaração foi divulgada pelo Departamento de Estado pouco depois da votação do impeachment no Senado. O governo americano classificou como "essencial" a relação com o Brasil.

"Vimos notícias de que o Senado brasileiro, de acordo com o ordenamento constitucional do Brasil, votou para remover a presidente Dilma Rousseff do cargo. Estamos confiantes que continuaremos a forte relação bilateral que existe entre nossos países", disse John Kirby, porta-voz do Departamento.

Desde a abertura do impeachment, o governo americano tem mostrado cautela, mas com elogios à solidez das instituições brasileiras e reiterando que o impeachment seguia as regras da democracia e da Constituição.

"Como as duas maiores democracias do hemisfério, Brasil e Estados Unidos são parceiros comprometidos. Os Estados Unidos cooperam com o Brasil para encarar temas de interesse mútuo e os desafios mais urgentes do século 21. Planejamos continuar essa colaboração essencial."

Antes da votação, o governo mostrava-se disposto a recomeçar as relações com o Brasil, com a expectativa de que a colaboração em diversos temas possa ser retomada depois que a incerteza dos últimos meses passar.

AMÉRICA DO SUL

A posição dos Estados Unidos foi similar à adotada pelo governo da Argentina, que afirmou, por meio de nota, que respeita o processo de impeachment e que continuará trabalhando pela integração com o país "irmão", respeitando os direitos humanos, as instituições democráticas e o direito internacional, além de procurar fortalecer o Mercosul.

Desde o início do processo, o presidente Mauricio Macri manteve uma postura simpática em relação ao então governo interino de Michel Temer, mas sempre destacando que era preciso verificar se tudo aconteceria de acordo com a constituição.

Em maio, a Argentina foi o primeiro país a receber José Serra como ministro de Relações Exteriores. Segundo a coluna Mônica Bergamo, Temer deverá visitar Buenos Aires no início de outubro.

O governo do Chile, por sua vez, se declarou "respeitoso" em relação à decisão adotada pelo Senado brasileiro e expressou sua "confiança de que o Brasil resolverá seus próprios desafios através da sua institucionalidade democrática".

A posição de americanos e argentinos, no entanto, contrasta com as declarações de líderes de países bolivarianos.

O presidente do Equador, Rafael Correa, afirmou nesta quarta-feira (31) que irá retirar o embaixador do país no Brasil minutos após a aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff pelo Senado brasileiro.

Correa é um tradicional aliado dos governos petistas de Dilma e de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva.

"Destituíram a Dilma. Uma apologia ao abuso e à traição. Retiraremos nosso encarregado da embaixada", escreveu Correa em sua conta no Twitter.

Mais tarde, foi a vez do governo do presidente da Venezuela, Nícolas Maduro, anunciar a retirada de seu embaixador do Brasil e o congelamento das relações com o país devido ao que designou como "golpe parlamentar".

Segundo comunicado da chancelaria venezuelana, o país "decidiu retirar definitivamente seu embaixador na República Federativa do Brasil e congelar as relações políticas e diplomáticas com o governo surgido deste golpe parlamentar".

Na manhã desta quarta, antes da votação da cassação de Dilma, o presidente boliviano, Evo Morales, também aliado de Dilma, havia dito que iria convocar seu embaixador em Brasília caso o impeachment da petista fosse aprovado.

"Se prosperar o golpe parlamentar contra o governo democrático de Dilma, a Bolívia convocará seu embaixador. Defendamos a democracia e a paz", escreveu o presidente boliviano, que, no início da tarde, cumpriu a promessa e convocou o diplomata do país para consulta –em escala de severidade, a medida está um grau abaixo da tomada pela Venezuela.


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