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'Impeachment leva insegurança a prefeitos', diz dirigente da FNP

Renato Costa/Folhapress
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O secretário-executivo da Frente Nacional dos Prefeitos, Gilberto Perre

O secretário-executivo da Frente Nacional de Prefeitos, Gilberto Perre, afirma que o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff gera insegurança jurídica em administradores municipais pelo Brasil que enfrentam dificuldades financeiras.

"O precedente do impeachment de um governante por não atendimento à lei fiscal, nos leva a considerar que os demais governantes, sejam prefeitos ou governadores, também estão com seus mandatos ameaçados", afirma.

De acordo com ele, os governantes continuarão "com esse grau de insegurança em relação à interpretação da lei" enquanto não houver a revisão do artigo 42, que impede o prefeito, em seu último ano de mandato, de "contrair obrigação de despesa que não possa ser cumprida integralmente dentro dele".

"Imagina que o prefeito pode ser preso por não cumprir algo que não consegue entender o que é", declarou.

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Folha - O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, falou que o impeachment tem gerado um clima de insegurança jurídica entre os prefeitos neste ano de fim de mandatos. O sr. concorda com essa avaliação?

Gilberto Perre - É um entendimento geral, razoável e quase óbvio que, uma vez que o presidente da República pode ser afastado por não atendimento a preceitos da Lei de Responsabilidade Fiscal, imagine o que não seria, obviamente, o caso para prefeitos? O precedente do impeachment de um governante por não atendimento à lei fiscal nos leva a considerar que os demais governantes, sejam prefeitos ou governadores, também estão com seus mandatos ameaçados. Não dá para deixar os governantes com esse grau de insegurança em relação à interpretação da lei.

Como mudar esse quadro?

O artigo 42 da lei é o que disciplina o fechamento de exercício, que é este ano. Ele traz a expressão "contrair obrigação de despesa", mas é um conceito sem definição clara e como ele é aferido. O não cumprimento do artigo sujeita o governante à lei de improbidade, inclusive com pena de prisão até quatro anos. Mas como cumpri-lo se este conceito não é claro? O governante depende da interpretação de quem está julgando suas contas.

Como assim?

Para se ter uma ideia, os tribunais de contas de todo o país têm dado diferentes interpretações para o conceito. Às vezes, dentro de um mesmo tribunal, os conselheiros divergem. A insegurança jurídica é muito grande porque a sorte do prefeito está lançada a saber com que conselheiro sua conta vai cair. Clarear este conceito é fundamental para que diminua a insegurança jurídica dos prefeitos. Os prefeitos têm trabalhado para essa revisão junto ao governo.

A Lei de Responsabilidade Fiscal tem 16 anos. Por que só agora essa discussão?

Ele é mais grave agora porque, em uma circunstância de queda do PIB tão agressiva e persistente, cria-se ainda mais dificuldades para se encerrar as contas dentro da lei. Se estivéssemos em um momento de estabilidade econômica, talvez isso fosse um pouco menos grave. O ajuste de contas fica impossível, não por um desdém do prefeito ou má gestão. Não é disso que se trata. Estamos perante a uma inequação. Os prefeitos estão apertando o cinto, mas é insuficiente.

A FNP tem a avaliação que muitos municípios podem fechar suas contas no vermelho.

A situação é muito grave porque, quando se tem um momento de crescimento econômico, as receitas crescem em uma velocidade maior do que o próprio PIB. Quando a economia está crescendo, há o incentivo à formalização, a arrecadação de impostos avança rapidamente. Isso proporcionou em um passado recente a ampliação dos serviços públicos, especialmente nas áreas de saúde e educação. Estamos assistindo a um fenômeno inverso, dois anos de recessão grave seguidos, a queda na receita é mais acelerada do que na queda do PIB.

O REM-F [Ranking de Eficiência dos Municípios-Folha, lançado no último domingo] mostra uma relação direta entre eficiência das cidades e número de funcionários.

Não dá dizer que o número de funcionários menor significa mais eficiência. A questão é saber se esses funcionários estão no lugar certo, remunerados de forma adequada. O zelo com as despesas de pessoal, tanto em termo de remuneração quanto em relação ao número de funcionários, é uma questão presente no cotidiano do administrador público, e posso testemunhar que os prefeitos são crescentemente zelosos e cuidadosos com esta questão. O gabinete do prefeito é sempre uma fonte de resistência, não de contratação.


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