Folha de S. Paulo


Dilma divulga carta nesta terça antes de mostrar a senadores e irrita aliados

Marlene Bergamo - 26.mai.2016/Folhapress
A presidente afastada Dilma Rousseff durante entrevista dada à Folha no fim de maio
A presidente afastada, Dilma Rousseff, durante entrevista dada à Folha no fim de maio

A presidente afastada, Dilma Rousseff, decidiu divulgar a carta aos 81 senadores às 15h desta terça-feira (16) em um pronunciamento a jornalistas no Palácio da Alvorada. O formato, em que a petista vai ler o documento e enviá-la aos parlamentares, irritou senadores petistas, que afirmam terem sido pegos de "surpresa".

Dilma trabalha há semanas no texto autoral em que vai defender um plebiscito para a realização de novas eleições, assumir erros de seu governo e prometer mudanças na condução da economia, caso volte ao Palácio do Planalto –esse cenário, porém, é considerado "remoto" mesmo entre os aliados mais próximos da petista. Dilma precisa de 28 votos para impedir seu afastamento definitivo e teve apenas 21 na sessão do Senado que a tornou ré.

A previsão era a de que a "Mensagem ao Senado e ao Povo Brasileiro" fosse publicada nesta terça, mas senadores do PT e de partidos aliados disseram que não receberam "nenhuma confirmação" de que isso seria feito e ficaram irritados ao saberem que Dilma leria a carta publicamente antes mesmo de eles terem acesso ao conteúdo do documento.

Há semanas aliados reclamam que Dilma "perdeu o timing" da divulgação da carta e que, agora, o texto não terá mais valor em troca de votos no julgamento final do impeachment, marcado para começar em 25 de agosto.

"Não estou sabendo [que Dilma vai divulgar a carta nesta terça]. Não li a carta", afirmou Roberto Requião (PMDB-PR), um dos principais entusiastas do documento. Apesar disso, o senador afirma que "combinou com Dilma" que ela daria uma coletiva quando fosse dar publicidade à carta. Outros senadores, por sua vez, relataram à Folha que não sabiam do formato.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), criticou a intenção da petista de defender a realização de um plebiscito para novas eleições presidenciais. "Na democracia, a melhor saída sempre é a saída constitucional e plebiscito e novas eleições não estão previstos na Constituição. Então isso não é bom", disse ao chegar ao Congresso nesta quarta.

Ex-aliado de Dilma, Renan tem reclamado sobre o momento de divulgação da carta. Apesar de ainda não ter votado no processo de impeachment, ele já declara publicamente seu apoio à permanência de Michel Temer na presidência

AJUSTES

A presidente afastada fez diversas versões do documento que, inicialmente, tinha cinco páginas. Na quarta-feira (10), em almoço com senadores no Alvorada, pediu mais seis dias para finalizar o texto, que contaria com ajustes.

Dilma queria retirar principalmente sugestões do senador Cristovam Buarque (PPS-DF), que opinou sobre o documento, mas acabou fazendo um discurso a favor do impeachment.

A defesa do plebiscito para novas eleições contraria a opinião do presidente nacional do PT, Rui Falcão, que já se declarou publicamente contra a consulta popular.

Um petista definiu a demora e a crise interna com o PT de forma bem-humorada: "Dilma precisa ouvir mais Roberto Carlos: 'cartas já não adiantam mais'".


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