Folha de S. Paulo


Ministros do Supremo fazem lobby em disputa para cadeira no CNJ

Nelson Jr./Divulgação//SCO/STF
Ministro Gilmar Mende na 32ª sessão destinada ao julgamento da Ação Penal (AP) 470. Foto: Nelson Jr./SCO/STF (04/10/2012) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM*** x Concluído o voto do ministro Ricardo Lewandowski, revisor, quanto à imputação de corrupção ativa na Ação Penal 470 Foto: Nelson Jr./SCO/STF (04/10/2012) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Ministros do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski

A disputa por uma cadeira no CNJ (Conselho Nacional de Justiça) entre dois advogados levou ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) a atuar nos bastidores em busca de apoio para seus respectivos apadrinhados.

A escolha do nome caberá ao Senado, o que faz dos parlamentares o alvo das investidas dos principais envolvidos, os ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski.

Cabe ao Supremo julgar congressistas que são alvos de processos na Corte. Hoje, 12 dos 81 senadores que vão participar da escolha para o CNJ são alvos da Lava Jato.

O CNJ funciona como uma espécie de corregedoria de juízes e tribunais do país, com exceção do STF, além de cartórios. Esta última atribuição faz sua atuação alvo de interesses milionários.

A disputa se dá em torno da vaga de Fabiano Silveira, que renunciou ao conselho para ser nomeado ministro da Transparência do governo Michel Temer –ele deixou o cargo após ser flagrado nos grampos do ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado, delator da Lava Jato.

Primeiro nome a se apresentar para o posto, Henrique Ávila, 33, é sócio de Sergio Bermudes, titular de um dos maiores escritórios de advocacia do país, no qual atua a mulher de Mendes, Guiomar.

A relação teria levado o ministro a dar declarações favoráveis a Ávila em telefonemas disparados a senadores com os quais tem proximidade, em legendas como o PSDB e o DEM. O advogado também conseguiu apoio entre siglas como o PP —uma das principais legendas implicadas na Lava Jato— e o bloco liderado pelo senador Fernando Collor (PTC-AL) —também denunciado sob a acusação de participação no petrolão.

Pessoas próximas ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disseram que ele foi um dos que recebeu recomendações a Ávila de Mendes. Publicamente, Renan não declarou preferências na disputa. Ele também é alvo de inquéritos do petrolão.

Informado do teor da reportagem, Mendes negou ter tomado partido na disputa pela vaga ao CNJ e disse que não "apoia nenhum candidato". "O ministro acredita que as indicações do Congresso devem visar o fortalecimento institucional do órgão, com pessoas que engrandeçam o CNJ", declarou, via assessoria.

Ávila também teria se apresentado e pedido apoio a outros ministros do Supremo, como Carmem Lúcia, que assumirá a presidência da Corte em setembro. Segundo integrantes do Judiciário, ele conta com a simpatia do ex-ministro Sepúlveda Pertence, que ajuda nos contatos.

Procurado, Ávila disse que sua candidatura nasceu de uma determinação "pessoal". "Foi uma coisa natural. Sempre tive vontade de atuar no serviço público", afirmou. Ele diz que Bermudes lhe deu bênção para entrar na disputa só quando já havia sentido disposição em fazê-lo.

Ele nega uma atuação de Gilmar Mendes e de sua mulher. O advogado firmou que Guiomar só se manifesta sobre o assunto "quando questionada" sobre o seu nome.

Na outra ponta está o advogado do Senado Octavio Orzari, funcionário de carreira da Casa que, por pouco mais de dois anos, trabalhou no TSE a pedido do ministro Ricardo Lewandowski, hoje presidente do STF.

Ele atuou como assessor parlamentar do ministro na Corte. Orzari foi aluno de Lewandowski na USP, onde se formou. Os relatos são de que a proximidade com o ministro abriu portas para o advogado do Senado entre parlamentares de partidos como o PT, o PC do B e o PSB, que encampou sua indicação.

A atuação de Lewandowski teria se dado de forma mais sutil, já que ele conduz o final do processo de impeachment de Dilma Rousseff.

Por meio de sua assessoria, o presidente do STF também negou ter adotado um dos lados na disputa pela cadeira do CNJ —órgão que está sob seu comando até setembro, quando Carmem Lúcia assumirá. "Não tenho candidato e não cabe ao presidente do CNJ interferir nesse processo. A atribuição da escolha é do Senado", disse.

Pessoas próximas ao ministro contam que, quando perguntado, ele dá boas referências sobre o trabalho de Orzari no período em que ele atuou no TSE, de 2007 a 2009.

Procurado, Orzari se limitou a declarar que considerando sua vida profissional, submeteu seu "currículo à análise dos senadores com o objetivo de colaborar no debate e, se aprovado, no CNJ".

A votação que definirá quem vai ficar com a vaga deve ocorrer em setembro, para um mandato de dois anos. Em outubro abrirá outra vaga, preenchida por indicação da Câmara.


Endereço da página:

Links no texto: