Folha de S. Paulo


Candidatos criticam programa de Haddad para a cracolândia

Diego Padgurschi -28.out.2015/Folhapress
SAO PAULO, BRASIL - 28-10-2015: Integrantes do programa Bracos Abertos da prefeitura de SP durante trabalho de limpeza no bairro de Campos Eliseos. Numero de beneficiados do programa Bracos Abertos cai 25% em um ano. (Diego Padgurschi /Folhapress - (COTIDIANO)
Membros do programa Braços Abertos trabalham em Campos Elíseos, próximo à cracolândia

A maioria dos principais candidatos à Prefeitura de São Paulo não inclui o programa Braços Abertos, criado pelo prefeito Fernando Haddad (PT), entre seus planos para a cracolândia, no centro de São Paulo.

O assunto deve estar entre os mais polêmicos da campanha, que começa oficialmente nesta terça (16).

O programa de Haddad se baseia na redução de danos. Sem internação, o dependente em crack é incentivado, pela oferta de emprego e moradia, a diminuir o uso.

Com exceção do prefeito, a única candidata entre os mais bem colocados nas pesquisas que pretende manter o programa —e ampliá-lo— é a deputada federal Luiza Erundina (PSOL). Ela propõe levar o programa a outras regiões, como o parque D. Pedro 2º.

Apesar de o policiamento ser atribuição do Estado, o líder das pesquisas, o deputado federal Celso Russomanno (PRB), propõe barreiras policiais para revistar quem anda pela região e impedir a entrada de drogas. "Atuarei com coração grande e pulso forte", diz, por e-mail. Ele afirma que trabalhará com o Estado, Ministério Público e OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP, Martim de Almeida Sampaio, critica a proposta. Para ele, o plano criaria um gueto e feriria o direito de ir e vir.

"Se 'checkpoint' funcionasse não entraria droga dentro de presídios", diz. Segundo ele, se a medida entrasse em prática poderia ser derrubada por habeas corpus.

Já o especialista em segurança e coronel da reserva da Polícia Militar, José Vicente da Silva, diz que a ideia é viável, se acompanhada de outras medidas. "Eu já vi isso acontecer em alguns lugares nos Estados Unidos, em que colocaram uma massa de policiais para limpar a área em locais de grande tráfico", diz.

Ele afirma que a medida poderia ser viabilizada por meio da chamada operação delegada, um bico oficial em que policiais trabalham fardados para a prefeitura.

A senadora Marta Suplicy (PMDB) diz que o Braços Abertos não cumpriu o objetivo de reabilitação. Ela quer criar um programa com base na internação dos usuários e restabelecimento dos vínculos familiares, abordagem chamada manejo de contingências.

A internação dos usuários também é a prática adotada no programa Recomeço, do governo Geraldo Alckmin (PSDB). A proposta do tucano João Doria é para a região é focar na parceria com o Estado.

Crítica ao Braços Abertos, a psiquiatra Ana Cecília Marques, da Abead (associação que estuda o álcool e outras drogas), afirma que a eventual interrupção repentina poderia ser prejudicial aos usuários. "Eu consideraria uma transição para avaliação independente do programa. O que fosse bom permaneceria". Para ela, o programa falha quando propõe reinserir os usuários de drogas na sociedade sem desintoxicação.

O psiquiatra Dartiu Xavier, professor da Unifesp e idealizador do Braços Abertos, diz que o foco na internação é tendência abandonada em países democráticos. Afirma que a interrupção do programa seria um "desastre" para os atendidos, que pagariam "o preço das brigas políticas".

Descaminhos da cracolândia

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CRACOLÂNDIA
Propostas dos principais candidatos para a área

Fernando Haddad (PT)
Manter o programa Braços Abertos, que foi ampliado recentemente

João Doria (PSDB)
Estimular o fim do tráfico e valorizar o programa Recomeço, do governo estadual

Celso Russomanno (PRB)
Focar a fiscalização, com barreiras policiais para impedir a entrada da droga. Ele diz que haverá tratamento e acolhimento dos viciados

Luiza Erundina (PSOL)
Ampliar o programa Braços Abertos, levando-o para fora do centro. Também afirma que aprimorará estratégias de trabalho e geração de renda, e habitação, especialmente ex-presos

Marta Suplicy (PMDB)
Adotar estratégia de "manejo de contingência", que inclui abstinência para desintoxicação, atendimento médico e de assistência social e incentivo a retomada dos vínculos familiares


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