Folha de S. Paulo


Histórico da Câmara indica protelação de processo de cassação de Cunha

Pedro Ladeira/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 11-08-2016, 15h00: Plenário da Câmara vazio durante sessão não deliberativa na tarde de hoje. Congresso deve seguir esvaziado nos próximos dias devido às eleições municipais
Plenário da Câmara vazio durante sessão não deliberativa na tarde de quinta-feira (11)

O discurso do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de que haverá quorum alto na votação do processo de cassação do mandato de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no dia 12 de setembro, uma segunda-feira, contraria a praxe na Casa.

Levantamento feito pela Folha mostra que, desde janeiro de 2015, só houve votações em seis ocasiões nesse dia da semana, quando foram analisadas emendas constitucionais, medidas provisórias e projetos de lei –nenhuma teve análise de cassação.

Apenas em uma sessão, o número de deputados votantes superou 400, mesmo quando o painel registrava mais congressistas presentes. Houve outras cinco tentativas de fazer deliberações às segundas, mas em vão.

Rodrigo Maia cedeu a pressões de aliados do peemedebista e marcou o julgamento para 12 de setembro, a 20 dias da eleição municipal, período em que os deputados costumam estar em suas bases para campanha.

O parecer de cassação está há um mês pronto para ir a plenário. Uma sessão esvaziada ou com alto número de abstenções beneficia Cunha, acusado de mentir sobre contas não declaradas na Suíça. Para aprovar a perda do mandato, são necessários os votos de pelo menos 257 dos 512 colegas do peemedebista.

Pressionado em razão da escolha da data, Maia, eleito em julho para o cargo, tem dito que não votará o caso com menos de 400 deputados.

Os números da rotina da Casa mostram ser improvável que esse quorum seja alcançado –o que poderia fazer o presidente da Câmara adiar a votação, atendendo mais uma vez ao desejo dos aliados de Cunha. Eles querem deliberar o tema só em novembro, após as eleições.

Não é costume dos congressistas aparecer em Brasília às segundas. Os poucos que registram presença frequentemente deixam o plenário em seguida para outras tarefas parlamentares.

É com esse hábito que contam os aliados de Cunha.

Desde que o processo passou para a fase final, os "cunhistas" têm trabalhado para esvaziar a sessão.

O líder do governo, André Moura (PSC-SE), saiu em defesa do presidente da Câmara. Destacou que, até as eleições, só haverá mais seis dias de deliberação no plenário, sempre às segundas e terças.

"Cabe aos parlamentares entenderem que as nossas semanas de trabalho começam na segunda. Não vejo problema para dar quórum", diz.

O líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA), concordou com a data, mas defendeu que, não havendo deputados em número suficiente para deliberar, a sessão seja transferida para o dia seguinte, na terça, dia 13, o que não é consenso entre os líderes.

"Se os deputados não aparecerem, vai passando pro dia seguinte, até votar. É um assunto com forte apelo popular e os parlamentares sabem disso", afirmou.

Afastado de suas funções pelo Supremo Tribunal Federal em 5 de maio, o peemedebista protagoniza o processo de cassação mais longo da história da Casa.

Réu em dois processos sob acusação de envolvimento em esquema de desvios na Petrobras, Cunha nega ter mentido aos colegas.

O caso teve início em outubro do ano passado, mas somente em junho deste ano foi aprovado no Conselho de Ética. No dia 7 de julho, ele renunciou à presidência da Casa. Embora não esteja no exercício do mandato, continua recebendo salário, verba de gabinete e ainda tem direito a residir em imóvel funcional da Câmara.


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