Folha de S. Paulo


PSC tenta emplacar outro general na chefia da Funai

Saulo Rolim - 3.ago.16/PSC
Pastor Everaldo, presidente nacional do PSC, recebe movimento indígena que apoia indicação de general
Pastor Everaldo, presidente nacional do PSC, recebe movimento indígena que apoia indicação de general

O presidente nacional do PSC (Partido Social Cristão), Pastor Everaldo (RJ), encaminhou ao Planalto um novo nome de general do Exército para comandar a Funai (Fundação Nacional do Índio). Franklimberg Ribeiro de Freitas, 60, é assessor de relações institucionais do CMA (Comando Militar da Amazônia).

Embora seja um partido da base aliada do presidente interino, Michel Temer (PMDB), o PSC enfrenta problemas para emplacar o nome.

A Folha apurou que a tendência no Planalto é pela rejeição da indicação e que o governo continua atrás de outro nome. Um dos mais cotados é Noel Villas Bôas, formado em direito e filosofia, filho do sertanista Orlando Villas Bôas (1944-2002).

Caso isso ocorra, será a segunda derrota seguida do PSC na mesma área. A última indicação do partido foi a do general Roberto Sebastião Peternelli Júnior, ideia que também naufragou, em julho, após a Folha ter revelado que o militar apoiara, em rede social, o golpe militar de 1964.

Políticos do PSC têm dito que um dos pontos fortes do general Freitas é o fato de ele ser indígena. Uma postagem feita em rede social por um grupo de índios que apoia o militar diz que ele é "da etnia mura do Amazonas".

Procurado pela Folha, o general explicou: "Não sou índio, sou de origem indígena. Minha mãe, avo e bisavó eram indígenas". Ele disse que foi consultado pelo PSC e "aceitou ter seu nome avaliado, mas deve haver outras pessoas sendo avaliadas".

REAÇÃO NEGATIVA

Líderes indígenas e indigenistas disseram desconhecer o general e reagiram negativamente à indicação.

"Não conheço nada dele, nunca ouvi falar. Mas tenho a certeza de que não vai ser uma pessoa ideal para os povos indígenas. Para o Exército, para os militares, nós ainda precisamos ser tutelados pela Funai. A Funai tem que ser o nosso parceiro, não o nosso tutor", disse o índio tucano Maximiliano Menezes, coordenador da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia).

Fidélis Baniwa, coordenador da Coipam (Coordenação das Organizações dos Povos Indígenas do Amazonas), disse que essa é uma indicação partidária, que não tem a ver com os povos indígenas.

Secretário-geral do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), Cleber Buzatto disse que "não conhece e nunca tinha ouvido falar" do general.

Na semana passada, um grupo chamado pelo PSC de movimento independente indígena esteve com o Pastor Everaldo, em Brasília, para manifestar apoio ao general.

Uma foto do encontro divulgada mostra os índios de mãos dadas com o pastor durante uma oração.

Um dos participantes do grupo é Paulo José Ribeiro da Silva, que se apresenta como Paulo Apurinã e foi indiciado pela Polícia Federal, em 2013, sob acusação de ter fraudado um Rani (Registro Administrativo de Nascimento de Indígena).

A PF informou, na época, que não havia dados genealógicos e estudos antropológicos que pudessem confirmar a origem indígena de Apurinã, além de os próprios índios ouvidos como testemunhas terem negado a origem dele e de sua mãe. Ele não foi localizado para comentar seu apoio ao general.

Sem presidente desde maio, quando Dilma Rousseff foi afastada, a Funai é presidida por um substituto, Artur Nobre Mendes.

Antropólogo e servidor de carreira da Funai, Mendes tem apoio de boa parte do quadro de funcionários, tendo presidido o órgão em 2002, no governo FHC.

A Funai vive, nos últimos anos, um processo de esvaziamento. Em 2012, sua força de trabalho total era de 3.133 servidores, número que caiu para 2.769 em 2014.


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