Folha de S. Paulo


Haddad terceiriza ataques a Marta Suplicy, sua principal adversária

Lucas Lima/UOL/Folhapress
O prefeito Fernando Haddad (PT) durante sabatina realizada por Folha, UOL e SBT, na capital paulista, nesta terça-feira
O prefeito Fernando Haddad (PT) em sabatina realizada por Folha, UOL e SBT

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), terceirizou os ataques à senadora Marta Suplicy (PMDB), vista pelo partido como sua principal opositora no cenário eleitoral, junto com Celso Russomanno (PRB).

Enquanto o candidato à reeleição evita as críticas diretas à ex-prefeita pelo PT, lideranças regionais do partido, além do ex-senador e ex-marido de Marta, Eduardo Suplicy, estão incumbidos de desconstruir as principais bandeiras deixadas por ela, que serão usadas em sua campanha para tentar voltar ao comando da administração municipal.

A ideia é dizer que os CEUs (centros de educação unificada), o Bilhete Único e corredores de ônibus entregues pela ex-petista são conquistas do partido e não da ex-prefeita, que governou a cidade de 2001 a 2004.

Marta deixou o PT em 2015 para se filiar ao PMDB do presidente interino, Michel Temer. Ela votou a favor do impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff.

Os ataques a Marta são frequentes em plenárias de prestação de contas realizadas em bairros da periferia nas últimas semanas, sempre na presença de Haddad e de seu vice, Gabriel Chalita (PDT).

É justamente nessas áreas que o PT busca recuperar seus votos e onde a ex-prefeita é bem aceita.

No último fim de semana, Haddad esteve em eventos em Cidade Dutra e Interlagos, na zona sul. Nos dois dias, vereadores e líderes sindicais acusaram Marta de "mudar de lado" e se juntar ao presidente interino Michel Temer (PMDB).

Na quinta-feira retrasada, as críticas aconteceram no Itaim Paulista.

Haddad segue orientação do ex-presidente Lula ao não atacar nem Marta nem Luiza Erundina (PSOL), primeira prefeita petista da cidade (1989 a 1992).

A recomendação aconteceu na convenção do PT municipal que lançou a candidatura de reeleição.

Minutos antes do discurso de Lula, porém, o presidente municipal do partido e coordenador da campanha, Paulo Fiorilo, já havia atacado Marta, acusando a ex-colega de partido de trocar de lado e fazer parte do que chamou de retrocesso: a chegada de Temer à Presidência.

Na última sexta-feira (5), o ex-senador Eduardo Suplicy, que é a principal aposta do PT para eleger uma bancada de vereadores forte na Câmara de São Paulo, gravou um vídeo em provocou a ex-prefeita, pedindo para que Marta "faça uma reflexão" sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

"Escrevi à Marta pedindo que ela lembre de todas as coisas de que participou como companheira do PT, tendo merecido a confiança da presidenta Dilma, que a designou ministra da Cultura", disse em vídeo publicado na página do PT no Facebook.

Fiorilo disse à Folha que não há orientação para intensificar críticas à ex-prefeita. "Nossa campanha será de apresentar propostas e mostrar os feitos da gestão de Haddad", disse o petista.

Organizador da plenária ocorrida em Interlagos, o vereador e ex-líder do PT na Câmara, Alfredinho Cavalcante, afirmou que os ataques a Marta são inevitáveis.

"A militância está revoltada com a Marta. E sabemos que ela também vai bater na gente", disse.


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