Folha de S. Paulo


Em vídeo, estudante e assessor de Feliciano falam de dinheiro

Patrícia Lélis conversa com chefe de gabinete de Feliciano

Patricia Lélis conversa com assessor do deputado Marco Feliciano (PSC-SP); leia abaixo a transcrição do diálogo

Vídeo obtido pela Folha mostra a estudante de jornalismo Patricia Lélis conversando com o chefe de gabinete do deputado Marco Feliciano (PSC-SP), Talma Bauer, sobre pagamento de valores.

Lélis acusa Feliciano de tentar estuprá-la e, depois, de tentar comprar seu silêncio. O deputado nega as duas acusações.

Ela também acusa Bauer de mantê-la em cárcere privado e coagi-la a gravar os vídeos que publicou em redes sociais inocentando o deputado, o que o assessor do parlamentar nega. Na quinta-feira (5), Bauer chegou a ser detido em São Paulo, mas foi liberado horas depois, após prestar depoimento.

Para a polícia, o vídeo mostraria que, na verdade, a estudante é quem pedia propina. A conversa gravada, porém, não deixa isso explícito.

"Tem interesse dos dois, mas na gravação ela pede dinheiro", afirma o delegado Luís Roberto Hellmeister, do 3º DP (Campos Elíseos). O delegado afirmou que indiciará a jovem por tentativa de extorsão e falsa comunicação de crime. Bauer também deve ser indiciado ao final do inquérito, diz ele.

A imagens foram feitas no hotel em São Paulo onde Lélis e Bauer se encontraram, no dia 30 de julho. O autor da gravação, feita de forma escondida, foi Emerson Biazon, que acompanhava Lélis em São Paulo e que também participou da conversa.

Segundo o diálogo, Bauer relata ter entregado R$ 50 mil a um emissário de Lélis, chamado Artur Mangabeira, que seria namorado de uma amiga virtual de Lélis –as duas se conhecem apenas pela internet. Mangabeira teria se oferecido para ajudar Lélis dizendo ser agente da Abin e teria negociado com Bauer em nome dela. Mas o emissário a teria enganado.

"Aí você vai falar com o Artur [Mangabeira], dar uns tapas nele", diz a estudante a Bauer.

"Com esse dinheiro dá pra você se resolver?", pergunta ele. "Os R$ 10 [mil]", diz Lélis.

"Não, eu dei R$ 50 [mil] pra ele", responde Bauer.

Neste momento, a estudante parece surpresa. "O quê? Não, ele falou que você deu R$ 10 mil."

Ela então diz que vai se vingar de Mangabeira. "Bauer, eu vou enfiar a cara dele no chão. [...] Me promete que você vai fazer alguma coisa com ele", pede ela ao chefe de gabinete de Feliciano, fazendo um cumprimento com a mão.

"Eu não vou matar ele, mas eu dou um nó nele, alguma coisa eu faço", responde o chefe de gabinete.

O CASO

Em boletim de ocorrência registrado neste domingo (7), Lélis acusou Feliciano de assédio sexual e tentativa de estupro, que ocorreram, segundo ela, no dia 15 de junho no apartamento funcional do parlamentar na capital federal.

Em entrevista coletiva na segunda (8), Lélis afirmou que o presidente nacional do PSC, Pastor Everaldo (RJ), ofereceu dinheiro para que ela não fizesse denúncias contra Feliciano.

Lélis afirmou que Everaldo e Bauer lhe ofereceram dinheiro quando ela procurou ajuda do PSC a respeito das acusações que pretendia fazer contra Feliciano. Ela disse que é filiada ao PSC desde março passado.

Biazon, porém, apresentou outra versão em seu depoimento. Ele afirmou que jovem aceitou receber dinheiro para inocentar Feliciano. A Folha teve acesso ao depoimento, em que o assessor afirma ter recebido R$ 20 mil de Bauer, cujo destino final seria Lélis, que sabia do acordo.

OUTRO LADO

O advogado de Patrícia Lélis, José Carlos Carvalho, afirmou à Folha que a jovem não recebeu valores de Bauer e que todos os vídeos feitos com a presença do chefe de gabinete de Feliciano foram gravados sob ameaça e em cárcere privado. "Se ela recebeu dinheiro, por que não estava de posse dela?"

Bauer não foi localizado pela reportagem.

Feliciano gravou vídeo negando que tenha agredido Lélis. Segundo ele, o caso é "uma grande farsa" e a "verdade virá a tona".


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