Folha de S. Paulo


Empresa de remédios acusa Delcídio do Amaral de tentativa de extorsão

Pedro Ladeira - 3.jun.15/Folhapress
BRASÍLIA, DF, 03.06.2015, 17H00: DELCÍDIO AMARAL - O líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral (PT-MS), durante sessão deliberativa no plenário do Senado, em Brasília (DF). (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)
O ex-senador Delcídio do Amaral em sessão no plenário do Senado, em Brasília

Citada na delação do ex-senador Delcídio do Amaral, a EMS, maior fabricante de medicamentos do país, apresentou defesa na semana passada em que acusou o ex-petista de ter tentado extorqui-la, ameaçando-a para que pagasse uma dívida de campanha dele de R$ 1 milhão.

De acordo com a empresa, Delcídio usou seu prestígio como senador e sua suposta proximidade com a presidente hoje afastada, Dilma Rousseff, para fazer pressão.

A investigadores da Lava Jato Delcídio disse que, em 2014, tinha uma dívida deixada por sua campanha derrotada ao governo de Mato Grosso do Sul e que procurou o ex-ministro Edinho Silva, que fora tesoureiro da campanha de Dilma, para quitá-la.

Ainda segundo Delcídio, Edinho orientou-o a pedir às empresas credoras para apresentarem notas fiscais em que figurasse como tomadora de serviço a EMS, que faria o pagamento. As credoras eram duas agências de comunicação: a FSB e a Black Ninja.

O ex-senador disse, na delação, que essas duas agências emitiram as notas fiscais –R$ 500 mil cada. Porém, segundo ele, ao surgirem na mídia notícias de envolvimento da EMS com a Lava Jato, as próprias agências tiveram receio e cancelaram as notas, arcando com o prejuízo.

A EMS rebateu as acusações, em documento assinado por seu advogado criminalista, Fernando José da Costa, enviado à 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília, onde tramita uma apuração preliminar contra Edinho baseada na delação de Delcídio.

A apuração foi remetida pelo STF (Supremo Tribunal Federal) à primeira instância após Edinho deixar a Secretaria de Comunicação de Dilma e perder o foro privilegiado.

Na versão da EMS, um assessor de Delcídio, identificado como Diogo, procurou um diretor da farmacêutica no final de 2014 e pediu à empresa para quitar a dívida.

Diante de uma negativa, ainda conforme a EMS, o assessor tentou intimidar o diretor: "Você sabia que Delcídio é senador e amigo pessoal da presidente da República?"

Dias após essa conversa, o diretor recebeu as notas por e-mail. A EMS sustenta que não pagou, o que teria levado ao cancelamento das notas.

A farmacêutica argumenta que seu nome já havia sido vinculado à Lava Jato em abril de 2014, na primeira fase da operação, em episódio envolvendo a Labogen, ligada ao doleiro Alberto Youssef.

"Antes da própria emissão das notas frias, a peticionária [EMS] já havia aparecido na mídia, caindo por terra a afirmação de Delcídio de que essas empresas [FSB e Black Ninja] optaram por cancelar tais notas em razão do surgimento de escândalos", diz.

O trecho da delação de Delcídio sobre a EMS chamou a atenção de investigadores para um eventual novo filão de propinas: o setor de saúde.

A Procuradoria da República no Distrito Federal informou que o caso está em análise.

OUTRO LADO

A advogada de Edinho Silva, Maíra Beauchamp Salomi, disse que ainda não teve acesso às afirmações da EMS e, por isso, não comentaria.

A defesa do ex-senador Delcídio do Amaral não respondeu até a publicação desta reportagem.

Em nota, a FSB Comunicação afirmou apenas que nunca recebeu recursos da EMS, "empresa que jamais foi cliente da agência", e disse que processa o PT de Mato Grosso do Sul por causa da dívida.

A Folha não localizou a representante da Black Ninja nem o advogado da EMS.


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