Folha de S. Paulo


Aliança entre PMDB e PSD em SP vira ensaio para eleições de 2018

Jefferson Rudy/Agência Senado e Suamy Beydoun - 5.mai.2016/Futura Press/Folhapress
A senadora Marta Suplicy, que disputará a prefeiturae o vereador Andrea matarazzo, que será vice de Marta
Senadora Marta Suplicy, candidata à Prefeitura de São Paulo, e seu vice, vereador Andrea Matarazzo

A união de Marta Suplicy (PMDB) e Andrea Matarazzo (PSD) na disputa pela Prefeitura de São Paulo é o primeiro passo para a formação de um novo grupo que pretende romper a polarização entre o PT e o PSDB.

A estratégia visa não só a capital paulista, mas também o cenário nacional, de olho nas eleições presidenciais de 2018.

Esse diagnóstico é repetido por aliados da peemedebista e do pessedista, e também por ministros do governo do presidente interino, Michel Temer (PMDB), que teve papel de proa na costura da aliança entre Marta e Matarazzo.

Para conseguir o acordo, Temer atuou ao lado de outros dois pesos-pesados neste xadrez político: o chanceler José Serra (PSDB) e o ministro das Comunicações, Gilberto Kassab (PSD).

Serra, que é amigo de Matarazzo há décadas, aconselhou-o a buscar a aliança como forma de ter mais chances na disputa paulistana e também falou com Marta diversas vezes, intermediando os primeiros contatos.

Ex-tucano, Matarazzo havia trocado de partido depois de mais de 20 anos de militância para poder ser candidato. Decidiu abrir mão e ser vice de Marta depois de se ver isolado na corrida eleitoral, sem alianças consistentes e com poucos recursos para tocar a campanha.

Ao presidente Michel Temer coube o aceno final na direção do pessedista, dado num telefonema no qual disse que o acordo seria bem-vindo e saudável para o ambiente político.

A corte deu certo e, nesta quarta-feira (27), Marta resumiu o modo como sua campanha tentará vender a aliança com Matarazzo para o eleitorado, num vídeo no qual convidou aliados para a convenção que oficializará sua candidatura.

"É uma fusão de alguém que foi do PT, mas as coisas boas estão no coração, e alguém que foi do PSDB, e traz uma experiência boa em relação à cidade. É uma fusão por São Paulo", disse.

Ao aproximar Matarazzo do PMDB, Serra deu mais um aceno na direção do partido ao qual se aliou desde que se elegeu senador, em 2014.

Hoje ministro de Temer, o chanceler desponta como presidenciável para 2018 e, segundo rumores, pode no futuro deixar o PSDB para se lançar ao Planalto por outro partido, inclusive o PMDB.

Na outra frente, Kassab, presidente do PSD, partido que abrigou Andrea Matarazzo, também fez um movimento definitivo para o presidente interino ao patrocinar a aliança entre seu partido e o PMDB paulistano.

Ex-prefeito de São Paulo e até então adversário político de Marta, Kassab conseguiu transitar do governo da presidente afastada Dilma Rousseff para a gestão Temer sem perder o status de ministro.

Também muito próximo a Serra, tem ainda nas fileiras de seu partido o outro nome que desponta como opção para a eleição presidencial em 2018, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

Ao demonstrar lealdade ao projeto de Temer para São Paulo, Kassab busca espaço definitivo entre os principais homens de confiança do presidente interino.

ALERTA NO PSDB

Num desenho inicial, a aproximação de PMDB e PSD, com Temer e Kassab à frente, ambos amigos de Serra, poderia favorecer uma costura que levasse o hoje tucano a ser candidato ao Planalto por um desses dois partidos.

Esse arranjo abriria caminho para que outro aliado do interino que participou das negociações pela aliança de Marta e Matarazzo saísse candidato ao governo de São Paulo: o presidente da Fiesp, Paulo Skaf. Kassab poderia compor como vice de Skaf, ou candidato ao Senado.

A costura acendeu o alerta na cúpula do PSDB, que já vinha monitorando a aproximação de Serra com o PMDB e viu, na aliança entre Marta e Matarazzo, o primeiro resultado efetivo do alinhamento.

ARTICULAÇÃO

A nova chapa afeta a articulação conduzida pessoalmente pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), para fazer do empresário João Doria (PSDB-SP) o candidato dos tucanos à prefeitura paulistana.

O plano para levar a chapa Marta-Matarazzo ao segundo turno prevê que a ex-petista consiga manter sua influência na periferia, e Matarazzo ajude-a a entrar no chamado "centro-expandido", mais alinhado aos tucanos, rachando o público de Doria.

Geraldo Alckmin divide com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) o posto de principal aposta dos tucanos para as próximas eleições presidenciais.

Serra é visto como uma espécie de "terceira via" improvável dentro do partido, asfixiado entre os grupos do governador paulista e do parlamentar mineiro.


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