Folha de S. Paulo


Erundina diz que vai refazer licitação de ônibus criada por Haddad em SP

Lucas Lima/UOL
Sabatina com a deputada federal Luiza Erundina, candidata do PSOL à Prefeitura de São Paulo
Sabatina com a deputada federal Luiza Erundina, candidata do PSOL à Prefeitura de São Paulo

A candidata à Prefeitura de São Paulo e deputada federal Luiza Erundina (PSOL) criticou os planos de privatizações e concessões de equipamentos públicos defendidos por seus adversários na disputa municipal, classificando as propostas como parte de uma "sanha privatista".

O comentário, feito durante sabatina promovida pela Folha, pelo UOL e pelo SBT, foi dirigido especialmente ao tucano João Doria, que prometeu privatizar de corredores de ônibus ao autódromo de Interlagos.

"É bom perguntar para esse candidato [Doria] se ele pretende privatizar a cadeira de prefeito também", provocou a candidata, que aparece em terceiro lugar na última pesquisa do Datafolha, atrás de Celso Russomanno (PRB) e Marta Suplicy (PMDB).

AS SABATINAS

Erundina também criticou o prefeito Fernando Haddad (PT), que anunciou neste mês um edital para construção e concessão de uma arena multiuso no Anhembi.

"O prefeito Haddad está concedendo tudo o que é serviço público, daqui a pouco a Prefeitura vai virar só uma arrecadadora de impostos", afirmou.

Para a ex-prefeita de São Paulo (1989-1993), se a administração precisa de mais dinheiro, pode recorrer a opções melhores do que as concessões, como auditar a dívida da cidade, cobrar impostos atrasados e reduzir a sonegação fiscal.

Luiza Erundina - Ex-prefeita é popular entre os mais velhos e tem 10% das intenções de voto (3º lugar)

Por idade (em %)

"A verdade é que não se tem coragem de cobrar os grandes devedores, há uma conivência do poder público em todas as esferas", disse a candidata do PSOL.

Ela defendeu ainda o aumento de impostos sobre herança e propriedade dos mais ricos, argumentando que "quem tem mais, tem que contribuir mais".

CONCESSÃO DE ÔNIBUS

Erundina também disse que, se for eleita, vai rever o modelo de concessão do serviço de ônibus elaborado pela gestão Haddad.

A deputada afirmou que a licitação, que tem validade prevista de 20 anos, é falha porque engessa a administração da cidade e deixa a fiscalização dos serviços na mão das próprias empresas privadas que os executam.

"Essa licitação não pode perseverar porque destoa de toda uma política que existe no mundo sobre como se estabelecer contratos de prestação de serviço. A dinâmica de uma cidade não comporta um contrato congelado por 20 anos. Na Inglaterra, por exemplo, essas concessões têm duração de cinco anos e a cada ano 20% do serviço é licitado", afirmou.

Na sabatina desta terça (26), Haddad afirmou que, por conta da proximidade das eleições, não assinará a licitação, no valor de R$ 140 bilhões - a tarefa caberá ao próximo prefeito.

Erundina, que já foi filiada ao PT, disse que, se eleita, irá manter os programas de governos anteriores que são aprovados pela população. Provocada a dar exemplos de bons projetos das gestões de Marta, também ex-petista, e Haddad, ela citou os CEUs –"uma proposta interessante, mas que tem um padrão que não é seguido pelo resto da rede municipal"– e as ciclovias –"que devem ser ampliadas e planejadas".

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MARTA, HADDAD E PT

Erundina disse que, se eleita, irá manter programas de governos anteriores que são aprovados pela população. Provocada a dar exemplos de bons projetos das gestões de Marta Suplicy e Fernando Haddad, ela citou os CEUs –"uma proposta interessante, mas que tem um padrão que não é seguido pelo resto da rede municipal"– e as ciclovias –"que precisam ser ampliadas e melhor planejadas".

Ela se negou a dizer se apoiaria o petista em um eventual segundo turno para "unir a esquerda". "Que esquerda? O PT fez tantas concessões que não pode dizer que é de esquerda, se é que já foi um dia", declarou, fazendo a ressalva de que o partido tem "pessoas de esquerda".

JOVENS

A deputada federal admitiu que um dos problemas de sua campanha é se tornar mais conhecida entre o público jovem –pesquisa Datafolha mostrou que a psolista vai melhor entre os eleitores com mais de 60 anos.

"Eu estive no governo há 27 anos, os jovens não têm essa memória. Mas temos conseguido trazê-los para a campanha nas rodas de conversa que promovemos. Mas nossas propostas já dialogam com esse público. O Movimento Passe Livre [que liderou os protestos de junho de 2013], por exemplo, surgiu de uma proposta de quando eu era prefeita", afirmou.

RAIZ x PSOL

Erundina se desfiliou do PSB para entrar no PSOL no começo deste ano, mas também articula a criação de um novo partido, o Raiz. Questionada, ela negou que esteja usando o PSOL como "trampolim" para se eleger enquanto não consegue as assinaturas para fundar sua própria sigla.

"Eu não fui para o PSOL para ser candidata, foi por afinidade ideológica –me identifico com a atuação de sua bancada, pequena, mas aguerrida. [A candidatura à Prefeitura] Aconteceu porque houve uma pressão dos movimentos sociais e do próprio partido nesse sentido", disse.

A ex-petista admitiu que há um número exagerado de partidos no país, mas disse que o maior problema é a proliferação daqueles "que não representam nada" e se disse contrária à adoção de regras para limitar o número de siglas. "Sou contra cláusula de barreira, quem faz a barreira é o eleitor."

UBER

A deputada federal se mostrou a favor da regulamentação de serviços como o Uber, argumentando que "a tecnologia é irreversível", mas disse que a questão não pode ser tratada como uma disputa entre taxistas e motoristas de aplicativos. "Como prefeita, vou pôr os dois lados para conversar, vou civilizar isso".

IMPEACHMENT

A deputada federal voltou a dizer que o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff é um golpe articulado pelo presidente interino Michel Temer, mas criticou a gestão da petista.

"Dilma não caiu porque perdeu apoio no Congresso, mas porque não exerceu seu poder com legitimidade, não fez aliança com o povo", disse.


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