Folha de S. Paulo


Ceticismo contamina clima eleitoral em Curitiba

Letícia Naús/Folhapress
CURITIBA, PR, 17-04-2016 - Manifestante pro impeachment naa ruas de Curitiba ( Foto: Letícia Naús/Folhapress, PODER )
Manifestação pelo impeachment em Curitiba no mês de abril

A campanha eleitoral ainda nem começou e os carros em Curitiba já estão cheios de adesivos –mas não de apoio a candidatos.

Na cidade-sede da Operação Lava Jato, é a investigação policial que se destaca nos para-choques, acrescentando um concorrente à disputa: o ceticismo do eleitor.

Enquanto a operação desmonta um enorme esquema de corrupção, políticos já estimam que o índice de abstenção na cidade, somado a votos brancos e nulos, atinja um patamar recorde de 30% –a média histórica é de 15%.

O atual prefeito, Gustavo Fruet (PDT), diz enfrentar "uma batalha perdida" na comunicação, contra um nível de criticismo do cidadão e criminalização da política "sem precedentes".

"Nada presta, ninguém serve, todo mundo é bandido; é isso que se ouve", comenta o deputado estadual Tadeu Veneri (PT), também pré-candidato à prefeitura.

Na primeira pesquisa eleitoral, divulgada na semana passada pelo Ibope, os brancos e nulos chegaram a 20%. Na eleição de 2012, o índice era de 9% na mesma época.

"Aqui, o eleitor não aprova ninguém", comenta o deputado estadual Requião Filho (PMDB), outro pré-candidato, sobre os baixos índices de popularidade de presidente, governador e prefeito.

A cidade, que reuniu 200 mil pessoas nos protestos pelo impeachment em março, ainda sedia um movimento nacional pela "inelegibilidade automática", que ganhou musculatura pós-Operação Lava Jato.

O objetivo é impedir uma nova candidatura de qualquer pessoa por pelo menos dez anos, após sua eleição.

Dessa forma, a renovação das lideranças políticas seria estimulada.

O lema do Pina (Partido da Inelegibilidade Automática) é "Política não deveria ser profissão" –frase que divide espaço com os adesivos em apoio à Polícia Federal.

"Eu queria que Curitiba fosse mais que a masmorra do Brasil, com todo respeito ao juiz Sergio Moro", diz o pré-candidato e ex-prefeito Rafael Greca (PMN).

Para ele, que disputa a liderança nas pesquisas junto com Fruet e Requião Filho (todos têm cerca de 20% das intenções de voto), a eleição será uma oportunidade para o curitibano "reconstruir sua relação com a política", com o debate de pautas locais.

FALTA DE ALTERNATIVAS

Também estão entre os pré-candidatos à prefeitura a deputada Maria Victória (PP), o deputado Ney Leprevost (PSD) e Xênia Mello (PSOL). Nenhum deles ultrapassa 5% nas pesquisas até aqui.

Na opinião do cientista político Emerson Cervi, professor da UFPR, a falta de alternativas fortes em oposição aos candidatos tradicionais, num momento de desgaste da política, ajuda a aumentar os votos brancos e nulos.

"Nenhum dos candidatos empolgou até agora", avalia Murilo Hidalgo, diretor do Instituto Paraná Pesquisas. Para combater o ceticismo na cidade, os candidatos apostam na campanha corpo a corpo (que ajudaria a minar a desconfiança do eleitor), no debate de temas locais e no discurso da transparência e honestidade.

Quem estiver fora das investigações da Lava Jato sai em vantagem –nenhum dos pré-candidatos foi diretamente envolvido na operação até agora.


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