Folha de S. Paulo


Esquema pagou dívida de Paulo Ferreira, diz delator da Custo Brasil

Luiz Carlos Murauskas - 22.out.2005/Folhapress
ORG XMIT: 550801_1.tif Escândalo do
Paulo Ferreira, então tesoureiro do PT

O ex-vereador petista de Americana (SP) Alexandre Romano, o Chambinho, principal delator de uma das operações decorrentes da Lava Jato, disse em depoimento que dinheiro desviado do Ministério do Planejamento foi usado para pagar dívidas de campanha do ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira.

A delação integra as investigação da Operação Custo Brasil, deflagrada em junho.
Segundo Chambinho, após as eleições de 2014, Ferreira procurou seu sucessor, o então tesoureiro João Vaccari Neto, pedindo ajuda para quitar dívidas de campanha.

Ferreira disputou o cargo de deputado federal pelo PT gaúcho. Teve 43.787 votos, mas não conseguiu se eleger.

Vaccari pediu para Ferreira procurar Chambinho para que o ex-vereador passasse a destinar dinheiro da Consist, empresa contratada pelo Planejamento que desviava dinheiro de contratos de empréstimo consignado, para firma indicada por Ferreira.

O valor seria debitado de metade do que ia para o ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo e seu advogado Guilherme Gonçalves, também acusados de se beneficiar do esquema.

Para receber, segundo Chambinho, Ferreira indicou o escritório Portanova Advogados, que prestava serviços jurídicos ao petista.

O delator disse ainda que o escritório foi escolhido em razão de um empréstimo que teria sido feito a Ferreira.

Seriam repassados mensalmente para o Portanova R$ 60 mil, sendo metade para abater dívidas e a outra metade para pagamento de despesas pessoais. Segundo o depoimento, foram repassados "três ou quatro parcelas de R$ 60 mil".

Chambinho disse que depois de a empresa Jamp, que também participava do esquema, ter sofrido busca e apreensão na Lava Jato, executivos da Consist passaram a temer fazer repasses sem serviços que os justificassem. Mesmo assim, nada foi alterado nos contratos.

Chambinho disse que, em 2012, uma pessoa com relações com empresas da rua 25 de março, em São Paulo, cujo nome ele disse não lembrar, ajudou-o a lavar dinheiro ao lhe fornecer notas fiscais frias de diversas empresas da região.

O ex-petista então usou as notas para simular prestações de serviços para a Consist. As notas, segundo a delação, eram "no valor de R$ 100 mil cada nota aproximadamente, talvez no total de R$ 300 mil".

A Consist depositou diretamente os valores das notas na conta dessas empresas e, em seguida, a pessoa responsável pela operação levou o dinheiro em espécie até o escritório de Chambinho.

O ex-vereador disse que o dinheiro vivo foi entregue posteriormente para Ferreira e Nelson Freitas, ex-funcionário do Planejamento.

OUTRO LADO

O advogado José Roberto Batochio, responsável pela defesa do ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira, foi procurado pela reportagem e não comentou as acusações feitas na delação do ex-vereador e ex-petista Alexandre Romano, o Chambinho.

A advogada Verônica Sterman, defensora do ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo afirmou: "O ministro é inocente das acusações e provará que não se beneficiou direta ou indiretamente de qualquer quantia relacionada à empresa Consist".

Paulo Bernardo foi ministro do Planejamento do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ocupou as Comunicações sob a petista Dilma Rousseff.

A defesa de Guilherme Gonçalves, sob responsabilidade do advogado Rodrigo Rios, não retornou o contato da reportagem.

A Folha não conseguiu fazer contato com o advogado de Nelson Freitas, ex-funcionário do Ministério do Planejamento.

Procurada, a defesa de Alexandre Romano, o Chambinho, disse que não iria se manifestar.


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