Folha de S. Paulo


Senador reclamava de problema de telefonia a 'chefe' de operadora

Andre Borges - 17.jul.12/Folhapress
O senador Walter Pinheiro (PT-BA), relator da medida provisória que cria compensações para as mudanças no ICMS
O senador licenciado Walter Pinheiro (sem partido), hoje secretário na Bahia

Revoltado com os problemas com a sua operadora de telefonia, o senador baiano Walter Pinheiro resolveu tomar uma atitude drástica: dar uma bronca no "chefe" da empresa, com quem tinha proximidade e negociava doações eleitorais.

"Onde estão os megabytes prometidos? Reclamar de quem, a quem e pra quem???? Como sofre o usuário comum!", diz uma mensagem de Pinheiro, hoje licenciado do Senado e titular da Secretaria da Educação da Bahia, para Otávio Marques de Azevedo, que era presidente da holding da Andrade Gutierrez, uma das controladoras da Oi até 2014.

As conversas estão em interceptações telefônicas anexadas a inquéritos da Operação Lava Jato. Azevedo foi preso há um ano na operação e hoje é delator.

O tormento de Pinheiro, ex-petista e hoje sem partido, começou em março de 2014. Em mensagem, ele diz que estava sem telefone havia 48 horas.

"Os 'técnicos' da Oi tentam me enrolar com conversa do tipo 'tire a bateria', 'tire o cartão', configuração, 'procure operadora' e mais e mais coisas absurdas", afirmou, segundo um trecho do relatório.

Duas semanas depois, o senador voltou a reclamar e "ameaçou" mudar de operadora e criticar a Oi em mensagens para todos os seus conhecidos, incluindo "membros do conselho da Anatel" (Agência Nacional de Telecomunicações). "Se com um senador, oriundo da Oi, é assim, imagine o pobre cliente."

Pinheiro é técnico em telecomunicações, fez sua carreira como sindicalista e trabalhou na antiga estatal baiana Telebahia, da qual a Oi é a sucessora.

Na semana seguinte à primeira reclamação, o senador disse que, sem acesso à internet, estava obrigado a usar o velho SMS "de carroça". "Por hora [sic] vou me virando com um telefone da Vivo."

O tom das respostas de Azevedo era sempre de humildade, embora fosse um dos principais empresários do país e um dos maiores financiadores de campanha.

O empreiteiro pediu uma chance para "virar o quadro" e disse que era brasileiro e não desistia nunca. "Aceite conversar para tentarmos curar estes problemas."

O relatório das conversas mostra que o empreiteiro de fato se esforçava. Repassava as reclamações do político e cobrava "uma solução com urgência" –em mensagem com letras maiúsculas.

EM CAMPANHA

As conversas mostram uma série de ocasiões em que o político e o empreiteiro combinavam reuniões. Azevedo chama o baiano de "meu senador predileto" e faz um trocadilho nas festas de final de ano em 2012: "Natal é hora de cada um ter o seu PINHEIRO por perto para celebrar."

Naquele mesmo ano, os dois discutiram doações para a campanha do então candidato petista em Salvador, Nelson Pellegrino.

Procurado pela Folha, o atual secretário estadual diz que conhece o empreiteiro há décadas, desde quando Azevedo dirigia a estatal mineira Telemig. Diz que a relação com ele não era inadequada.

Também conta que pressionava por melhorias na empresa porque já tinha sido funcionário dela, após a privatização das companhias telefônicas.

"Eu dei uma esculhambada dizendo que, se todo brasileiro tivesse o telefone do presidente da Oi, estaria resolvido o problema", disse.

A reportagem procurou a Oi, que preferiu não se manifestar sobre o caso.


Endereço da página: