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Filho de Eduardo Campos trabalha para seguir a trajetória do pai

André Nery - 18.fev.16/JC Imagem/Folhapress
João Campos, filho de Eduardo, discursa em posse como chefe de gabinete do governo de PE
João Campos, filho de Eduardo, discursa em posse como chefe de gabinete do governo de PE

Sobrenome de família política tradicional e salário de R$ 8.100 como chefe de gabinete do governo de Pernambuco. Filho mais velho do governador Eduardo Campos, morto em acidente de avião em 2014, João Campos, 22, tem sido preparado pelo PSB para ser vitrine do partido copiando a trajetória do pai.

Há cinco meses, assumiu o cargo na gestão do governador Paulo Câmara (PSB) e lida diariamente com demandas de prefeitos e políticos do Estado, numa sala próxima à do governador. Entre 1987 e 1990, Eduardo ocupou o mesmo cargo no Estado, na gestão do avô Miguel Arraes.

Em eventos e no gabinete, é alvo de selfies de pernambucanos saudosos do ex-governador e de jovens, que até montaram fã-clube.

Apesar da ambição de preencher o vácuo político deixado pelo pai, João ainda é conhecido por seu perfil tímido, que se desfaz ao assume o microfone nos atos. Ele copia os trejeitos do pai nos gestos e discursos.

"Enquanto os jovens do rico, do pobre, do trabalhador, do empresário, enquanto eles não estudarem na mesma escola, nós não teremos o Brasil que queremos", disse João em maio, em inauguração de uma escola técnica em São Lourenço da Mata.

A frase foi usada pelo ex-governador em entrevista ao "Jornal Nacional", em 2014, quando concorria à Presidência da República.

MÃE

A viúva do ex-governador e mãe de João, Renata Campos, exerce sobre o filho o mesmo papel de conselheira que teve com o marido.

Os comentários de bastidores são de que ela pediu ao filho para concluir o ensino superior e depois pensar em disputa política. João se forma neste ano em engenharia civil pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).

No Palácio do Campo das Princesas, sede do governo estadual, é difícil encontrar quem se disponha a conversar sobre a atuação dele na chefia de gabinete. Só elogios é que são fáceis de extrair. "Dedicação", "foco" e "disciplina" são alguns deles.

"Ele tem tudo para ser um político melhor do que Eduardo foi. Eduardo era muito acelerado e impulsivo e quem o regulava era Renata. João é mais calmo, ponderado, disciplinado, características da mãe", contou uma pessoa próxima à família.

TIETES

Nos discursos de João ouve-se gritos estridentes do público feminino. Mas, além das admiradoras dos olhos azuis, parecidos com os do pai, há quem se aproxima para externar solidariedade com a morte trágica do governador.

Os seguidores nas redes sociais são assíduos. Há até perfis e fã-clubes em redes sociais criados para disseminar imagens da família.

João namora há quatro anos com uma colega de curso, Lara Santana, 23, filha de um prefeito e de uma deputada estadual.

Eles começaram a namorar na faculdade –assim como ocorreu com Eduardo e Renata, quando cursavam economia na UFPE.

Reservado, o casal costuma ir a eventos em família ou festas de políticos, e está presente nas colunas sociais e festas badaladas do Recife.

'POLÍTICO DE PROVETA'

Há críticas ao fato de João Campos ser o chefe de gabinete. O episódio de sua nomeação gerou revolta, principalmente nas redes sociais. Na ocasião, foi criada a hastag #meuprimeiroemprego em resposta irônica à indicação do jovem.

O cientista político Michel Zaidan, da UFPE, define João como "político de proveta". Na política local, segundo ele, há "uma visão patrimonialista" –e o jovem usufrui do capital social da família.

"O que ocorre com essas carreiras prematuras não é outra coisa a não ser um favorecimento que esses filhos, primos, parentes e contraparentes têm dos chefes políticos, de acesso ao poder."

Para Zaidan, uma das poucas vozes críticas do Estado, o grupo político deve sofrer um baque com o andamento da Operação Turbulência,que investiga um esquema de R$ 600 milhões que pode ter irrigado as campanhas do PSB em 2010 e 2014.

O cientista político avalia que João ainda está muito distante de Eduardo e que só poderá mostrar a capacidade política quando sair da "tutela" e da proteção da família. "Ele ainda é uma criatura sob a saia da mãe".


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