Folha de S. Paulo


Setor financeiro bancou campanhas de Rodrigo Maia

Ex-funcionário dos bancos BMG e Icatu, nos quais trabalhou por sete anos, o novo presidente da Câmara é fortemente apoiado em suas campanhas eleitorais por executivos e empresas do sistema financeiro nacional.

As prestações de conta das cinco candidaturas que Rodrigo Maia (DEM-RJ) disputou desde 2002 —quatro vitórias à Câmara e uma derrota à Prefeitura do Rio— mostram que o setor da economia bancou mais de um terço dos gastos declarados por ele à Justiça Eleitoral (36,8%).

O BMG, que foi investigado no escândalo do mensalão em 2005, é o principal doador, com R$ 2,4 milhões entre 2002 e 2014, em valores nominais não corrigidos pela inflação, do total de R$ 4,4 milhões provenientes do sistema financeiro. No mesmo período, Maia recebeu para suas campanhas R$ 12,1 milhões ao todo.

Dois operadores do mercado financeiro no Rio optaram ajudar Maia não por suas empresas, mas por meio de doações pessoais.

O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, um dos formuladores das teses econômicas do PSDB e dono de uma gestora de recursos, doou R$ 50 mil para a campanha de Maia em 2010.

Na de 2014, o operador do mercado financeiro Antônio José Carneiro, conhecido como "Bode", desembolsou R$ 180 mil para a campanha.

O setor de construção civil, outro aliado de Maia, bancou 12,3% dos gastos de suas campanhas. Alguns dos doadores são empresas investigadas pela Operação Lava Jato por corrupção e formação de cartel, como a UTC Engenharia, que doou R$ 300 mil em 2010 e a OAS, que forneceu R$ 50 mil em 2012.

Somados, empreiteiras e setor financeiro responderam por metade dos custos das campanhas de Maia (49,18%). O número, porém, pode ser muito maior, pois a verdadeira origem de 31,6% do total de doadores não é rastreável.

Aproveitando uma brecha da legislação eleitoral então em vigor, a chamada doação oculta, as campanhas de Maia em 2006 e 2010 receberam R$ 3,7 milhões sem que seja possível saber quem são os principais doadores. O dinheiro veio de diretórios de DEM e PFL que receberam doações de empresas.

Como deputado, Maia atuou em diversas comissões da Câmara que analisaram assuntos de interesse do setor financeiro.

POSIÇÕES

Em declarações passadas, o deputado defendeu um Estado "enxuto", mas evitou abraçar abertamente o receituário liberal e fez algumas concessões a um maior papel do Estado na economia.

Afirmou em 2007 que "a ideia do liberalismo puro não foi vitoriosa no mundo, é preciso aceitar isso". Defendeu um Estado "garota de Ipanema". "Sem gordura, mas organizado para suas tarefas essenciais", afirmou.

Diferentemente de boa parte de seus colegas de DEM, Maia demonstrou objeção a declarar a legenda à direita.

"O problema da direita no Brasil é o preconceito que vem da relação que se criou entre a ditadura e a direita. Então, de fato, a palavra direita ficou uma palavra que não agrega", disse.

As posições de Maia ficam mais claras no campo dos costumes. Em 2012, se declarou a favor da união civil entre homossexuais, mas contra o casamento gay. Opôs-se também ao aborto. "Eu tenho minhas convicções de um político conservador", disse.


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