Folha de S. Paulo


Mensagens mostram assédio de políticos a executivo da Andrade

Zanone Fraissat -19.ago.2013/Folhapress
SÃO PAULO, SP, BRASIL, 19-08-2013: O empresário Otávio Marques de Azevedo, durante o jantar em homenagem ao prefeito Eduardo Paes, do Rio de Janeiro, oferecido pelo empresário João Dória Jr., em sua casa, no bairro do Jardim Europa, em São Paulo (SP). (Foto: Zanone Fraissat/Folhapress)
O ex-presidente da empreiteira Andrade Gutierrez Otávio Marques de Azevedo, em 2013

"Bom dia. Sabe quando será feito o deposito?" A quebra de sigilo do celular de Otávio Marques de Azevedo, ex-presidente da empreiteira Andrade Gutierrez, mostra que ele recebia mensagens desse tipo, de teor insistente, com grande frequência em períodos de campanha eleitoral.

Entre os interlocutores, estão candidatos, emissários de campanhas e Edinho Silva (PT), tesoureiro da petista Dilma Rousseff em 2014.

Há menções a negociações com as principais candidaturas da eleição presidencial de 2014. Edinho questiona em mensagem de agosto daquele ano a falta de doações e chama a situação de "drástica". "Repassei o problema da não contribuição e estão pedindo para vc fazer ao menos 10 até amanhã para não paralisar setores importantes da campanha. Aguardo retorno", diz o petista.

Para a PF, "10" possivelmente se refere a um pedido de R$ 10 milhões de contribuição. Azevedo responde apenas perguntando o número da conta de campanha.

Para a polícia, uma negociação de doação para a campanha do tucano Aécio Neves à Presidência pode ter sido feita com Oswaldo Borges da Costa Filho, ex-presidente da estatal mineira Codemig e conhecido como tesoureiro informal do PSDB-MG.

Em agosto de 2014, Azevedo troca mensagens com Borges, que diz, insinuando o recebimento de uma doação: " Com vc funciona!!!! Rss."

Na mesma época, o empreiteiro combina um encontro com Álvaro de Souza, que é identificado no telefone como "Tesoureiro Marina - PV".

A PF lembra no relatório que Álvaro Souza integrou a equipe financeira da então candidata Marina Silva, que concorreu pelo PSB.

O empreiteiro foi preso na Operação Lava Jato, há um ano. Solto no início de 2016, atualmente é réu e delator.

ÍDOLO DO VÔLEI

O ex-jogador de vôlei Giovane Gavio, que concorreu a deputado federal pelo PSDB-MG e não se elegeu, também procurou o empreiteiro. "Vc havia me dito que conseguiria alguém para apoiar com 500k conseguiu?".

Em 2012, em meio à campanha municipal, o deputado federal Vicente Cândido (PT) pede doação ao "candidato do Zé Eduardo" à Câmara de São Paulo, em referência ao então ministro da Justiça José Eduardo Cardozo.

Azevedo responde: "Será feito na próxima semana. Diga ao meu ministro preferido que estamos juntos."

Outro petista, Carlos Neder, deputado estadual em SP, reclama em conversa em 2014 que não recebeu doação. O empreiteiro orienta a procurar João Vaccari, então tesoureiro do PT e hoje preso na Lava Jato. Na madrugada seguinte à eleição daquele ano, Azevedo diz ao deputado: "Parabéns meu amigo, sucesso na nova legislatura."

OUTRO LADO

Partidos ouvidos pela reportagem disseram que as doações da Andrade Gutierrez foram legais e estão registradas na Justiça Eleitoral.

O ex-ministro Edinho Silva diz que seu papel era buscar recursos para a campanha e que as doações eram legais.

A assessoria do senador Aécio Neves (PSDB-MG) afirma que foi feita uma contribuição pela empreiteira à campanha presidencial dele em 29 de agosto de 2014, mesmo dia da conversa entre Oswaldo Borges Costa Filho e Otávio Marques de Azevedo.

A Rede, atual partido da ex-senadora Marina Silva, disse que os encontros de Álvaro de Souza com representantes da construtora aconteceram e que foi doado R$ 1 milhão pela empresa. Souza disse que não era tesoureiro, mas voluntário na eleição.

Carlos Neder diz que recebeu uma doação registrada e pediu mais contribuições, que não foram feitas. O repasse, de R$ 190 mil, foi feito por meio da direção nacional do PT. Para ele, as mensagens não são um assédio, mas sim mostram "preocupação com o prazo que estava se esgotando para receber, utilizar e declarar recursos de campanha".

Vicente Cândido também afirma que o repasse foi legal.

A defesa de Azevedo diz que as conversas são conhecidas pela Justiça. Giovane Gavio não foi localizado.


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