Folha de S. Paulo


Outro delator diz ter dado recurso de caixa 2 a Aloysio Nunes

Alan Marques - 11.mai.2016/Folhapress
Senador Aloysio Nunes Ferreira, novo líder do governo na Casa
Senador Aloysio Nunes Ferreira na Câmara

O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) sempre tratou com aparente desdém a delação do empresário Ricardo Pessoa, da UTC e da Constran, que dizia ter pago recursos via caixa dois para a campanha dele em 2010.

Aloysio repetia que não há nem haverá provas de que usou dinheiro sujo para se eleger. Provas não há, mas apareceu um outro delator dizendo que entregou dinheiro vivo para um amigo do senador da década de 1970, quando integravam o grupo guerrilheiro ALN (Aliança Libertadora Nacional).

O segundo delator a confirmar para a Polícia Federal a doação de R$ 200 mil em dinheiro vivo à campanha de Aloysio é o ex-diretor financeiro da UTC, Walmir Pinheiro. Segundo ele, o dinheiro foi entregue na sede da empresa em São Paulo para o advogado Marco Moro, que conheceu o tucano por volta de 1970, quando os dois, então perseguidos da ditadura, estavam exilados na Europa.

Tanto Aloysio quanto Moro negam ter recebido recursos ilegais.

ACAREAÇÃO

Para checar se a história relatada por Pinheiro fazia sentido, a Polícia Federal fez acareação entre ele e Moro. O ex-diretor financeiro da UTC apresentou como evidências de que conhecia Moro número de telefone e dados sobre documentos do advogado.

Moro confirmou que esteve na UTC para tratar de doação para a campanha, mas refutou que tivesse visto antes o executivo da UTC. Confirmou, no entanto, que conhece um dos diretores da Constran, João Santana, que foi ligado a grupos de esquerda durante a ditadura.

Moro disse à Folha que trabalhou na campanha de Aloysio em 2010 cuidando do programa do candidato. Mas, mesmo sem ter um cargo oficial, diz ter pedido doações para conhecidos como Santana, mas nega ter recebido recursos ilegais.

Além dos supostos R$ 200 mil para o caixa dois, Pinheiro contou à PF que a UTC deu R$ 300 mil em doação oficial, em duas parcelas, uma de R$ 100 mil e outra de R$ 200 mil, registradas na prestação de contas do tucano. Pessoa havia dito na delação que os R$ 200 mil doados em dinheiro vivo eram para pagar os contratados para boca de urna.

MAIS VOTADO

Na disputa de 2010, Aloysio tornou-se o senador mais votado do país, com 11,2 milhões de votos, suplantando a votação de Aloizio Mercadante (PT-SP) em 2002, com 10,5 milhões de votos.

No cargo, virou um dos principais defensores do impeachment da presidente Dilma Roussef. Após o afastamento de Dilma, o presidente interino Michel Temer escolheu-o para ser líder do governo no Senado.

OUTRO LADO

O advogado Marco Moro diz que esteve duas vezes na UTC pedindo doações, mas nega ter se encontrado com o ex-diretor Walmir Pinheiro para pegar recursos ilegais.

"Não tinha recurso de caixa dois na campanha do Aloysio. Não houve essa doação de R$ 200 mil em dinheiro da UTC. Eles prometeram R$ 500 mil, mas só deram R$ 300 mil", relata.

Moro diz que "se fosse verdade que tinha pego dinheiro de caixa dois, eu teria admitido" e afirma que o ex-diretor da UTC contou essa versão "para fazer valer a delação premiada dele".

Em nota, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) rebate as afirmações de Ricardo Pessoa e Walmir Pinheiro. Segundo ele, todas as doações para a campanha foram declaradas e aprovadas pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Ele diz acreditar que o inquérito que está no Supremo Tribunal Federal vai elucidar os fatos e afirma que tem entregue todos os documentos solicitados porque tem interesse em resolver o mais rapidamente possível o caso.


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