Folha de S. Paulo


Análise

Filhotes da Lava Jato são essenciais para sua sobrevivência

De uma rotineira investigação sobre lavagem de dinheiro por doleiros usando um posto de gasolina em Brasília, a Lava Jato agigantou-se para adquirir status de mais devastadora operação anticorrupção do país, e uma das maiores do mundo.

Passados pouco mais de dois anos, a Lava Jato precisa diminuir, mas não da maneira como lideranças políticas gostariam, amordaçando-a. A Lava Jato precisa diminuir para crescer.

O tamanho da operação incomoda os investigadores. Um alto quadro da Polícia Federal explica: quando tudo é Lava Jato -investigações sobre empreiteiros, banqueiros, produtores de carne, diretores de estatais, tesoureiros de partidos, políticos em geral e agora até uma madrinha de bateria-, o potencial de dano à marca é muito maior.

Um erro, ainda que menor em um caso paralelo, contamina tudo e expõe a Lava Jato a operações-abafa. O capoteiro que foi convocado por engano para depor ao juiz Sergio Moro era o microcosmo do microcosmo. Uma irrelevância no contexto geral da investigação.

Menos, é claro, para o próprio capoteiro e para a reputação de toda uma operação.

Um dos procuradores à frente da investigação disse recentemente que "a Lava Jato já acabou, vocês [imprensa] que não perceberam". Referia-se ao desmantelamento da rede de doleiros de Alberto Youssef, que, para ele, é a Lava Jato propriamente dita. O resto foram desdobramentos.

Por mais que Moro e os procuradores de Curitiba e Brasília sejam máquinas de trabalhar, as múltiplas informações que surgem de delações premiadas e operações de busca e apreensão espraiam-se numa escala impossível de ser administrada por um grupo restrito.

Daí porque, nas últimas semanas, filhotes da Lava Jato têm proliferado: a operação Custo Brasil, que prendeu o ex-ministro Paulo Bernardo (depois solto) derivou da delação premiada de um ex-vereador petista.

A Turbulência, que apontou o dedo para a campanha de Eduardo Campos (PSB) à Presidência em 2014, teve como origem informações de Youssef. A Saqueador, que prendeu o empresário Fernando Cavendish, teve como fio da meada as delações do ex-senador Delcídio do Amaral e de executivos da Andrade Gutierrez. Nesta quarta (6), uma nova operação mirou a Eletronuclear.

Cada filhote que nasce causa nos investigadores a Síndrome do Ninho Vazio. É difícil ver que os rebentos se vão e ganham vida própria. Mas é preciso aceitar. É para o bem deles.


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