O deputado Eduardo Cunha (PMDB) tornou-se nesta quinta-feira (7) o quarto presidente da Câmara a renunciar desde o fim da ditadura militar, em 1985. Antes dele, o tucano Aécio Neves (em 2002), o pepista Severino Cavalcanti (2005) e o atual presidente interino Michel Temer (2010) também abdicaram do cargo.
Chorando, Cunha anunciou a decisão durante uma coletiva de imprensa. Ele culpou o Supremo Tribunal Federal (STF), que o afastou da função, a Procuradoria-Geral da República (PGR), que o investiga, e disse que estaria pagando o preço de ter dado início ao processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff.
Cavalcanti foi o único desses que tomou a atitude pressionado por denúncias de corrupção, como Cunha. Ele deixou o cargo após virem à tona denúncias de que cobrava R$ 10 mil mensais (equivalentes a cerca de R$ 19 mil hoje) em propina ao empresário Sebastião Buani, que tinha lanchonetes na Câmara. O episódio ficou conhecido como "mensalinho".
Para evitar ser cassado, Cavalcanti também abriu mão de seu mandato de deputado federal, reafirmando, contudo, sua inocência.
"Todos seremos, muito breve, julgados pelo povo. Para quem dedicou sua vida à política, esse é o julgamento que conta, a sentença que importa. Voltarei. O povo me absolverá", disse em seu discurso final.
Três anos depois, em 2008, Cavalcanti foi eleito para seu único cargo público desde o escândalo –prefeito de João Alfredo, cidade de 30 mil habitantes no agreste pernambucano.
Já Aécio Neves renunciou em 2002, pouco depois de ser eleito governador de Minas Gerais. Embora o novo cargo tenha sido sua justificativa oficial, a Folha noticiou, na época, que o tucano saiu da presidência porque se opunha a um reajuste de 50% reivindicado pelos parlamentares – um dos principais defensores do aumento, aprovado dias depois da saída de Aécio, era Severino Cavalcanti.
Já Temer abdicou após ser eleito vice na chapa da presidente afastada Dilma Rousseff, em 2010.
*
Cronologia
Relembre a trajetória e as manobras de Eduardo Cunha desde que se tornou presidente da Câmara
1º.fev.2015
Cunha derrota governistas e é eleito presidente da Câmara
3.mar
Procuradoria-geral da República pede que STF abra inquérito contra Cunha e outros 27 políticos
12.mar
À CPI da Petrobras, Cunha nega ter contas no exterior
25.mai
Marcha de movimentos pró-impeachment é recebida por Cunha
16.jul
Delator Julio Camargo diz que pagou propina de US$ 5 mi a Cunha; deputado rompe com governo
20.ago
PGR denuncia Cunha por lavagem de dinheiro e corrupção
17.set
Entrega do pedido de impeachment
30.set
Suíça envia ao Brasil dados de 4 contas secretas de Cunha
13.out.
Psol e Rede pedem cassação de Cunha ao Conselho de Ética
3.nov
Processo é instalado e Fausto Pinato (PRB-SP) escolhido relator
9.dez
Cunha manobra para destituir Pinato e Marcos Rogério (DEM-RO) assume
15.dez
Rogério apresenta parecer contra Cunha; texto é aprovado
16.dez
PGR pede o afastamento de Cunha por obstruir investigações
2.fev.2016
Aliado de Cunha e vice da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA) anula sessão que aprovou parecer
2.mar
Em nova votação, Conselho dá continuidade ao processo
3.mar
Cunha se torna réu no STF; Janot o denuncia por contas na Suíça
17.abr
Câmara aprova impeachment
5.mai
Em votação unânime, STF suspende mandato de Cunha
7.jul
Eduardo Cunha renuncia à presidência da Câmara