Folha de S. Paulo


Ex-presidente do PSDB de MG, primo de Anastasia e mais 13 viram réus

Gilberto Nascimento - 28.mai.2009/Agência Câmara
Nárcio Rodrigues, ex-secretário de infraestrutura do governo Antônio Anastasia
Nárcio Rodrigues, ex-presidente do PSDB-MG

O ex-presidente do PSDB de Minas Gerais, Narcio Rodrigues, e mais 13 pessoas se tornaram réus sob acusação de crimes como fraude a licitação, organização criminosa, peculato, lavagem de dinheiro e por atrapalhar investigação criminal. Umas delas é o primo em primeiro grau do ex-governador e atual senador Antonio Anastasia (PSDB), Waldemar Anastasia Polizzi.

Rodrigues foi secretário de Ciência e Tecnologia da gestão Anastasia (2010-2014) e as apurações apontam que ele teria recebido mais de R$ 1 milhão em propina para financiar campanhas eleitorais em 2012. O ex-governador não é investigado.

Sete dos 15 réus estão presos há um mês, desde que foi deflagrada a Operação "Aequalis", que apura um esquema de desvio de recursos públicos em obras e equipamentos para o centro de pesquisas mineiro "Cidade das Águas", da Fundação Hidroex, localizado em Frutal (MG).

Com mandado de prisão, o empresário português Bernardo Ernesto Moniz da Maia, do grupo Yser, é considerado foragido e, segundo o Ministério Público, está fora do país.

Investigações da Promotoria e da CGE (Controladoria-Geral do Estado) encontraram irregularidades na construção do "Cidade das Águas" e também na compra de equipamentos. De acordo com os órgãos, houve desvios de R$ 8,7 milhões nas obras do centro, que eram feitas pela empreiteira CWP (Construtora Waldemar Polizzi).

A CWP pertencia a parentes de Anastasia até quatro meses antes de ele assumir o governo em 2010, e o primo em primeiro grau do hoje senador, Waldemar Anastasia Polizzi, continuava como responsável técnico pelas obras quando a empresa venceu a licitação para erguer a "Cidade das Águas". Polizzi não foi preso.

A Promotoria e a CGE ainda apontam que houve um esquema de propina para a compra de materiais para a Hidroex que beneficiaria o grupo Yser, um dos maiores de Portugal. Os contatos de Rodrigues com a empresa, segundo o Ministério Público, foram feitos por meio de Odo Adão Filho, suposto operador do esquema.

Segundo o promotor William Garcia Pinto Coelho, depois de descobrirem que estavam sendo investigados, houve tentativa de fraudes de documentos e obstrução da investigação, o que justificou os pedidos de prisão.

Além de Rodrigues e Polizzi, tornaram-se réus Vicente Gamarano (então secretário-adjunto), Neif Chala (ex-funcionário da pasta), Odo Adão Filho, membros da Yser, da CWP e funcionários do governo. Todos negam as acusações.

OUTRO LADO

Procurado, o advogado de Narcio Rodrigues, Sânzio Baioneta, não se manifestou. Contatado antes de sua prisão, Rodrigues afirmou à Folha que não foi beneficiário de propina e que não atuou na execução de obras ligadas ao projeto do "Complexo das Águas", mas somente em assuntos ligados à programas de educação, que eram vinculados à Secretaria de Ciência e Tecnologia.

A assessoria de imprensa do senador Antonio Anastasia afirmou em nota que "defende que quaisquer denúncias devam ser rigorosamente apuradas pelos órgãos competentes e julgadas na forma da Lei".

"Como demonstra o próprio relatório da Controladoria Geral do Estado, Waldemar Polizzi deixou a sociedade da empresa CWP em 09/12/09. Quando da licitação, portanto, Waldemar não era sócio da empresa", diz o comunicado.

"Em 03/05/10 ele foi contratado (funcionário) pela empresa como engenheiro civil, tendo se desligado como funcionário em 18/11/11. Desde essa data, Waldemar não tem qualquer ligação com a empresa. Segundo o relatório da CGE, a ordem de início da referida obra ocorreu em 05/03/12. Sendo assim, Waldemar não participou da construção da obra."

Em nota, o PSDB de Minas Gerais afirma que durante suas gestões, "a orientação sempre foi para que todos os processos fossem feitos de forma transparente e seguindo os preceitos legais, com permanente acompanhamento dos órgãos de controle do Estado".

O partido defendeu que "todas as denúncias sejam devidamente apuradas pelos órgãos competentes e, uma vez comprovadas eventuais irregularidades, que os responsáveis sejam julgados na forma da lei".

"Sobre denúncia de que recursos ilegais possam ter apoiado campanhas eleitorais de prefeitos em 2012, o PSDB desconhece qualquer irregularidade que possa ter sido cometida por algum candidato", diz o comunicado.

Também procuradas, a CWP e a Yser ainda não se manifestaram. A reportagem não localizou as defesas de Vicente Gamarana, Neif Chala e Odo Adão Filho.


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