Folha de S. Paulo


'Emissário' de ex-governador do Rio Sérgio Cabral é citado em delações

Carlos Magno-2008/Ccs
O governador do estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, anda em bicicleta do projeto de transporte público parisiense Velib em frente à prefeitura de Paris (França). (Foto: Carlos Magno/Ccs) *** DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O então governador do Rio, Sérgio Cabral, durante passeio de bicicleta em Paris, em 2008

Delações de executivos ligados à construtora Andrade Gutierrez e investigações da Polícia Federal junto à empreiteira Camargo Corrêa apontam o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) como beneficiário de propina em contratos públicos.

Um outro nome se repete em depoimentos e documentos da PF: Carlos Emanuel Miranda, 48, citado como o emissário encarregado de recolher o dinheiro ilícito destinado a Cabral.

Miranda foi o intermediário, segundo os relatos, no recebimento de propina da Andrade Gutierrez nas obras da reforma do Maracanã para a Copa de 2014, do Arco Metropolitano e do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio).

Cabral nega com veemência todas as acusações –leia nota de sua assessoria de imprensa a seguir. A Folha não localizou Miranda.

Ele é casado com uma prima do ex-governador. Delatores o classificam como homem de confiança de Cabral.

Miranda foi sócio de Maurício, irmão de Cabral, na LRG Consultoria e Participações Ltda, em 1999, e também fundou com o ex-governador a SCF Comunicações em 2003.

A primeira aparição de Miranda no radar da Polícia Federal data de 2008. Na época, Sérgio Cabral estava no segundo ano de governo.

Miranda surgiu na Operação Castelo de Areia, que investigava a Camargo Corrêa. No relatório da PF, havia uma menção ao pagamento de R$ 177.520 mensais ao ex-governador. O acerto teria sido negociado por Wilson Carlos Carvalho, secretário de Governo naquele período.

Segundo agentes da PF, Miranda era quem transitava com as malas de dinheiro do esquema. Na contabilidade apreendida pela PF, na época, com o operador Kurt Paul Pickel, era identificado pelo apelido de "Avestruz".

Os doleiros responsáveis pelo pagamento criaram apelidos de bichos e uma senha "para cada pessoa que realizasse operação ilícita", diz o relatório da PF.

A prova faz parte da Castelo de Areia, que o Superior Tribunal de Justiça considerou irregular porque o sigilo telefônico foi quebrado a partir de denúncia anônima.

Nas delações da Lava Jato feitas por Clóvis Primo e Rogério de Sá, da Andrade Gutierrez, o nome de Miranda foi citado em pagamentos de propina relacionados a obras da usina nuclear de Angra 3.

Em 2010 e 2011, o ex-governador ainda teria recebido da construtora pagamentos mensais de R$ 300 mil referentes às obras do Comperj, do Arco Metropolitano e do conjunto de favelas de Manguinhos, no Rio. E, mais uma vez, Miranda era o responsável por transitar com a mesada paga pela construtora.

Na quarta (22), a Folha revelou que executivos da Odebrecht pretendem contar que Cabral recebeu propina na reforma do Maracanã. A PF investiga se Miranda também teve participação também nessas operações.

Conhecido como "Barbudo", Miranda, de acordo com pessoas próximas, fazia pagamentos e até cuidava de passagens aéreas do ex-governador. Apesar do trânsito em gabinetes, não ocupou cargo público nos dois mandatos de Cabral.

Seu último emprego público foi como consultor na Assembleia do Rio, de 1994 a 2002. No período, o presidente da casa era Cabral.

OUTRO LADO

O ex-governador Sérgio Cabral afirmou que convive com Carlos Emanuel Miranda há mais de 30 anos.

"Miranda é casado com uma prima-irmã do ex-governador", disse o peemdebista em nota de sua assessoria.

Cabral afirmou também que manteve com a Andrade Gutierrez, Odebrecht e Camargo Corrêa "apenas relações institucionais".

Em nota, sua assessoria afirmou que o peemedebista "jamais interferiu em quaisquer processos licitatórios de obras em seu governo nem tampouco solicitou benefício financeiro próprio ou para campanha eleitoral".

O ex-governador disse ainda "que pautou sua gestão pela autonomia de seus secretários nas respectivas pastas" e órgãos subordinados.

Carlos Miranda e o ex-secretário de Governo, Wilson Carlos Carvalho não foram encontrados para comentar as informações que constam de documentos da Polícia Federal e de delações no âmbito da operação Lava-Jato.

A Andrade Gutierrez e Odebrecht não comentam. Na época da Operação Castelo de Areia, a Camargo se disse perplexa com a investigação.


Endereço da página:

Links no texto: