Folha de S. Paulo


Tentar tirar dados da internet é como 'desfritar' ovo, diz especialista da BBC

Qualquer usuário de redes sociais pode ter seu nome completo, localização e até número de telefone revelados em poucos minutos, mesmo tomando precauções.

Em palestra no 11º congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) neste sábado (25), em São Paulo, o especialista em pesquisas na internet da "BBC" Paul Myers listou sites que podem ser acessados abertamente para encontrar dados pessoais de outras pessoas.

Igor Utsumi
Palestra de Paul Myers no congresso da Abraji
Paul Myers, especialista da "BBC", em palestra na Abraji 2016, na faculdade Anhembi Morumbi

As ferramentas são úteis em investigações jornalísticas e permitem localizar estelionatários e até terroristas, mas também mostram como usuários do Facebook, Twitter ou Skype estão desprotegidos.

A maior parte deles usa dados pessoais disponibilizados online ou o endereço eletrônico (IP) do internauta para fornecer as informações. Myers comparou o IP a uma agenda de contatos de celular. "Seus amigos tem um número associado ao nome deles. Na internet, você também tem um número. E pode ser rastreado", disse.

Segundo o jornalista, sites como "Regex.info" permitem descobrir onde algumas fotos foram tiradas, em que data e com qual aparelho celular.

Outros, como"TrueCaller", podem, com uma simples pesquisa, mostrar o dono de uma linha telefônica ou conta de Skype e em que país ou endereço ele está.

Questionado se é possível retirar as informações pessoais da internet depois que elas já estão públicas, Paul Myers foi direto: "É como tentar 'desfritar' um ovo."

No entanto, é possível evitar que ainda mais dados sejam comprometidos. Algumas medidas são nunca fornecer compartilhar a localização quando perguntado por um navegador e manter as publicações nas redes sociais apenas para amigos.

O uso de janelas anônimas ou abas incógnitas, oferecido por alguns navegadores, também não garante proteção.

CRISE HUMANITÁRIA

Também durante o congresso neste sábado, jornalistas que atuaram em crises humanitárias debateram a cobertura do tema em situações extremas.

Para Leandro Colon, repórter especial da Folha e primeiro a mostrar no Brasil, em 2014, a chegada à Itália de imigrantes africanos resgatados no mar, essas coberturas são uma aposta. "Custa muito caro, você ficam dias sem dormir."

A repórter especial do jornal "Zero Hora" Letícia Duarte, também participou da mesa e disse que é preciso "ter a maior proximidade possível para traduzir esse mundo ao leitor".


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