Folha de S. Paulo


Em lados opostos, senadoras ditam os passos da comissão do impeachment

Em meio à polarização da comissão especial do impeachment, duas senadoras ganharam destaque nos embates entre a minoria que defende a presidente afastada Dilma Rousseff e os que trabalham pela sua saída definitiva do comando do país.

Com trajetórias políticas diferentes, Vanessa Grazziotin (PC do B-AM) e Simone Tebet (PMDB-MS) têm algo em comum: a combatividade demonstrada na forma como atuam.

Chama a atenção também a assiduidade delas às reuniões do grupo, que costumam durar longas horas.

Eduardo Anizelli - 11.mai.2016/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 11-05-2016: A senadora Vanessa Grazziotin (PC do B-AM), discursa durante sessao do impeachment da presidente Dilma Rousseff, no Senado Federal. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, PODER)
A senadora Vanessa Grazziotin (PC do B-AM) discursa em sessão do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff (PT)

Para Vanessa, o protagonismo feminino pode ser uma oportunidade em um "sistema político que exclui parcelas importantes da sociedade, inclusive as mulheres".

"Parte importante da política ainda é dominada pela cultura machista. Espero que [o exemplo da comissão] sirva", afirma Vanessa, 54.

"Talvez essa tenha sido a surpresa. Acho que o reconhecimento está vindo muito mais dos órgãos de imprensa e da sociedade do que da Casa", diz Simone, 46.

Ainda no início de seu primeiro mandato no Senado, Simone lidera a articulação dos parlamentares que querem concretizar o impeachment de Dilma Rousseff.

Eduardo Anizelli - 11.mai.2016/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 11-05-2016: A senadora Simone Tebet (PMDB-MS), discursa durante sessao do impeachment da presidente Dilma Rousseff, no Senado Federal. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, PODER)
A senadora Simone Tebet (PMDB-MS) em discurso na sessão do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff (PT)

Reuniões semanais são realizadas em seu gabinete. Com o destaque, a peemedebista chegou a ser cotada para ser líder do governo na Casa e no Congresso.

Filha do ex-presidente do Senado Ramez Tebet (PMDB-MS), morto em 2006, Simone é advogada e mestre em Direito do Estado. Para ela, seus conhecimentos técnicos podem explicar parte da atenção que recebe na comissão.

"Eu levei para a comissão um pouco do conhecimento jurídico que eu tenho. Procurei não entrar em embate político, não descer o nível dos discursos, mas, de forma contundente, mostrar claramente que houve mais de um crime de responsabilidade."

Militante do PC do B há 32 anos, Vanessa, mesmo apoiando Dilma, faz críticas à petista em relação à condução da economia e diz que sua atuação na comissão vai além da defesa do mandato.

"Não só eu, mas todo o coletivo do partido que eu represento, temos uma posição firme na defesa da própria democracia e do Estado de Direito. Temos claro para nós que isso é um golpe", diz.
Embora adversárias no campo político, as duas reconhecem na outra qualidades semelhantes.

"Vanessa tem uma atuação brilhante que faz por ideologia, por convicção, como eu faço por convicção. Não é preciso estar do lado certo ou errado, você só precisa acreditar no que está fazendo", opina Simone.

"Ela teve um pai que foi senador, mas ela se impôs. A gente percebe pelas atitudes, pelo comportamento, pela atuação dela aqui, que ela está [na comissão] porque ela mesma tem essa convicção, ela se coloca", diz Vanessa.

TRABALHOS

A comissão especial encerrará a fase de depoimentos nesta quarta (29), quando terá ouvido 40 pessoas indicadas pela defesa de Dilma, quatro apresentadas por senadores e duas testemunhas de acusação.

Já foram mais de 200 horas de trabalho e 23 reuniões, desde 26 de abril. O processo de impeachment, antes do julgamento, deve acabar em agosto.


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