Folha de S. Paulo


Jornalista Elvira Lobato recebe homenagem em Congresso da Abraji

Carolina Linhares/Folhapress
lançamento da Jeduca no Congresso da Abraji e da homenagem a Elvira Lobato
A jornalista Elvira Lobato recebe homenagem no 11º Congresso da Abraji

A jornalista Elvira Lobato foi homenageada no final da tarde desta quinta (23) no primeiro dia do 11º Congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), em São Paulo, pelo que a entidade chamou de "trabalho incansável de uma repórter com faro".

Ao agradecer a homenagem, ela defendeu o jornalismo daqueles que hoje anunciam seu fim, lembrando um de seus professores que, em seu primeiro dia como estudante em Belo Horizonte, fez a mesma previsão. Comentou que "ninguém tem o direito de destruir o sonho".

Elvira, que trabalhou na Folha durante 27 anos, até 2011, questionou também os que falam em "imprensa golpista", defendendo os colegas: "A imprensa somos nós, o repórter, o redator. Somos golpistas?".

Foram lembradas algumas de suas reportagens mais significativas, como a revelação de uma instalação para teste de armas nucleares na Serra do Cachimbo, no Pará, logo depois do regime militar, e a rede de empresas ligadas à Igreja Universal do Reino de Deus, cobertura que resultou em mais de cem processos contra ela e a Folha.

Em vídeo, sua carreira de quatro décadas foi saudada por, entre outros, Matinas Suzuki Jr., Janio de Freitas e o diretor de Redação da Folha, Otavio Frias Filho, que lembrou sua resistência diante da tentativa de intimidação da Record.

A própria Elvira lembrou com tristeza o episódio que a levaria a se aposentar, temporariamente, depois de três anos em que se viu calada pelos processos. Mas contou como voltou ao jornalismo, ao redescobrir sua própria curiosidade de repórter em viagem pela Amazônia.

Ela recebeu o Prêmio Esso de 2007 pela reportagem "Universal chega aos 30 anos com império empresarial", mas se disse emocionada por receber uma homenagem ainda mais importante, para ela, por ser dada por colegas.

A homenageada foi apresentada pela colunista Mônica Bergamo, que apontou sua "extrema seriedade", sublinhando: "Quando tem assinatura da Elvira, é verdade, é incontestável".

OBSERVATÓRIO

Na mesma cerimônia, a jornalista Norma Couri recebeu em nome do marido, Alberto Dines, o prêmio Abraji de Contribuição ao Jornalismo, pelos 20 anos à frente do projeto Observatório da Imprensa.

"Todo jornalismo é investigativo ou não é jornalismo", afirmou Dines, na mensagem lida por Norma, questionando a imprensa atual. "O que sobra da mídia diária é o que o leitor busca nas entrelinhas. Estamos produzindo um público incapaz de questionar, midiotas, distraídos."

Na apresentação do prêmio, o jornalista Fernando Molica lembrou o pioneirismo de Dines na crítica à imprensa no Brasil: "Depois do Dines, ninguém mais leu jornal do mesmo jeito".


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