Folha de S. Paulo


Foragido da PF achado morto entrou sozinho em motel, diz polícia

Imagens de câmeras de segurança mostram Paulo César de Barros Morato, foragido após operação da Polícia Federal na terça-feira (21) e que foi encontrado morto no dia seguinte, entrando sozinho no motel Tititi, em Olinda (PE), onde foi achado o corpo. A análise preliminar é da Polícia Civil de Pernambuco.

A polícia trabalha com a hipótese de suicídio, de homicídio e também de morte súbita, e vai estudar se a morte tem relação com os desdobramentos da Operação Turbulência.

A ação, deflagrada pela PF em Pernambuco e Goiás, investiga um suposto esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo a compra do avião que caiu matando o ex-candidato à Presidência Eduardo Campos (PSB) em agosto de 2014. Morato é considerado pela PF como proprietário da empresa que participou da compra da aeronave.

O empresário foi encontrado por funcionários do motel por volta das 19h desta quarta (22), sem camisa e sobre a cama. Segundo a Polícia Civil, o corpo não apresentava nenhuma perfuração ou qualquer outra marca de violência. Embalagens de medicamentos para o controle de diabetes e hipertensão foram encontradas no local.

Com ele, foram encontrados sete pendrives, três celulares, talões de cheques em nome de terceiros e cerca de R$ 3.000 em dinheiro.

A suspeita é de que o empresário morreu no mesmo dia que deu entrada no motel –ele chegou ao meio dia de terça, horas depois de deflagrada a operação da PF.

Sérgio Bernardo-22.jun.16/JC Imagem/Folhapress
Motel onde empresário foi encontrado morto
Motel onde empresário foi encontrado morto

"As imagens chegaram hoje e serão devidamente periciadas. Duas câmeras de segurança registraram a entrada da vítima, uma delas fica no acesso à garagem do quarto", afirmou Antônio Barros, chefe da Polícia Civil de Pernambuco, durante entrevista coletiva nesta quinta-feira (23).

Segundo a gerente-geral de Polícia Científica de Pernambuco, Sandra Santos, as perícias "vão nos ajudar a descobrir a causa da morte se por envenenamento, por uso de medicamentos ou mal súbito". A previsão é de que os exames sejam concluídos até quinta-feira (30). Só então o corpo será liberado.

O resulta dos exames deve ser compartilhado com a Polícia Federal. "Como ele é investigado em uma importante operação da PF, nós tratamos do caso com toda cautela", afirmou Alexandre Lucena, secretário-executivo da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco.

O advogado do motel, José Pessoa Lins Júnior, disse que, apesar de concluído o trabalho de perícia, a suíte 45 permanece interditada, mas o estabelecimento segue funcionando normalmente e que a equipe está cooperando com a polícia.

A polícia deve ouvir funcionários do motel, o proprietário do veículo que o empresário dirigia e os donos dos cheques ainda esta semana.

TURBULÊNCIA

Segundo a PF, Morato seria o real proprietário da empresa Câmara & Vasconcelos, envolvida na compra do avião Cessna Citation PR-AFA. A aeronave transportava o ex-governador de Pernambuco e candidato à Presidência em 2014, Eduardo Campos (PSB) e caiu em Santos, litoral paulista, em agosto daquele ano, matando Campos e mais seis pessoas.

O empresário era suspeito de fazer parte de um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo a compra do avião. O mesmo esquema é suspeito, segundo a PF, de ter servido para irrigar a campanha presidencial da chapa de Campos e Marina Silva em 2014, além da eleição para governador dele em 2010.

As investigações apontam que foram movimentados R$ 600 milhões nos Estados de Pernambuco e Goiás, desde 2010.

Durante a Operação Turbulência foram detidos quatro pessoas, entre eles os empresários João Carlos Lyra Pessoa de Melo Filho, Eduardo Freire Bezerra Leite e Apolo Santana Vieira. Eles são donos do Cessna Citation PR-AFA. Foi a partir do avião que a PF descobriu operações suspeitas na conta de empresas envolvidas na sua aquisição.

A empresa Câmara & Vasconcelos Locação, envolvida na compra da aeronave e já citada no âmbito da Lava Jato em delação premiada pelo doleiro Alberto Youssef, recebeu R$ 18,8 milhões da empreiteira OAS por locação e terraplanagem nas obras de transposição do Rio São Francisco.

Este montante, segundo os investigadores, pode ter servido à aquisição da aeronave e também para outras despesas e dívidas de campanha.


Endereço da página:

Links no texto: