Folha de S. Paulo


'Foi um massacre', diz entidade guarani sobre morte de índio no MS

A CGY (Comissão Guarani Yvyrupa), que representa índios guarani do sul e sudeste brasileiro, afirmou nesta quarta-feira (15) que o confronto que deixou um guarani-kaiowá morto e ao menos cinco feridos em Mato Grosso do Sul foi "um massacre" e "um crime" dos fazendeiros da região.

Em nota, a comissão afirma que está em luto e que "cada vez mais, fazendeiros se sentem no direito de matar e saindo impunes". "Isso faz parte da situação política que vivemos no Brasil, em que aqueles que acham que são donos da terra e que só se interessam pelo dinheiro tem se sentido cada vez mais poderosos", diz o comunicado.

Segundo a entidade, guaranis do Paraná também têm sido ameaçados por fazendeiros da região e, na última semana, uma comunidade no município de Guaíra foi expulsa de parte do território por uma milícia.

A CGY ainda reclama do andamento dos processos de demarcação e diz que eles "sequer serão considerados nos próximos 90 dias pelo atual ministro da Justiça, Alexandre de Moraes". "No último dia 10, o ministro soltou uma portaria paralisando o funcionamento de todas as áreas do ministério nos próximos três meses, especialmente Direitos Humanos e órgãos colegiados, excetuando apenas as áreas policiais".

O conflito entre fazendeiros e guaranis-kaiowá aconteceu nesta terça (14) após os índios entrarem em uma fazenda do município de Caarapó (MS) e a reivindicarem como terra tradicional. Em resposta, os fazendeiros atacaram os indígenas. O agente de saúde Cloudione Rodrigues Souza, de 26 anos, foi morto a tiros.

"O jovem agente foi morto covardemente por homens armados que atiraram em cerca de mil indígenas, incluindo quatro agentes de saúde indígena, que estavam reunidos no território próximo à aldeia Teikuê quando foram surpreendidos por homens armados em aproximadamente 60 veículos (caminhonetes)", afirmou, em nota, o secretário especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde em Brasília, Rodrigo Rodrigues.

O local do conflito foi uma das áreas declaradas como terra indígena nas últimas semanas da gestão da presidente Dilma Rousseff, afastada em 12 de maio para responder a processo de impeachment. Com Michel Temer no poder, lideranças indígenas temem revogação.

O advogado Gustavo Passarelli, assessor jurídico da Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul), que representa 69 sindicatos com cerca de 55 mil produtores rurais, disse que a entidade tem orientado seus filiados a "ficarem dentro da legalidade, aguardar as decisões do Poder Judiciário" e evitar "qualquer ação que envolva violência".

Procurado para comentar a nota do CGY na noite desta quarta, o Ministério da Justiça ainda não se manifestou. Anteriormente, sobre o conflito, o ministro da Justiça, Alexandre de Mores, informou por meio de sua assessoria que determinou "rigorosa" apuração dos fatos.


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