Folha de S. Paulo


Tia Eron vota pela cassação de Cunha, e perda de mandato deve ter maioria

Alvo de todas as pressões e holofotes desde a semana passada, a deputada Tia Eron (PRB-BA) manteve o suspense até o último minuto e só declarou seu posicionamento no momento final do voto no Conselho de Ética.

"Meus pares, meus colegas, Brasil, eu não posso aqui absolver o representado nessa tarde. Eu não posso, eu não posso. Quero votar sim, com o relatório do deputado Marcos Rogério [DEM-RO]", discursou Eron, selando o destino de Eduardo Cunha no conselho.

Desta vez, ela chegou no início da sessão e enfrentou os holofotes —ao contrário da semana passada, quando ficou instalada na liderança do PRB enquanto o Conselho discutia a cassação de Cunha.

Aliados do peemedebista davam como certo que Eron salvaria Cunha, tendo interpretado como um sinal nesse sentido a ausência dela na sessão anterior.

Outra sinalização foi um encontro do ministro Marcos Pereira, presidente licenciado do PRB, com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB), na semana passada, às vésperas da votação no Conselho de Ética.

Tia Eron evitou entrevistas e declarações públicas desde a semana passada. Só rompeu o silêncio na sessão do Conselho, primeiro durante o tempo de discurso destinado aos líderes.

Ainda sem adiantar seu voto, ela afirmou que decidiria com a sua "consciência" e criticou a pressão recebida: "Não mandam nessa nega aqui. Nenhum dos senhores manda".

Comparou o processo a uma gestação, por estar próximo aos nove meses de duração e disse que era preciso uma mulher para decidir. "Por isso chamam, 'cadê tia Eron?'. Pra resolver o problema que os homens aqui não conseguem resolver. Já que é pra resolver, pra decidir, eu vou resolver", afirmou.

Na hora da votação, Eron afirmou que o PRB não fazia "balcão de negócios" pelo voto no Conselho e anunciou o apoio ao relatório de Marcos Rogério, pela cassação, recebendo aplausos em seguida.

MUDANÇA INESPERADA

Seu voto provocou uma inesperada mudança de posição do deputado Wladimir Costa (SD-PA), que pouco antes havia discursado defendendo que Cunha não era o titular das contas no exterior.

"Eu não quero aqui frustrar o meu partido ou quem quer que seja ou alguns que imaginavam que nós iríamos votar diferente. Eu finalizo dizendo que nós vamos votar com o relatório do deputado Marcos Rogério", disse, provocando imediato alvoroço entre os deputados.

Seu partido é controlado pelo deputado Paulinho da Força (SD-SP), um dos aliados mais próximos de Cunha, e durante todo o processo contra o peemedebista, Costa era uma das vozes que saía em sua defesa.


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