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Equilibrista política, Tia Eron se torna vital para futuro de Cunha

Reprodução/TV Câmara
A deputada Tia Eron (PRB-BA), que decidirá o futuro de Eduardo Cunha no Conselho de Ética
A deputada Tia Eron (PRB-BA), que decidirá o futuro de Eduardo Cunha no Conselho de Ética

Ela foi filiada ao antigo PFL, mas é a favor das cotas para negros. Evangélica, tem dois homossexuais trabalhando no seu gabinete. Costuma afagar o governador da Bahia, Rui Costa (PT), mas é aliada do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM).

Atuando como uma equilibrista, com a capacidade de agradar a diferentes lados, a deputada Eronildes Vasconcelos (PRB), 44, conhecida como Tia Eron, completa um ano e meio de mandato como figura central da República.

Membro do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, será a fiel da balança na votação do processo de cassação do presidente afastado da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Dos 20 membros do conselho, dez são a favor de Cunha, nove contra, e Tia Eron é a incógnita. Caso empate a votação contra Cunha, o presidente do conselho, deputado José Carlos Araújo (PR-BA), decidirá a votação contra o peemedebista, em sessão marcada para esta semana.

Aliados dizem que a deputada terá liberdade para decidir o voto: "O partido não fará nenhum tipo de pressão. Ela votará com a sua consciência", diz o líder do PRB na Câmara, deputado Márcio Marinho (PRB-BA).

A Folha apurou, contudo, que a deputada deve levar em conta a opinião do presidente do PRB, ministro Marcos Pereira (Desenvolvimento), de quem se tornou próxima desde que foi para Brasília.

Por enquanto, prefere fazer mistério e capitalizar os holofotes. Já disse admirar a atuação de Cunha no comando da Câmara, mas disse ver "consistência" no voto do relator Marcos Rogério (DEM-RO) que pede a cassação do deputado.

ASCENSÃO

Desde que foi eleita deputada federal com 116 mil votos, empurrada pela Igreja Universal do Reino de Deus, Tia Eron ascendeu tanto na política baiana como estrutura nacional de seu partido.

Em 2014, foi a segunda deputada federal mais votada em Salvador, onde foi vereadora por quatro mandatos consecutivos, sempre com votações expressivas.

Com o sucesso nas urnas, chegou a ser cotada para ocupar a vaga de vice do prefeito ACM Neto na campanha deste ano.

Mas negociou a filiação ao PRB do chefe de gabinete do prefeito, João Roma, aumentando as chances de o partido ocupar o posto.

No início deste ano, Tia Eron foi alçada à presidência do partido da Bahia, desbancando Márcio Marinho, que comandava a legenda desde a sua fundação em 2005.

A deputada entrou na política em 2000 com o apoio da Universal, tornando-se a primeira mulher negra vereadora em Salvador.

Logo na estreia foi a quarta vereadora mais votada, com 12,2 mil votos.

Antes, ganhou notoriedade na igreja, onde atuou como professora da Escola Bíblica Infantil.

Ensinava para as crianças enquanto os pais frequentavam os cultos, e por isso ganhou o apelido de Tia Eron.

Com formação técnica em administração, trabalhou como digitadora numa empresa de material eletrônico. Também prestava serviços comunitários em bairros pobres da capital baiana.

Mesmo ligada ao segmento evangélico, ascendeu na política defendendo bandeiras mais próximas de partidos de esquerda: a defesa das mulheres e dos negros.

Não enfrenta processos na Justiça. Mas no ano passado foi alvo de polêmica depois de a Folha revelar que cinco doadores de sua campanha recebiam bolsas de estudo pagas pela Assembleia Legislativa da Bahia na condição de alunos "carentes".

Na época, a deputada disse que nunca fez parte da Assembleia e, por isso, não tinha ingerência sobre a concessão das bolsas.


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