Folha de S. Paulo


Sem doação empresarial, eleição perde 'glamour' e clima de cinema em 2016

Mudanças nas campanhas - Financiamento dos partidos?nas eleições tem novas regras

Sem doações de empresas, as eleições municipais deste ano terão mais caixa dois e menos glamour, apostam marqueteiros e políticos ouvidos pela Folha.

A nova legislação eleitoral impõe uma dieta forçada às equipes de comunicação, que estudam não apenas contratar menos gente, como também substituir equipamentos sofisticados como câmeras cinematográficas por aparelhos de telefone celular.

Haverá um limite para os gastos –os candidatos não poderão usar mais de 70% dos recursos declarados pela campanha mais cara da eleição anterior.

Na disputa pela Prefeitura de São Paulo, uma das principais do país, o teto fica em R$ 34 milhões, no primeiro turno, e R$ 10 milhões no segundo. No entanto, profissionais envolvidos nas campanhas dos pré-candidatos Fernando Haddad (PT), Marta Suplicy (PMDB) e João Doria (PSDB) afirmam não contar com arrecadações superiores a R$ 20 milhões.

No caso do PT, essa cifra foi colocada como meta, conforme relatos obtidos pela Folha, mas internamente admite-se que chegar a esse número será "muito difícil".

A campanha para a reeleição de Haddad, segundo um dos coordenadores, organizará uma lista de pessoas que conhecem pessoalmente o prefeito para bater de porta em porta em busca de fundos.

A estratégia deve ser adotada por outros candidatos, já que uma das maneira de financiamento serão doações de pessoas físicas, mas com um novo limitador: o cidadão pode destinar ao pleito no máximo 10% da renda declarada no ano anterior.

Assim, mesmo grande doadores ficarão restritos ao patrimônio registrado em seu nome, e não de sua empresa.

Outra fonte de financiamento que promete ser o fiel da balança serão eventuais repasses do Fundo Partidário dos diretórios nacionais para os municipais.

"Estamos fritos", reconheceu o deputado estadual Pedro Tobias, presidente do diretório paulista do PSDB. "Não sei como vamos fazer. Sorte que o nosso candidato é rico", diz ele, referindo-se ao empresário João Doria, que é dono de um grupo editorial com revistas e eventos voltados para o público A.

Mas, no geral, Tobias disse que a lei "vai aumentar muito o caixa dois".

O marqueteiro da Marta, Elsinho Mouco, concordou. "Nivelar por falta de recursos não vai resolver a corrupção." Para ele, ajudaria mais incrementar a fiscalização, inclusive para mitigar "riscos".

NEGÓCIO 'AMALDIÇOADO'

Expoentes do marketing político, Duda Mendonça e João Santana foram acusados de receber recursos ilegais de campanhas petistas –o primeiro foi inocentado e o segundo, preso preventivamente há três meses, nega ter cometido os crimes de lavagem de dinheiro e corrupção.

Na avaliação de Paulo Vasconcelos, que coordenou as campanhas do senador Aécio Neves (PSDB-MG) para o governo de Minas e para a Presidência, a imagem dos marqueteiros ficou "abaladíssima". "Tornou-se uma profissão amaldiçoada", afirmou.

"Não é uma situação tranquila quando há um revés como esse, porém não se pode medir a qualidade do trabalho desses nomes com tais fatos. Eles são ótimos profissionais. Mas que está um ambiente esquisito, está."

Vasconcelos defende que os marqueteiros não tenham uma carreira exclusivamente dedicada ao marketing político e voltem a trabalhar com a iniciativa privada.

O publicitário André Gomes, que negocia com Doria, conta com equipes mais enxutas e salários reduzidos –inclusive o próprio, garante. "Campanha já foi um grande negócio. Não é mais", afirmou. "Vamos andar alguns anos para trás."

Gomes disse que elaborou a identidade visual do PSDB paulista e os candidatos poderão baixar do site do partido vinhetas e estampas padronizadas. "Tudo isso será democratizado para baixar o custo", garantiu.

Para Nelson Biondi, marqueteiro do governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) –e que afirmou que não trabalhará na eleição municipal–, as limitações tornarão as campanhas tediosas.

Além de mudanças no financiamento, a lei reduziu os dois blocos de horário eleitoral gratuito de 30 para 10 minutos cada. Mas aumentou o tempo de inserções curtas.

"Essas regras acabaram com as campanhas. Vai ser aquela coisinha, retratinho, o cara falando, pedacinho do programa no comercial. Vai ser um saco", resumiu.


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