Folha de S. Paulo


Governo Temer é feito por 'homens velhos, ricos e brancos', diz Dilma

Ricardo Borges/Folhapress
A presidente afastada, Dilma Rousseff, discursa no ato
A presidente afastada, Dilma Rousseff, discursa no ato "Mulheres pela democracia", nesta quinta no Rio

A presidente afastada Dilma Rousseff (PT) criticou na noite desta quinta-feira (2) o que chamou de retrocesso representado pelo governo do presidente interino Michel Temer (PMDB).

Numa manifestação de um grupo feminista contra o seu afastamento, no centro do Rio, Dilma criticou a ausência de mulheres e negros no ministério.

"Um governo de homens velhos, ricos e brancos não representa a diversidade do nosso país. [...] Não é um capricho ser representado no primeiro escalão. É crucial para impedir retrocessos", afirmou a presidente afastada.

"Esse governo é uma fonte de maus exemplos. Nós mulheres temos que nos sentir menos seguras, menos garantidas quando o governo não é capaz de ter em aeu primeiro escalão uma representação da maioria da população. Não digo só as mulheres, mas também os negros da população. A cultura do estupro e a cultura da exclusão social deve ser combatida por todos os movimentos e também pelos governos", disse a petista.

Dilma também atacou a nomeação da secretária de Mulheres, Fátima Pelaes. Ela havia se posicionado no passado contra o aborto mesmo em caso de estupro, o que é previsto em lei.

"É uma conquista ainda pequena das mulheres. Um agente público, principalmente uma mulher, não pode achar que convicções pessoais podem se sobrepor à lei. É grave que ela diga isso justamente quando aconteceu um estupro coletivo", disse a presidente.

Esse posicionamento de Pelaes foi manifestado durante uma sessão na Câmara dos Deputados na legislatura passada. Após assumir o cargo, ela voltou atrás e disse que vai viabilizar o aborto nos casos previstos em lei.

Na fala, Dilma criticou o estupro sofrido por uma menina de 16 anos na zona oeste. Ela também atacou o Country Club, onde babás são impedidas de usar o mesmo banheiro dos sócios. "O Rio é uma cidade simbólica da força da diversidade."

Dilma voltou a se referir ao processo de impeachment como golpe. Disse que se trata de uma deposição distinta da ocorrida em 1964, no golpe militar. "A democracia é uma árvore. O golpe militar, com armas, é como se fosse um machado. Agora, a árvore está tomada por parasitas que tentam destruir a democracia. Mas a árvore da democracia ainda está de pé. Ainda podemos ir às praças denunciar esse golpe", declarou a presidente afastada.

Durante seu discurso, uma mulher gritou palavras de protestos contra Dilma e foi contida por seguranças. Dilma pediu para que ela fosse solta.

"Se tem uma coisa de que me orgulho é ter garantido a liberdade de expressão e opinião. Solta ela", afirmou a presidente.

VISITA A PEZÃO

Antes de discursar no ato feminista, Dilma visitou o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), afastado para tratar de um câncer, em seu apartamento no Leblon, zona sul do Rio.

Ao sair do carro oficial, foi recebida com gritos de "fora, Dilma" pela vizinhança e manifestações isoladas de apoio. Não houve confronto entre os que se manifestavam a favor e contra Dilma.

Após a visita, de cerca de uma hora, Dilma disse aos repórteres que Pezão "está muito bem".

O governador licenciado emitiu uma nota oficial na qual agradeceu a visita de Dilma.

"Fiquei muito feliz em receber a presidenta aqui na minha casa e estou muito tocado com o carinho dela. Muito importante receber a força de uma pessoa que já enfrentou a mesma situação pela qual estou passando. Estou muito otimista com o tratamento. E o carinho que estou recebendo de pessoas queridas só me fortalece ainda mais."


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