Folha de S. Paulo


Leia novos trechos gravados por Machado com Renan, Sarney e Jucá

Eduardo Anizelli/Folhapress
Renan Calheiros preside sessão do Senado para decidir sobre a admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma
O presidente do Senado, Renan Calheiros

Em gravações feitas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado em março passado, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirma que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não foi processado no caso do mensalão porque os pagamentos ao marqueteiro Duda Mendonça no exterior não foram investigados a fundo.

Na conversa, Machado também revela que a empreiteira Odebrecht estava contrariada com Dilma. "O que está incomodando muito a Odebrecht, que eu soube, isso eu já soube, é que recebeu caixa dois no exterior em todos esses mercados que a Odebrecht apurava e o pessoal está puto com ela [Dilma]."

Machado e Renan tratam ainda da recondução de Rodrigo Janot ao cargo de procurador-geral da República. O senador diz que foi contra a recondução.

SARNEY

Em outro diálogo, revelado pelo "Jornal da Globo", José Sarney afirmou a Machado que Dilma teria "tratado diretamente sobre o pagamento" da Odebrecht para o marqueteiro João Santana.

Em outro trecho, Sarney volta a citar a proximidade do ministro do STJ César Rocha com o ministro do STF Teori Zavascki. Sarney afirma que prefere tratar com César, ao passo que Machado diz que "ninguém sabe" que ajudou Sarney.

O "Jornal Nacional" divulgou ainda conversa em que Machado afirma a Sarney que contribuiu para a campanha do então deputado federal Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo pelo PMDB, em 2012. Segundo o "JN", a contribuição ocorreu a pedido do presidente interino da República, Michel Temer.

GRAVAÇÕES

Machado fez as gravações para conseguir que seu acordo de delação premiada fosse aceito pelo Supremo Tribunal Federal, o que ocorreu na última quarta (25).

Além de Renan e Sarney, Machado também gravou conversas com Romero Jucá, aliado de Temer.

Jucá foi afastado do ministério de Temer após a Folha revelar que ele sugeriu que um pacto do novo governo deveria "estancar a sangria" representada pela Lava Jato.

Leia os trechos.

*

Conversa entre Renan Calheiros e Sergio Machado

MACHADO - Os canais para... porra.

RENAN - O problema do Lu... por que que o Lula saiu [não foi acusado no processo do mensalão]? Porque o Duda [Mendonça, marqueteiro] fez a delação -na época nem tinha [a lei]-, o Duda fez a delação, e disse que recebeu o dinheiro fora. E ninguém nunca investigou quem pagou, né? Este é que foi o segredo.

MACHADO - E o Lula, Renan, durante [inaudível] um tempo não fez. [...] Quando chegou no final do governo...

RENAN - Veio, caiu na real.

MACHADO -...botou na real. Aí [inaudível] umas besteiras, como a Marisa diz, besteira. Ele tem 30 milhões em caixa. Como é que não comprou um apartamento, uma porra [inaudível]. Porra, umas merdas, um sítio merda, um apartamento merda.

RENAN - Apartamento bancário!

MACHADO - De bancário, deixa o cara decorar...

RENAN - Da Bancoop.

MACHADO - Duzentos metros quadrados, Renan. Quer dizer, foi uma cagada enorme, e aí ele se fodeu. Porque ele não fez no governo. Ele armou depois, naquela Sete, naquela Sete que armou. Inclusive tentaram [inaudível]. E ali foi o Gabrielli, junto com uma turma, armaram aquilo, foi outra cagada.

RENAN - Outra cagada.

MACHADO - E ela [Dilma] foi louca, ela viu essa porra e achou que dava. Renan, se você está no governo e começa o incêndio, estando ou não no meio, você tem que apagar, tá dando merda. Você não pode deixar o fogo subir. Esses são os caras. Não podemos deixar essa porra para baixo de jeito nenhum. Você acha que o [advogado Eduardo] Ferrão tem força sobre ele [Teori]?

RENAN - Acesso. Nesse primeiro momento é o acesso.

MACHADO - E eu não vou falar nada com o meu pessoal porque não quero ninguém metido nisso.

[...]

MACHADO - Hoje, eu acho que vocês não poderiam ter reconduzido esse bosta, não. Aquele cara ali...

RENAN - Quem?

MACHADO - Ter reconduzido o Janot. Tinha que ter comprado uma briga ali.

RENAN - Eu tentei... Mas eu estava só.

[...]

MACHADO - [Sobre financiamento de campanha] Quantas vezes tive que interromper campanhas honestas para ir encontrar pessoas e dizer, 'olha, estou desesperado, preciso de dinheiro'? Encontrar 25 pessoas, cinco vão doar, entre essas cinco que vão doar, uma está metida em problema com quem você não devia se associar. Como é que você no meio de eleição, para ganhar ou para perder, tu quer saber de onde é que vem a origem?

RENAN - [inaudível]... A Odebrecht ficou de pagar [...].

MACHADO - Quem mais contribuiu para ela [Dilma]?

RENAN - O negócio do João. Só que...[inaudível] Então ela fingia que estava [inaudível] provar que não tem influência nenhuma.

MACHADO - [inaudível]

RENAN - Isso que ia dar problema.

MACHADO - [Inaudível] Isso ia dar problema, esteve com ela e falou isso, e os donos não deram nenhuma importância. Agora, o que está incomodando muito a Odebrecht, que eu soube, isso eu já soube, é que recebeu caixa dois no exterior em todos esses mercados que a Odebrecht apurava e o pessoal está puto com ela.

RENAN - É. E o João Santana soube e continuou fazendo campanha, ganhar dinheiro. Só daquele Eduardo, de Angola, a campanha custou 150 milhões.

MACHADO - É, eu sei. E agora eles estão putos porque agora estão... Vão responder em torno dela, comprovado, comprovadamente. E a Suíça enlouqueceu. Era o país mais seguro do mundo e virou o país mais inseguro do mundo. Então acho que tem que fazer, Renan, um processo... Porque todo político está assim. Não tem nenhum. Quem é que nunca pediu dinheiro? José Agripino, Aécio, Arthur, Aloysio.

[...]

RENAN - Os caras deram uma nota, o UOL, que o Teori estava despachando nesse final de semana...

MACHADO - Foi isso, foi isso, deu o maior rolo do mundo.

RENAN - Não, lá em Alagoas, o cara botou no UOL que estava querendo ver meu caso, que é a pressão que esse filho da puta faz todos os dias... Não sei o quê e tal. Aí veio um cara que trabalha com a gente, ou querendo prestar serviço, ninguém sabe direito disso, disse o seguinte: 'Olha, eu estou com informações aí, informações seguras, do pessoal da rede hoteleira, que tem 70 policiais da Polícia Federal e que vai fazer busca e apreensão, tal, na sua casa'. Imagina o cara ouvindo uma porra dessas. Você não tem o que fazer.

MACHADO - Não tinha o que fazer. Você tem que estar psicologicamente preparado para essa merda. Aí não adianta tentar falar com ninguém, querer ter informação. Mas essa história foi domingo passado. De norte a sul de leste a oeste. [...] Boataria, boataria. [...]

RENAN - [...] Ninguém sabe, eles vivem nessa obsessão.

[...]

RENAN - Mas você tem ideia do louco que é isso.

MACHADO - Tudo por causa dessa mulher aí. Renan, como esses caras nomeiam oito ministros do Supremo, oito! Para cima do Rio é tudo um bando de fanfarrão. Fux, não sei quem, não sei quem. A Rosa Weber não deu o negócio do Lula, rapaz.

RENAN - Não deu. Falei com o Lula outro dia...

MACHADO - Ele acha que ganha no pleno?

RENAN - Acha que gan... Tem que aguardar essa decisão.

MACHADO - Mas ele foi [inaudível]? Ele perdeu, o negócio dos procuradores, não deram.

RENAN - Aí porque é lobista, tem influência sobre a mulher. Mas toda vez a mulher fica contra. Eu quero é estar perdendo. Esse povo liga 'presidente... de qualquer maneira tem acesso...'

Conversa entre José Sarney e Sérgio Machado

MACHADO - A Dilma não tem condições. Você vê, presidente, nesse caso do marqueteiro, ela não teve um gesto de solidariedade com o cara. Ela não tem solidariedade com ninguém não, presidente.

SARNEY - E, nesse caso, ao que eu sei, é o único que ela tá envolvida diretamente. E ela foi quem falou com o pessoal da Odebrecht para dar, acompanhar e responsabilizar pelo Santana.

MACHADO - Isso é muito sério. Presidente, você pegou o marqueteiro dos três para o presidente do Brasil. Deixa que o ministro da Justiça, que é um banana, só diz besteira, nunca vi um governo tão fraco, tão frágil e tão omisso. É que estavam dizendo esta semana: a presidente é bunda mole. A gente não tem um fato positivo.

SARNEY - E todo mundo, todo mundo acovardado.

MACHADO - Acovardado.

[...]

SARNEY - O Renan, eu falo com, eu mesmo falo com ele, mas eu prefiro falar assim com o César Rocha. Prefiro falar com o César.

MACHADO - Ninguém sabe que eu lhe ajudei.

SARNEY - Porque o César Rocha, o César, o César Rocha é que é o nosso cúmplice junto com o...

MACHADO - Com o Teori?

SARNEY - Com o Teori. Ele é muito, muito, mas muito amicíssimo lá do tribunal. O César fez muito favor pra ele.

MACHADO - O Teori era do tribunal do César?

SARNEY - Era. o Teori era do tribunal do César.

[...]

MACHADO Você acha que a gente consegue emplacar o Michel sem uma articulação [...[ do jeito que esta [...]?

SARNEY Sem articulação, não. Vou ver o que está acontecendo. Vou ao Michel hoje.

MACHADO O Michel... eu contribuí para o Michel. Não quero nem que o senhor comente com o Renan. Contribuí com o Michel para a candidatura do menino. Falei com ele até em lugar inapropriado, na base aérea.

SARNEY Mas alguém sabe que você me ajudou?

MACHADO Não, ninguém sabe, presidente.

Conversa entre Romero Jucá e Sérgio Machado

MACHADO Meu amigo, eu acho que o melhor seria (...). Porque ela continuava presidente. E Michel assumia com liberdade de mudar tudo.

JUCÁ Negociava um ou outro cara aqui que ela quisesse proteger.

MACHADO Isso, proteger no governo. Essa conversa [inaudível] só tem a solução do Getúlio, rapaz. Proteger a família do Lula fazendo um acordo com o Supremo. Não é possível que esses m não façam um acordo desses. Sem o Supremo não adianta. Ou corta as asas da Justiça e do Ministério Público ou f. E quando essa coisa baixar, cortar as asas do Ministério Público


Endereço da página:

Links no texto: