Folha de S. Paulo


Renan diz em gravação que era contra recondução de Janot à PGR

Pedro Ladeira - 26.jan.2016/Folhapress
O procurador geral da República, Rodrigo Janot, durante reunião do Conselho Nacional do Ministério Público
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse em conversa gravada pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, que era contra a recondução de Rodrigo Janot para o cargo de procurador-geral da República.

Janot, que iniciou em setembro do ano passado um segundo mandato como procurador-geral, já pediu nove inquéritos contra Renan. Além da Operação Lava Jato, Renan é investigado pela Operação Zelotes, que apura a suspeita de venda de medidas provisórias.

Os novos trechos dos diálogos foram revelados pela TVGlobo, nesta sexta (27).

Num deles, Machado diz a Renan que não há nada contra ele nas investigações. Renan responde que não entende por que virou uma obsessão do procurador-geral da República.

Machado: Hoje, eu acho que vocês não poderiam ter reconduzido esse b*, não. Aquele cara ali...

Renan: Quem?

Machado: Ter reconduzido o Janot. Tinha que ter comprado uma briga ali.

Renan: Eu tentei... Mas eu estava só.

A assessoria de Renan contestou a versão que aparece na gravação e disse que o presidente do Senado apoiou a recondução de Janot ao cargo.

DILMA E JOÃO SANTANA

Já em uma conversa com o ex-senador José Sarney, Machado fala sobre a prisão do marqueteiro João Santana, em fevereiro de 2016, pela Lava Jato. Eles afirmam que a presidente afastada Dilma Rousseff não teve "um gesto de solidariedade" para Santana, que seria o "único em que ela está envolvida diretamente".

Sérgio Machado: A Dilma não tem condições. Você vê, presidente, nesse caso do marqueteiro, ela não teve um gesto de solidariedade com o cara. Ela não tem solidariedade com ninguém não, presidente.

José Sarney: E, nesse caso, ao que eu sei, é o único que ela tá envolvida diretamente. E ela foi quem falou com o pessoal da Odebrecht para dar, acompanhar e responsabilizar pelo Santana.

Sérgio Machado: Isso é muito sério. Presidente, você pegou o marqueteiro dos três para o presidente do Brasil. Deixa que o ministro da Justiça, que é um banana, só diz besteira, nunca vi um governo tão fraco, tão frágil e tão omisso. É que estavam dizendo esta semana: a presidente é b* mole. A gente não tem um fato positivo.

José Sarney: E todo mundo, todo mundo acovardado.

Sérgio Machado: Acovardado.

CÉSAR ROCHA

Em outro trecho, o ex-senador volta a citar a proximidade do ministro do STJ César Rocha com o ministro do STF Teori Zavascki. Sarney afirma que prefere tratar com César, ao passo que Machado diz que "ninguém sabe" que ajudou Sarney.

Sarney: O Renan, eu falo com, eu mesmo falo com ele, mas eu prefiro falar assim com o César Rocha. Prefiro falar com o César.

Machado: Ninguém sabe que eu lhe ajudei.

Sarney: Porque o César Rocha, o César, o César Rocha é que é o nosso cúmplice junto com o...

Machado: Com o Teori?

Sarney: Com o Teori. Ele é muito, muito, mas muito amicíssimo lá do tribunal. O César fez muito favor pra ele.

Machado: O Teori era do tribunal do César?

Sarney: Era. o Teori era do tribunal do César.

Machado fez as gravações para conseguir que seu acordo de delação premiada fosse aceito pelo Supremo Tribunal Federal, o que ocorreu na última quarta (25). Além de Renan, o ex-presidente da Transpetro fez gravações do senador Romero Jucá (PMDB-RR) e do ex-presidente José Sarney.

Jucá foi afastado do ministério de Temer após a Folha revelar que ele sugeriu que um pacto do novo governo deveria "estancar a sangria" representada pela Lava Jato.


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