Folha de S. Paulo


Para Jucá, Dilma poderia ter pedido licença para 'negociar proteção a Lula'

Em conversa gravada em março, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), atual ministro do Planejamento no governo de Michel Temer, afirmou que um pedido de licença da então presidente Dilma Rousseff seria a saída "mais suave" para a crise e, a partir daí, ela poderia "negociar proteção ao Lula".

Segundo Jucá, a licença também permitiria que Dilma não perdesse "o foro", referência ao foro privilegiado, segundo o qual apenas o STF (Supremo Tribunal Federal) pode processar e julgar determinados políticos no exercício do mandato.

O interlocutor de Jucá na gravação que está em poder de investigadores da Operação Lava Jato, o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado foi quem primeiro, no diálogo, levantou a ideia de uma "licença" presidencial. Dilma acabou afastada em maio passado para responder a um processo de impeachment no Senado.

Machado defendeu, na conversa: "Eu acho o seguinte, a saída é ou licença ou renúncia. A licença é mais suave. O Michel [Temer] forma um governo de união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse país volta à calma, ninguém aguenta mais". O ex-presidente da Transpetro procurou Jucá para obter apoio para impedir que um processo que tramita contra ele no STF seja enviado à vara do juiz federal Sérgio Moro, em Curitiba (PR).

O ex-presidente da Transpetro argumentou: "O mais inteligente seria ela [Dilma] pedir licença, passar o poder para o Michel. Ela tinha que garantir o quê, que ela estaria protegida. E só pode ser protegida pelo Michel".

Renata Mello/Transpetro
Presidente Sergio Machado em discurso durante cerimônia da viagem inaugural do Navio José Alencar. Foto: Renata Mello / Transpetro ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, durante cerimônia de viagem inaugural de navio

Segundo Jucá, havia "uma fila" de políticos a serem investigados no decorrer da Operação Lava Jato, o que incluiria Dilma, depois do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Na sequência estaria o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

A conversa ocorreu em março. Em maio, Cunha foi afastado do cargo da presidência da Câmara pelo STF, poucos dias antes do afastamento de Dilma, determinado pelo Senado.

No diálogo, Sérgio Machado também questionou o comportamento de senadores no episódio da prisão do então senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS). Sua prisão foi decretada em novembro passado pelo STF como desdobramento da Lava Jato e coube ao Senado confirmá-la ou não. A prisão foi apoiada pelo plenário do Senado, em votação. Sérgio Machado achou que os senadores foram "frouxos", pois deveriam ter protegido Delcídio.

"Outra coisa. A frouxidão de vocês em prender o Delcídio foi um negócio inacreditável", provocou Machado. Jucá disse que não houve como impedir.

"Pô, não adianta [adiantava] soltar o Delcídio, aí o PT dá uma manobra, tira o cara, diz que o cara é culpado, como é que você segura uma porra dentro do plenário?", indagou Jucá.

"Mas o cara não foi preso em flagrante, tem que respeitar a lei. Respeito à lei, a lei diz claram...", argumentou Machado. O atual ministro do Planejamento objetou: "Ali não teve jeito, não. A hora que o PT veio, entendeu, puxou o tapete dele [Delcídio], o Rui [Falcão], a imprensa toda. Os caras não seguraram, não". Na época o presidente do PT, Rui Falcão, divulgou uma nota pública contra o senador Delcídio e deu entrevistas dizendo que o parlamentar "não merecia solidariedade" dos petistas.

"Eu sei disso, foi uma cagada", refletiu Machado. "Foi uma cagada geral", concordou Jucá.


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