Em reação a declarações atrapalhadas de novos ministros na primeira semana da gestão interina, o presidente em exercício Michel Temer orientou sua nova equipe a adotar a partir de agora medidas de precaução.
A ordem repassada a auxiliares e assessores é que eles evitem dar opiniões pessoais sobre temas ainda não discutidos pelo Palácio do Planalto e realizem entrevistas ou pronunciamentos públicos após a definição de medidas, dando explicações sobre suas motivações e efeitos.
A intenção do peemedebista é evitar novas gafes como as cometidas pelos ministros Alexandre de Moraes (Justiça) e Ricardo Barros (Saúde), em entrevistas à Folha, e o risco de interpretações equivocadas de medidas tomadas pela nova gestão, sobretudo o corte ou cancelamento de iniciativas da gestão petista.
Evaristo Sá/AFP | ||
O ministro da Saúde do governo Temer, Ricardo Barros (PP-PR) |
A nova orientação foi, por exemplo, adotada pelo ministro Bruno Araújo (Cidades). O núcleo duro do governo peemedebista orientou o tucano a convocar entrevista à imprensa para detalhar, na quarta-feira (18), decisão de revogação da contratação de até 11.250 moradias do Minha Casa, Minha Vida, medida realizada no apagar das luzes da gestão Dilma Rousseff.
A ordem para que os ministros tenham cautela em declarações públicas chegou a ser transmitida na segunda-feira (16) pelo próprio presidente interino ao ministros Alexandre de Moraes.
Em ligação, o peemedebista pediu ao auxiliar tucano ponderação e cuidado ao se manifestar daqui para frente, para evitar que opiniões pessoais sejam confundidas com posições governamentais.
Em entrevista, Moraes defendeu que o governo federal não nomeie obrigatoriamente, para a chefia da Procuradoria-Geral da República, o mais votado em uma lista tríplice por integrantes da carreira. Ele disse ainda que o poder do Ministério Público é grande, mas não pode ser "absoluto".
No mesmo dia, preocupado com a repercussão da declaração, o presidente discordou de Moraes e afirmou, em posicionamento público, que pretende manter a tradição de escolher o mais votado da lista tríplice do Ministério Público Federal.
No dia seguinte, também em entrevista, Ricardo Barros defendeu que o tamanho do SUS (Sistema Único de Saúde) seja revisto, uma vez que o país não conseguirá mais sustentar os direitos constitucionais.
A declaração sofreu críticas públicas e, no mesmo dia, o ministro recuou, ressaltando que o SUS "está estabelecido" e que o tamanho do sistema não será revisto.
Os episódios irritaram o presidente interino, que decidiu repassar as orientações para evitar que as gafes se repitam.
PESSOALMENTE
Temer (PMDB) também avisou a aliados que irá pessoalmente nesta segunda-feira (23) ao Senado entregar a proposta de mudança da meta fiscal e apresentar "um raio-x" da situação econômica do país.
No mesmo dia, no Palácio do Planalto, ele pretende expor o rombo nas contas públicas e pedir o apoio para medidas que possam alavancar a economia.
A prioridade é a atualização da meta. Se não houver uma revisão na previsão do deficit o governo será obrigado a fazer um corte que poderá levar à interrupção de pagamentos de despesas como luz e telefone.
Auxiliares do presidente interino já haviam dito que ele pretende dar publicidade à situação das contas públicas. Temer passou os últimos dias junto à equipe econômica tentando fechar os número que projetará como deficit. No Congresso e no Planalto, a expectativa é de algo em torno de R$ 200 bilhões.
"O valor ainda não está fechado, mas pode chegar a ser um pouco maior ou menor que R$ 200 bilhões", disse à Folha o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima.
A decisão de expor o rombo é parte de uma estratégia para evidenciar os resultados da gestão da presidente afastada, Dilma Rousseff, e obter certa tolerância para as medidas amargas que o peemedebista terá que adotar para sanear a economia.
O presidente interino pretende não só fazer um gesto aos parlamentares, que terão que aprovar as medidas que Temer pretende implementar, como também sensibilizá-los sobre a necessidade de abraçar uma agenda austera e de reformas consideradas impopulares.