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Serra concede passaporte diplomático a pastor investigado pela Lava Jato

Pedro Ladeira/Folhapress
O novo ministro das Relações Exteriores, Jose Serra, assume no lugar de Mauro Vieira
O novo ministro das Relações Exteriores, José Serra, assume no lugar de Mauro Vieira

Num dos primeiros atos à frente da pasta das Relações Exteriores (Itamaraty), o ministro José Serra (PSDB) autorizou a renovação do passaporte diplomático do pastor Samuel Cassio Ferreira, investigado pela Operação Lava Jato.

Líder da igreja Assembleia de Deus Ministério de Madureira, em São Paulo, ele entrou na mira da Polícia Federal por suspeita de ter participado da operação de repasse de propina ao presidente da Câmara afastado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Em despacho publicado no "Diário Oficial" desta quarta (18), Serra assina a concessão do documento especial ao pastor e à mulher dele, Keila Costa Ferreira, válido por três anos.

O passaporte diplomático dá direito à isenção de visto de entrada em alguns países, que têm acordo firmado com o Estado brasileiro, além de filas exclusivas em diversos aeroportos.

O caso do benefício concedido ao casal Ferreira foi revelado pelo site "G1" nesta quarta-feira. Após a publicação da reportagem, Serra decidiu pedir um estudo interno à área técnica do Itamaraty para reavaliar os critérios de concessão dos passaportes diplomáticos.

De acordo com o ministério, desde 2011, todas as lideranças religiosas do país podem requerer o documento especial. A justificativa é o princípio da isonomia, uma vez que, até então, o benefício cabia apenas a cardeais da igreja católica.

O Itamaraty informou ainda que o fato de Samuel Ferreira constar na lista de investigados não o impede de ser agraciado com a renovação, já que isso não caracteriza impedimento judicial.

Nesta quinta (19), Serra afirmou que há uma política definida para a concessão de dois passaportes diplomáticos por igreja.

"Se convencionou há muitos anos que a Igreja Católica teria dois [passaportes], depois outras igrejas reivindicaram a mesma coisa. Não cabe ao governo julgar se uma igreja é superior à outra, então a política que foi definida, não por mim, mas por governos anteriores, foi a de dar dois passaportes por igreja. É o que está se fazendo", disse.

PROPINA

O pastor entrou na mira da Lava Jato depois que os investigadores identificaram dois depósitos feitos à igreja que ele comanda, no valor total de R$ 250 mil.

O dinheiro foi repassado por empresas que pertencem a Julio Camargo, delator da Lava Jato e que trabalhava como consultor da Toyo Setal, uma das prestadoras de serviço da Petrobras.

Em seus depoimentos, Camargo afirmou que o montante tinha como destino final o deputado Eduardo Cunha.

A procuradoria-geral da República, ao denunciar o deputado peemedebista, sustentou ser "notório" a vinculação do deputado com a igreja. Samuel Ferreira é irmão de Abner Ferreira, também pastor, mas que atua em um templo no Rio, frequentado por Cunha.

Um inquérito foi aberto no STF (Supremo Tribunal Federal) para apurar se o líder religioso cometeu crime de lavagem de dinheiro. Como Ferreira não possui foro privilegiado, porém, a corte decidiu emitir o caso dele para a Justiça Federal no Paraná.

OUTRO LADO

A Folha tentou localizar o pastor Samuel Ferreira, mas foi informada de que ele nem seus assessores estavam na igreja nem poderiam retornar os contatos.

Sempre que procurado, Eduardo Cunha nega ser beneficiário de propina.


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