Folha de S. Paulo


Diretor da Abin se diz desprestigiado pelo novo governo e pede demissão

Wallace Martins -8.mai.2013/DA Press
O diretor da Abin, Wilson Trezza, para quem a tipificação de terrorismo é 'compromisso
O diretor-geral da Abin, Wilson Roberto Trezza, pediu demissão, mas pode continuar até as Olimpíadas

A decisão do presidente interino Michel Temer (PMDB-SP) de recriar o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) sem antes discutir a ideia com o comando da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) gerou turbulência no setor e um pedido de demissão do diretor-geral da agência, Wilson Roberto Trezza.

O GSI havia sido extinto por Dilma em medida provisória de outubro passado, e desde então a Abin passou a se submeter a uma pasta comandada por um civil, a Secretaria de Governo.

O pedido de demissão foi feito pessoalmente por Trezza, que está há oito anos no comando da Abin, nesta segunda-feira (16) em reunião com o novo ministro do GSI, o general do Exército Sérgio Etchegoyen.

A saída definitiva, porém, poderá não ocorrer imediatamente, mas sim após as Olimpíadas, de forma a evitar problemas na condução da segurança do evento, da qual a Abin participa.

Além disso, o processo de substituição não é tão rápido, pois o indicado deve passar por sabatina no Senado.

Trezza e Temer haviam se reunido em sigilo há cerca de duas semanas no Palácio do Jaburu, quando o diretor-geral da Abin, segundo a Folha apurou, disse ao então vice que uma grande reivindicação da Abin era se subordinar diretamente ao presidente da República, sem "intermediários".

Trezza afirmou a Temer que um contato direto com o presidente permitiria cumprir melhor as funções da Abin, que incluem "assessorar" o presidente.

NOTA

A dificuldade de acesso aos presidentes é reclamação recorrente da Abin. Durante os governos de Dilma Rousseff, por exemplo, a presidente nunca recebeu Trezza para conversa privada –eles se encontraram apenas em reuniões ampliadas, com a participação de ministros– e também nunca esteve na sede da Abin, em Brasília.

Ao final do encontro com Temer, conforme versão apurada com duas fontes que pediram para não ser identificadas, o então vice-presidente disse que pensaria na proposta e voltaria a entrar em contato com Trezza.

Integrantes da Abin, porém, só souberam pelo "Diário Oficial da União" de sexta (13) que não só a Abin continuaria longe do presidente, mas também que voltaria a ser subordinada ao GSI, comandado por um militar.

A recriação do GSI também resultou em uma dura nota da Aofi (Associação Nacional dos Oficiais de Inteligência), formada por servidores da Abin. Intitulada "Informação ao ministro", a nota foi emitida para negar que a Abin tenha "rompido" relações com agências congêneres internacionais, informação atribuída pela imprensa a Etchegoyen.

A nota diz que o ministro "aparentemente também desconhece que as gestões do GSI nunca foram boas para a inteligência" e que a última delas, encerrada em 2015, "foi particularmente desastrosa para a atividade de inteligência de Estado".

Até 2015 presidente da CCAI (Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência) do Congresso Nacional, a deputada Jô Moraes (PCdoB-MG) considerou "um equívoco" o retorno do GSI.

OUTRO LADO

A assessoria do presidente interino, Michel Temer, informou que ele "não deve satisfações à Abin" na hora de decidir sobre os rumos do setor de inteligência no governo. "A lógica de ele ter que explicar o que está fazendo está invertida. Ele é o presidente, escolhe como vai ser a sua gestão."

A assessoria afirmou que Temer foi procurado recentemente pelo diretor-geral da Abin, Wilson Trezza, para receber explicações do órgão sobre as alegações de suposta espionagem que o vice teria sofrido em 2015. Ela confirmou que o ministro do GSI Sérgio Etchegoyen "está informado" sobre o pedido de demissão do diretor-geral da Abin.

Procurado, Trezza disse que não iria se manifestar sobre o assunto.

As Trombadas de Temer


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