Folha de S. Paulo


Temer congela novos acordos com citadas na Operação Lava Jato

As negociações do governo da presidente afastada Dilma Rousseff com empreiteiras envolvidas na Lava Jato devem ser suspensas pela gestão interina de Michel Temer até a definição de um marco legal que sustente acordos de leniência.

Ganha força a hipótese de que o caso seja tratado no modelo de projeto de lei, em vez de medida provisória, formato usado por Dilma e que teve resistências na oposição e em órgãos externos, como TCU (Tribunal de Contas da União) e PGR (Procuradoria-Geral da República).

A MP editada pelo governo petista perde validade no fim do mês.

O governo interino avalia que Dilma errou ao usar MP, por ser mecanismo com força de lei, "atropelando" as discussões com demais instituições interessadas.

O projeto de lei só passa a vigorar após aprovado pelo Congresso.

"Não podemos dar um passo em falso. É preciso ter um marco jurídico que ofereça muita segurança", disse à Folha o ministro de Fiscalização, Transparência e Controle, Fabiano Silveira, que já iniciou conversas com ministros do TCU, com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e com a Advocacia-Geral da União (AGU).

"A medida provisória causou muitas reações e resistências e é preciso construir um texto que reflita um consenso razoável", disse o ministro, que assumiu a pasta antes chamada de CGU (Controladoria-Geral da União).

Na semana passada, por exemplo, esteve prestes a ser assinado o acordo com a empresa holandesa SBM Offshore, ligada a esquema de desvios da Petrobras.

Segundo a Folha apurou, o valor final de devolução de recursos pela empresa ficou em R$ 1,2 bilhão.

O então ministro da AGU (Advogado-Geral da União), José Eduardo Cardozo, porém, não quis assinar por causa da iminência de a MP de Dilma perder a validade e de brechas jurídicas que poderiam comprometer a negociação.

Advogados da SBM pressionam o novo ministro da AGU, Fábio Osório, a ratificar o acordo, mas ele tem sido aconselhado a não fazer isso.

DELAÇÃO DE EMPRESAS

Os acordos de leniência são uma espécie de delação premiada para as empresas que confessam delitos contra a administração pública em troca de benefícios, entre eles o de não perder o direito de participar de concorrências com toda a administração pública por até cinco anos.

Com o escândalo da Lava Jato, o governo editou a MP que previa acordos com as empresas envolvidas.

Odebrecht, Engevix e UTC estão entre as que negociavam com a então CGU. Em abril, a Mendes Júnior foi a primeira a selar acordo.

A MP de Dilma causou polêmica por excluir o controle prévio dos acordos por parte de TCU e da PGR e abrir brecha para reduzir a reparação de danos causados por essas empresas.

Janot declarou que a medida era "inconstitucional".

Membros do tribunal chegaram a travar um embate com a CGU, que se negava a fornecer informações das conversas em andamento.

A estratégia do governo Temer agora é entrar com pedido de urgência para aprovar um projeto de lei, em texto a ser negociado com esses órgãos externos.

Partidos de oposição a Dilma, agora no governo, já haviam apresentado, em contraponto à MP, proposta semelhante, cujo teor pode também ser reaproveitado.

Até agora, segundo lei vigente de 2013, os acordos eram permitidos mediante algumas restrições, como a fiscalização pelos órgãos de controle ao longo do processo e que somente a primeira empresa que confessasse um delito cometido por várias companhias teria direito ao benefício.


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