Folha de S. Paulo


Voto decisivo sobre Cunha, deputada 'não tem dúvidas' sobre contas no exterior

Reprodução/TV Câmara
A deputada Tia Eron (PRB-BA), relatora do projeto na CCJ da Câmara
A deputada Tia Eron (PRB-BA), que integra o Conselho de Ética da Câmara

Possível voto decisivo no processo que pode salvar ou cassar o mandato de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no Conselho de Ética, a deputada Tia Eron (PRB-BA) disse não ter dúvidas de que o peemedebista tinha contas no exterior e que considera uma "perversidade" as afirmações de que foi colocada no colegiado para salvar o presidente afastado da Câmara.

Ela, porém, não adiantou se votará a favor ou contra a cassação. Tia Eron, cujo nome é Eronildes Vasconcelos Carvalho e está no primeiro mandato de deputada federal, foi indicada ao Conselho de Ética no mês passado pelo PRB do deputado Celso Russomanno (SP) depois da desfiliação do deputado Fausto Pinato, que trocou o PRB pelo PP.

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Folha - A senhora foi indicada para o Conselho de Ética por seu partido. Como ocorreu, a senhora que pediu a indicação?

Tia Eron - Faço parte de um grupo político desde 2002, em Salvador. Quando fomos concorrer [à Câmara de Deputados], as pessoas diziam: 'nossa, Tia Eron é recordista de votos, primeira mulher negra na Casa legislativa mais antiga do país'. Mérito não meu, mérito do meu grupo. Força política do grupo que eu tenho. Ele é que conduz, me fez chegar aonde cheguei, me indicou ao Conselho de Ética. Não precisei abrir a boca para pedir.

Mas já sabia que ia ter pela frente o processo de cassação do presidente.

Mais do que o processo de cassação, [o problema] é o senso comum, é a forma como se induz. Porque há uma forte indução, há um excesso de presunção. 'Ah, ela vai votar porque é aliada', foram resgatar fotos do ano passado, e aí eles fazem todo o tipo de ligação, 'já é amiguinha, ela passeia com ele pra cima e pra baixo'. Ora, isso é a maior perversidade e maldade que pode ser feita. A relação que se estabelece aqui é uma relação bastante comum que você tem entre colegas.

Pelas provas que apareceram, já tem algum juízo?

Hoje tivemos inclusive a minha quarta participação [no conselho]. A gente já observa sobretudo as oitivas. É uma pauta que precisa também conversar, porque isso é que vai dando o tom, vai fazendo com que a gente tenha noção desse processo, estou sempre acompanhada dos nossos advogados que me auxiliam, que dão suporte, pra gente começar a fazer um juízo justo, político e jurídico.

A senhora tem dúvidas se Eduardo Cunha tinha contas no exterior?

Claro que não. Claro que não. Agora, pela ética, eu não posso aqui estar de forma leviana falando que eu já tenho um voto pronto, porque eu não tenho.

Está sendo muito pressionada, para votar contra ou a favor?

É algo que eu não permito, provavelmente por isso mesmo é que eu devo ter sido designada.

Mas foi procurada para falar do processo?

A gente conversa. O dia a dia nessa Casa é de muita conversa.

Não é suficiente para influenciar o voto?

Não deve, e não permitirei, em hipótese alguma. Até pela minha formação.

O fato de o Supremo ter afastado ele muda o cenário, fortalece as provas?

Seguramente, dá uma boa estremecida. Isso obviamente cria uma jurisprudência para que o Conselho de Ética não deixe e nem perca de vista.

A diferença de votos no conselho estava muito pequena. A senhora vai ficar com o voto decisivo?

Acho que não, as coisas estão de forma muito natural fluindo, hoje há outros partidos requerendo vaga para os deputados que mudaram de partido. Até o final da votação vai ter uma mudança, então acho que não vai ser mais eu aquela que vai decidir.

Mas se tiver que dar o voto decisivo, vai se sentir pressionada?

Já lhe disse, eu sou bastante desassombrada [risos].


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