Folha de S. Paulo


Equipe de Michel Temer tem investigado e citado na Lava Jato

Apesar de prometer não interferir na Lava Jato, o presidente interino Michel Temer (PMDB) trouxe para sua equipe um ministro que é investigado no Supremo Tribunal Federal e outro que é alvo de pedido de investigação por suspeitas ligadas à operação.

Além disso, há ainda três novos ministros que já tiveram seus nomes citados em conversas envolvendo delatores da Lava Jato –e outros, listados em planilhas apreendidas pela Polícia Federal.

O titular do Ministério do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR), responde a um inquérito sob suspeita de integrar a organização criminosa que atuou na Petrobras e outro, que é um desdobramento da Lava Jato, relacionado à corrupção na Eletronuclear.

Editoria de Arte/Folhapress

Em sua delação premiada, o dono da UTC, Ricardo Pessoa, afirmou que Jucá lhe procurou para pedir doações à campanha de seu filho, candidato a vice-governador de Roraima, e que por isso doou R$ 1,5 milhão. O empreiteiro afirmou ter considerado que era contrapartida à obtenção da obra da usina de Angra 3.

Já Henrique Alves se tornou alvo de dois pedidos de inquérito feitos pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, mas que ainda não tiveram aval do Supremo para o prosseguimento das investigações. Em um deles, o foco é a relação de Henrique Alves com o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro.

"Em 22/6/2013, Henrique Alves envia mensagem para Léo Pinheiro, dizendo que poderia marcar com o presidente do Tribunal de Contas, irmão de Garibaldi [Alves, senador pelo PMDB-RN], para discutir algum problema envolvendo a OAS", escreveu o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no pedido de busca e apreensão contra o ministro, operação realizada no fim do ano passado.

Em troca, Henrique pedia recursos para sua campanha ao governo do Rio Grande do Norte. O presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também é alvo desse pedido de inquérito.

Além disso, Janot pediu que Henrique Alves seja incluído como investigado no inquérito-mãe da Lava Jato, que apura uma organização criminosa na Petrobras.

O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) protocolou pedido a Janot para que ele suspenda a nomeação de ministros investigados, que passam a adquirir foro privilegiado.

O celular do ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, apreendido na Lava Jato, mostra relação do empreiteiro com outros integrantes da cúpula do governo Temer. Não há informações, porém, se já há inquéritos para investigá-los.

Em uma das mensagens a Léo Pinheiro, Eduardo Cunha cita que correligionários estão "chateados" porque foram feitos repasses a pedido de Moreira Franco, agora secretário executivo do recém lançado Programa de Parceria para Investimento. A mensagem também faz referência a Temer.

O ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima (PMDB), aparece nas mensagens citando, por exemplo, a liberação de recursos da Caixa Econômica Federal para a OAS –Geddel ocupou uma vice-presidência do banco.

Eliseu Padilha (PMDB), ministro da Casa Civil, aparece em uma mensagem de funcionário de Léo Pinheiro na qual ele avisa ao empreiteiro que tem uma reunião marcada com o peemedebista.

Ministros também foram citados em planilhas apreendidas na casa de um ex-executivo da Odebrecht, em um total de 316 políticos de 24 partidos. Não é possível, contudo, dizer a que se referem os valores dessa "superplanilha", nem se foram efetivamente repassados. O fato de nomes estarem citados na lista não significa que estejam ligados a doações ilegais.

O material foi apreendido em fevereiro com o então presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Barbosa Silva Júnior. Do ministério de Temer estão na lista os nomes de Jucá, Henrique Alves, José Serra (Relações Exteriores), Ricardo Barros (Saúde), Mendonça Filho (Educação e Cultura), Osmar Terra (Desenvolvimento Social e Agrário), Bruno Araújo (Cidades) e Raul Jungmann (Defesa).

OUTRO LADO

Os ministros de Michel Temer negaram participação no esquema de desvio de recursos da Petrobras.

Romero Jucá disse que todas as doações para o PMDB em campanhas de Roraima foram feitas dentro da lei. Henrique Eduardo Alves afirmou que não recebeu nenhuma intimação referente às investigações da Lava Jato e que sempre tratou as demandas que recebeu com "zelo à ética".

Geddel afirma que as conversas em que é citado não contêm nenhuma irregularidade e que o modelo de concessão que ele defendia dentro do governo sobre as concessões foi vencido. Moreira Franco nega que tenha qualquer ligação com a Lava Jato.

Em manifestações anteriores, outros ministros também negaram que a figuração de seus nomes na planilha apreendida com executivo da Odebrecht tenham alguma ligação com irregularidades.

Mendonça Filho afirmou que todas as suas doações foram legais e que possui todos os recibos. Osmar Terra disse que o valor atribuído a ele na planilha é compatível com a declaração à Justiça Eleitoral. O deputado criticou ainda o financiamento privado de campanha, proibido recentemente pelo Supremo Tribunal Federal.

Raul Jungmann afirmou que o valor de R$ 100 mil que aparece junto a seu nome é uma doação para sua candidatura de vereador do Recife em 2012. "Ela está registrada na minha prestação de contas ao Tribunal Regional Eleitoral. Não tenho nenhum problema de explicar."

José Serra não quis comentar a citação do seu nome na planilha. Ricardo Barros informou que não houve nenhuma doação da Odebrecht para campanhas do PP em Maringá. A Folha não conseguiu falar com Padilha e com Bruno Araújo na noite desta sexta (13). Ambos já negaram irregularidades anteriormente.

Editoria de arte/Folhapress
Clique para conferir os ministros de Michel Temer, presidente interino da República
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