Folha de S. Paulo


'Camaleão político', Moreira Franco é um dos nomes mais próximos a Temer

Danilo Verpa/Folhapress 20.abr.2016
Moreira Franco chega a escritório no bairro de Pinheiros, em São Paulo, onde o vice-presidente Michel Temer está.
Moreira Franco em São Paulo, dirigindo-se a um escritório para um encontro com Temer

Um dos cinco nomes mais próximos do presidente interino Michel Temer, Wellington Moreira Franco, 71 anos, é o camaleão político do novo núcleo de poder que se instala no Palácio do Planalto.

Sai do bastidor para cativar o capital. Exercerá função diretamente subordinada a Temer, como secretário-executivo do Programa Crescer. Terá como missão tentar estimular a união de capital privado e público em obras de infraestrutura para gerar emprego e renda.

Chamado por Leonel Brizola (ex-adversário pedetista) de "gato angorá", pela penugem branca e pela domesticidade, e de "anjo mau" por Luís Eduardo Magalhães (deputado baiano do qual era amigo, mas que mapeava as "intrigas bondosas" das quais se dizia vítima), Moreira franco renega mais um apelido.

Mas as mudanças de governo e de cor partidária e ideológica são características do camaleão que carrega consigo.

Moreira Franco pertenceu à Ação Popular, grupo de esquerda que combatia a ditadura militar, o que não impediu que mais tarde se filiasse ao principal partido de sustentação do regime autoritário.

Sociólogo por formação, assegura que o PMDB é partido que não trai, mas ele próprio, eleito pelo MDB deputado federal em 1974 e prefeito de Niterói em 1976, traiu sua origem partidária ao se filiar ao PDS em 1980.

Com o regime militar em desgraça, retornou ao rebatizado PMDB para apoiar Tancredo Neves, candidato da oposição, contra Paulo Maluf, da situação.

Elegeu-se governador do Rio de Janeiro pelo PMDB em 1986, no embalo de aprovação popular do presidente José Sarney com o congelamento de preços do plano Cruzado, mas rompeu com ele ao defender mandato de quatro anos para o político maranhense enquanto este lutava para ficar cinco anos no Palácio do Planalto.

Especialista em espalhar e dissipar intrigas palacianas, assessorou com igual fervor o tucano Fernando Henrique Cardoso e o petista Luiz Inácio Lula da Silva. Foi por duas vezes ministro de Dilma Rousseff para depois tornar-se um dos vetores do processo de impedimento da presidente petista.

Virtude ou vício, ser camaleão é um clichê da política já flagrado em 1902, quando foi lançada uma canção popular de origem africana com este título, que dizia: "Eu conheço muita gente igual a um camaleão, com a cabeça diz que sim, com o rabinho diz que não.

As virtudes deste bicho são de grande estimação. Ele é filho do patronato, é sobrinho da eleição. Se ele é verde ou amarelo, responda algum sabichão. Tem as cores do estadista que pra si serve a nação".

ORIGEM

Piauiense de Teresina, Moreira Franco mudou-se ainda jovem com a família para o Rio de Janeiro. Aos 15 anos, sob o regime democrático do governo Juscelino Kubitschek (1956-61), iniciou-se na política estudantil secundarista.

Em 1964, ingressou na Faculdade de Ciências Econômicas da antiga Universidade do Brasil, atual UFRJ. Três anos depois transferiu-se para o curso de sociologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Com o golpe militar, integrou-se à Ação Popular, grupo de base católica e de resistência ao regime.

Foi preso em 1967, acusado de subversão política, ao pregar ideais socialistas para o país. Seu nome aparece entre os 30 indiciados de Inquérito Policial Militar que apurou as responsabilidades do comando da Ação Popular na tentativa de implantação de uma "ditadura de classe" no Brasil.

Depois de concluir o curso de sociologia, Moreira Franco casou-se em 1969 com Celina Vargas do Amaral Peixoto, também socióloga e filha única do senador Ernâni do Amaral Peixoto e de Alzira Vargas. Teve três filhos deste casamento com a neta de Getúlio Vargas. "O senador Amaral foi meu único chefe político", resume Moreira Franco.

Com a ditadura em seu momento mais repressor, em 1970 o casal Wellington e Celina mudou-se para a França com o propósito de cursar o doutorado no polo humanista europeu mais famoso, a Universidade de Paris 8, ainda no campus situado em Vincennes.

Celina doutorou-se; Wellington, que concluíra o mestrado no Instituto de Pesquisas Universitárias do Rio de Janeiro, cursou créditos do doutorado, mas não chegou a apresentar a tese que lhe permitiria defender o título de doutor na instituição. O casal retornou ao Brasil em 1972.

Moreira Franco foi então convidado para ser editor de política de "O Jornal", periódico fundado por Assis Chateaubriand, à época dirigido por Alberico Souza Cruz. Moreira permaneceu apenas um mês no ofício de jornalista.

"Não tinha notícia política, porque o ato institucional número 5 não deixava. Eu vinha da biblioteca, um lugar silencioso. Deram-me uma página para editar, mas criar notícia era um sufoco absoluto. Ao meu lado, estava a editoria de polícia, um tumulto danado, com excesso de notícia e barulho. Desisti em um mês."

Abandonou o jornalismo, mas nunca os jornalistas. Uma das suas características é de gostar de dialogar com eles. "A cobertura tradicional da política virou meio gossips [fofoca, em inglês], nhenhenhém. As posições políticas estratégicas hoje decorrem da economia. Daí que os grandes jornalistas têm hoje de ter essa amplitude", analisa.

Depois da experiência frustrada na redação, assumiu cadeira de professor de sociologia na Universidade Federal Fluminense e dali seria levado à política por insistência de seu "chefe político".

Como genro de Vargas, Amaral Peixoto tornou-se uma das mais duradouras lideranças políticas do país. Na eleição para a Câmara dos Deputados de 1974, carreou votos para levar Moreira Franco ao posto de deputado mais votado do Estado do Rio, à época ainda dissociado do Estado da Guanabara.

Eleito com três vezes mais votos do que o segundo colocado, Moreira Franco passou a ser conhecido como o "genro do genro". De cabeleira farta e figura usual na praia do Leblon, Moreira Franco foi apontado como uma das novidades da eleição de 1974.

Dois anos depois, elegeu-se prefeito de Niterói. Seus aliados encomendaram uma missa de Ação de Graças por sua vitória.

O prefeito Moreira Franco entrou na Catedral de Niterói ao som da marcha "Pompa e circunstância", do inglês Edward Elgar. A marcha foi inspirada em "Otelo", a peça de Shakespeare construída ao redor da neurose da traição.

GOVERNISTA

Em 1980, os emedebistas acusaram Moreira Franco de traidor quando se filiou ao governista PDS, no momento da extinção do bipartidarismo. Acompanhou o senador Amaral Peixoto, uma das mais notórias lideranças do MDB, que rejeitou o PMDB para comandar o partido que dava sustentação ao presidente João Baptista Figueiredo.

Moreira conseguiu ser candidato ao governo do Estado do Rio de Janeiro em 1982, mas foi derrotado por Leonel Brizola em eleição investigada por fraude na apuração em favorecimento do candidato do regime. O chamado escândalo da Proconsult, a empresa privada contratada para processar os votos no Rio, marcou a eleição daquele ano.

Em 1984, Moreira Franco apoiava a candidatura do vice-presidente Aureliano Chaves à sucessão de Figueiredo. Quando ficou claro que Paulo Maluf seria o candidato do regime militar, passou a apoiar o oposicionista Tancredo Neves. Filiou-se ao PMDB, partido pelo qual obteve legenda para disputar novamente o governo do Estado do Rio em 1986.

Derrotou o candidato brizolista Darcy Ribeiro, na onda avassaladora de popularidade do Plano Cruzado que deu ao PMDB 22 dos 23 governos estaduais em disputa.

Logo após a eleição, o Plano Cruzado ruiu e Sarney estabeleceria recorde de 64% de desaprovação popular, índice que só seria batido por Dilma Rousseff em 2015.

Além do fracasso do Plano Cruzado, o governo Moreira Franco entrou na berlinda em razão da primeira promessa de campanha do peemedebista: acabar com a violência no Rio de Janeiro em seis meses. "Em toda minha carreira, foi a promessa o que me criou mais problema. O que me irrita mais é que foi uma coisa absolutamente burra", disse Moreira.

Dono do maior tempo no horário eleitoral gratuito de 1986, Moreira Franco passava noites e madrugadas dedicado à gravação de programas eleitorais. Na reta final da campanha, chegou ao estúdio pouco depois das 3h30 e reuniu-se com o publicitário Roberto Medina e a jornalista Belisa Ribeiro, que cuidavam do seu programa eleitoral.

"Tinha de gravar uma inserção de 30 segundos. O grande problema do Rio de Janeiro era a violência. Medina pediu que eu fosse assertivo, fizesse uma promessa de acabar com a violência em seis meses. Eu, cansado e exausto, disse: então tá bom. Fui lá e pá! Nunca mais a campanha do Darcy falou em violência", recordou.

"A questão da violência saiu da campanha. Mas a violência faz parte da natureza humana. Você coíbe, pune, inibe, mas não acaba. Eleito, seis meses depois vieram me cobrar. E eu não tinha o que dizer. Primeiro porque havia dito essa estultice; segundo porque violência não se acaba."

Como se não bastasse, a violência rodeava o governador. Ele teve seu preparador físico pessoal envolvido no sequestro do publicitário Roberto Medina, que havia cuidado de suas campanhas eleitorais em 1982 e 1986.

Um grupo armado sequestrou Medina em junho de 1990 e exigiu US$ 5 milhões como resgate. Medina foi liberado com o pagamento de resgate, mas o grupo acabou preso, tendo sido então revelada a participação de funcionário do Palácio Guanabara, sede do governo do Rio, no crime. Na agenda do preparador, havia os telefones particulares do governador e de sua família.

"Esse pessoal veio para minha campanha por intermédio da campanha do Rubem Medina [irmã de Roberto e candidato a deputado federal]. Eles já conheciam a rotina do Medina.

O pessoal que sequestrou era originariamente da campanha do Medina na zona oeste. Mas nesse caso fomos eficientes. A Polícia Civil do Rio montou operação que irritou o Collor porque invadiu o Paraguai para prender os sequestradores", declarou.

LICITAÇÕES VICIADAS

O governo Moreira Franco enfrentou acusações repetidas de desvios e concorrências marcadas. A mais famosa delas foi a licitação para a construção do sistema Marajoara, obra de ampliação do sistema de abastecimento de água da região metropolitana do Rio.

Em 1º de março de 1989, data da entrega das propostas das construtoras que participariam da licitação, o jornalista Janio de Freitas publicou anúncio cifrado em jornal carioca antecipando as empresas que seriam vencedoras.

Confirmado o resultado que antecipara já na entrega de propostas, Freitas foi autor da manchete da Folha em 9 de abril de 1989: "Outra concorrência fraudada rende US$ 1 bi a empreiteiras".
Depois de muitas reafirmações do governo estadual sobre a correção do processo, Moreira Franco acabou por anular a licitação.

O governador terminou seu mandato com taxas altas de impopularidade e sob críticas diversas. Em fevereiro de 1991, um mês antes de deixar o cargo, recebeu no Palácio Guanabara a cúpula da contravenção do Rio de Janeiro. Foi fotografado ao lado de Anísio Abrão David, bicheiro e presidente da escola de samba Beija-Flor, e sendo fortemente abraçado por Carlinhos Maracanã, bicheiro e presidente da Portela.

"Não fui eu quem elegeu os presidentes das escolas de sambas. Não tinha culpa se eram bicheiros. Em 1986, todos apoiaram Darcy Ribeiro e trabalharam intensamente contra mim. Era um encontro administrativo, sobre a cessão do terreno para o museu do carnaval. Eram bicheiros. O que posso fazer? A vida social é o que é", afirmou Moreira.

Entre 2007 e 2010, sob o governo Lula, Moreira Franco comandaria a vice-presidente de loterias da Caixa Econômica Federal. "Nunca fui contra o jogo. No mundo todo, as pessoas jogam. Pessoalmente, não jogo. Não vou a cassinos nem tenho paciência. Mas não vejo problemas."

Depois de 20 anos de casamento com Celina Vargas do Amaral Peixoto, Moreira Franco separou-se em 1989. Ele casou-se novamente em 1993, com a estilista Clara Maria de Vasconcellos Torres Moreira Franco. Filha de ex-deputado Vasconcellos Torres, Clara foi funcionária do Senado e depois transferida para a Casa Civil do governo do Rio por obra do governador Sérgio Cabral.

Em 2005, a enteada de Moreira Franco, Patrícia Vasconcellos Torres Dantas, casou-se com o deputado federal Rodrigo Maia (DEM), filho do ex-prefeito da cidade do Rio de Janeiro Cesar Maia, antigo adversário de Moreira.

Nos períodos em que não exerceu mandatos, Moreira Franco foi diretor-presidente da editora Nova Aguilar (1982-1987) e diretor de organização não governamental voltada para o estudo das relações de trabalho,, entre 1991 e 1994.

'ANJO MAU'

Moreira Franco cumpriu mandato de deputado federal (1995-1999), antes de tornar-se assessor especial do presidente Fernando Henrique Cardoso, com sala no Palácio do Planalto. Ali nasceu o apelido de "anjo mau".

Parte dos palacianos dizia que ele era os ouvidos de FHC, parte dizia que ele era a língua afiada que o presidente não poderia usar.

Somou inimigos, como Antonio Carlos Magalhães. Ministro das Comunicações de Sarney, ACM se desentendera com Moreira Franco porque trabalhou pelos cinco anos de mandato para o presidente.

ACM repetia com frequência que FHC lhe confidenciou que não confiava em Moreira para cargos que tivessem cofre. Fernando Henrique negou enfaticamente tal confidência: "Tudo isso é mentira. Falam, falam, mas não provam nada. Alguém provou algo contra o Moreira? Nunca".

Moreira Franco obteve novo mandato de deputado federal em 2002, ano em que Lula foi eleito presidente. Apoiou sua reeleição e tornou-se vice-presidente da Caixa em 2007.

Em 2010, fez campanha para Dilma Rousseff e tornou-se ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos entre 2011 e 2013. Assumiu em seguida o posto de ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil, com a missão de preparar os aeroportos brasileiros para a Copa do Mundo de 2014.

Dilma foi reeleita naquele ano, com Michel Temer como vice. Moreira Franco havia sido indicado por Temer em sua cota para permanecer na Aviação Civil no segundo mandato. Dilma se irritou com declarações do peemedebista defendendo mudanças na direção da Petrobras, em razão da operação Lava Jato.

Depois de participar de um seminário do PMDB sobre reforma política, em 16 de dezembro de 2014, no Rio, Moreira afirmou que a Operação Lava Jato traria "profundas consequências na governança e na gestão da empresa". Em seguida, disse que acreditava numa "mudança de tudo".

A revogação de atos da Secretaria de Aviação Civil que autorizavam a privatização de cinco aeroportos foi tema de outra rusga com Dilma. Petistas afirmam que Moreira Franco trabalhava por um projeto de aeroporto privado em São Paulo proposto pela Andrade Gutierrez e pela Camargo Corrêa. Previa investimento estimado entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões na construção de um terminal com capacidade para 30 milhões de passageiros/ano em Caieiras, na Grande São Paulo.

Moreira Franco soube que perdera o posto na Aviação Civil na véspera da posse. Ele e Temer alimentaram mágoa do episódio, que só seria revelada um ano depois, quando em carta o vice-presidente anunciou seu rompimento com Dilma. Apontou como um dos motivos a não recondução de Moreira Franco a Secretaria de Aviação Civil, após "um belíssimo trabalho".

Circulou por Brasília a informação de que Moreira Franco havia sido o "ghost-writer" da carta de Temer a Dilma. "É mentira que tenha escrito a carta ou sequer parte da carta do Temer. A pessoa que mais influenciou aquela carta foi o Lula. Ele esteve sábado com o Temer e disse: você vai se reunir com a Dilma? Ela não ouve. Faça por escrito e deixe com ela o que você disser. Quando cheguei na segunda-feira Temer já tinha a carta manuscrita. A ideia foi do Lula", afirmou.

AMIZADE COM TEMER

Moreira Franco se aproximou de Temer em 1995. Recebeu um telefonema de Orestes Quércia, pedindo que coordenasse a eleição de Temer para a liderança do PMDB. "Fiz o que pude. Ajudei muito. Sou bom em coordenação", disse.

Desde então, caminham afinados. Os passos de distanciamento de Temer de Dilma podem ser contados a partir das posições de Moreira Franco. Ele vocalizava o que o vice-presidente se achava constrangido em dizer.

Ao ser acusado de ser a principal voz conspiradora contra Dilma, Moreira rebateu: "O PMDB não trai nunca". Afirmou que suas críticas ao governo eram abertas e limpas. "Ninguém conspira em on. Só manifestei meus pontos de vista", disse em referência às declarações gravadas de autoridades a jornalistas.

Moreira Franco afirmou ter aprendido com o senador Amaral Peixoto como se comportar nos meandros do poder. "Com o senador Amaral, único chefe que tive, conheci muito governo, o que é palácio, o que é compostura institucional, qual a importância do gesto e da palavra no processo de tomada de decisão. Isso facilitou minha convivência com as pessoas."

Disse que esses conhecimentos permitiram antecipar com razoável precisão que o governo Dilma estava ruindo. "Percebi que havia uma confusão entre mandar e ser obedecido. Ela mandava muito, mas não era obedecida. Era uma confusão louca. Poder não é mandar, é ser obedecido. Havia essa confusão de achar que poder era mandar. Começou um pouco antes de 2014, mas se agravou depois", declarou.

Formalmente, Moreira Franco prepara-se para ser o secretário-executivo do Programa Crescer.

"O país tem de ter um programa de parceria público-privada para voltar a crescer e gerar emprego. O que gera emprego é investimento em infraestrutura. Só conseguiremos encontrar o equilíbrio fiscal num ambiente de crescimento. Ambiente de crescimento se faz com a geração de emprego e de renda", disse.

"Crescendo é possível criar um ambiente de equilíbrio fiscal, responsabilidade fiscal, inflação controlada, contas públicas bem administradas. Meu papel será esse esforço de estimular a parceria entre o capital privado e o público no sentido de ampliar os investimentos em infraestrutura", completou.

Um artigo e dois comentários que escreveu nas redes sociais alimentaram especulações na Petrobras de que Moreira Franco seria o nome de Michel Temer para comandar a empresa da qual a União é a acionista controladora.

"O que a empresa precisa é de plano estratégico, que a retire da crise. E o povo brasileiro precisa de uma Petrobras viva", escreveu Moreira. "O mercado entendeu a tentativa demagógica do governo de continuar administrando a inflação e o pedido de impeachment às custas da Petrobras", postou em abril.

Consultorias e sindicalistas começaram a especular então sobre a possibilidade de Moreira Franco assumir a Petrobras. Relataram que desde o governo FHC ele tenta ser fazer influente na empresa de petróleo. "Cogitar meu nome para a Petrobras é absolutamente fora de propósito. Não entendo de óleo e gás", negou ele.

Formulador principal do "Ponte para o futuro", documento de tom liberal com o projeto econômico do PMDB, Moreira Franco rebate a crítica de que são propostas que Temer jamais defenderia, caso disputasse a Presidência em eleições diretas, por serem supostamente punitivas dos trabalhadores e bajuladoras do empresariado.

"Não acho não. É quase uma continuação da Carta aos Brasileiros, documento que Lula elaborou aos eleitores no pleito de 2002. Os fundamentos contidos na carta são os mesmos dos contidos na 'Ponte para o futuro'. É uma continuação do que foi feito no Plano Real e no primeiro governo Lula, o que permitiu colocar 40 milhões de brasileiros no mercado de consumo. Não se pagava dívida com dívida, as contas públicas eram bem administradas, o crédito só melhorava."

Moreira Franco não vê riscos que impeçam Temer tornar-se presidente efetivo, após a conclusão do julgamento de Dilma no Senado. Diz ser "bobagem" a acusação de petistas de que Temer assinou tantas pedalas fiscais quanto a presidente afastada, ou seja, autorizou manobras contábeis para que o governo pudesse gastar mais.

"O problema da pedalada é a assinatura fora da meta, do limite estabelecido. Ele tinha condições de assinar, porque ainda estava dentro do limite. No caso dela, não."

A possibilidade de Dilma e Temer serem condenados conjuntamente pelo Tribunal Superior Eleitoral, por abuso do poder econômico na eleição de 2014, também é desdenhada. "São contas distintas. Até 2010, havia duas estruturas com contas julgadas separadamente. Agora são duas estruturas com julgamento comum. As contas do Temer não têm nada a ver com as da Dilma".

Vacinado contra previsões afobadas, Moreira evita se comprometer sobre em quanto tempo acredita que a economia brasileira começará a se recuperar.

"Não sou mãe Diná. Mas não tenho dúvida de que o Michel, presidente Temer, liderará uma equipe com muita disposição para superar a maior crise da nossa história. O negocio é cair dentro e enfrentar. Os fundamentos são muito bons."

Do 26º andar do Anexo 1 da Câmara dos Deputados, sede da Fundação Ulysses Guimarães, instituição peemedebista que preside, Moreira Franco tem como vista toda a Esplanada dos Ministérios. De lá viu o governo Dilma ruir e trabalhou pela ascensão de Temer nos gabinetes do Congresso. Obteve grande vitória, mas não esconde certo constrangimento em ser cobrado por um novo governo estabelecido sem o sufrágio das urnas.

"Nosso sonho é eleger um presidente da República pelo voto. Vamos ver se dá para isso em 2018", declara.

ilustração Carlinhos Müller
Ex-esquerdista que se filiou a partido apoiador daditaduraeex-assessor de FHC, Lula e Dilma, MoreiraFranco é um dos nomes mais próximos de Temer

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