Folha de S. Paulo


Temer vai chefiar órgão que formula política comercial no exterior

Pedro Ladeira - 09.dez.2015/Folhapress
Michel Temer fala com a imprensa ao deixar o gabinete da Vice-Presidência, em dezembro passado
Michel Temer fala com a imprensa ao deixar o gabinete da Vice-Presidência, em dezembro passado

A Câmara de Comércio Exterior (Camex), esvaziada nos últimos anos, vai se transformar no principal órgão formulador de política comercial em um futuro governo de Michel Temer. O próprio peemedebista, que deve assumir a Presidência interinamente a partir desta quinta-feira (12), passará a presidir a Camex, função hoje com o titular do Desenvolvimento.

Segundo a Folha apurou, Temer está convencido de que as exportações serão uma das principais alavancas da retomada do crescimento econômico. Ter o presidente da República à frente da Camex seria uma sinalização de que a política comercial é estratégica para o governo.

O vice também tem falado com Henrique Meirelles, cotado para assumir a Fazenda, sobre a importância de não deixar o dólar cair demais para não atrapalhar as exportações.

A nova Camex terá uma secretaria executiva que cuidará do dia a dia do órgão e está sendo disputada entre o Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento. O posto é prioridade para o senador José Serra (PSDB-SP), que deve assumir o Ministério das Relações Exteriores, mas quer ter voz na política econômica do próximo governo.

Serra deve liderar um Itamaraty "turbinado" com a Apex, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, que tem orçamento de R$ 590 milhões. Os recursos trarão alívio ao Itamaraty, que passou por sucessivos cortes e hoje conta com R$ 2,98 bilhões para operar.

Com isso, a pasta do Desenvolvimento será desidratada, já que a Apex correspondia a mais de 50% de seu orçamento, de R$ 806 milhões. O bispo licenciado da Igreja Universal Marcos Pereira (PRB), que chegou a ser cotado para a Ciência e Tecnologia, chefiará o ministério.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) aplaude as mudanças na Camex. Mas mostra reservas em relação à nova Apex. "A Apex deveria manter seu corpo técnico, que não está ligado à diplomacia", diz Carlos Abijaodi, diretor de desenvolvimento industrial da CNI.

Segundo a Folha apurou, a Apex manterá a autonomia (hoje ela é só vinculada ao Desenvolvimento), e não haverá substituição de seus quadros por diplomatas. A agência, no entanto, terá novo direcionamento, porque irá atuar de maneira articulada com a política externa.

EQUIPE ECONÔMICA

O economista Mansueto Almeida, que participou da elaboração do programa do candidato Aécio Neves (PSDB-MG) a presidente em 2014, é cotado para integrar a equipe de Henrique Meirelles na Fazenda num provável governo Michel Temer.

O economista, hoje no Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), pode ir para a Secretaria do Tesouro Nacional ou para a Secretaria de Política Econômica.

O ex-diretor do Banco Central Carlos Hamilton tambem é cotado para integrar a Fazenda. Ele hoje atua no grupo JBS, de onde Meirelles sairá para virar ministro de Temer.

No Banco Central, assessores de Temer dizem que o economista-chefe do Itaú, Ilan Goldfajn, é o nome preferido para presidir a instituição. Também são cotados Mário Mesquita, sócio do banco Plural, são Carlos Kawall e Afonso Bevilaqua.

No caso do BC, Henrique Meirelles tem tempo para definir a futura diretoria. O atual presidente do banco, Alexandre Tombini, deve ficar pelo menos até a próxima reunião do Copom, nos dias 7 e 8 de junho.
Nesta quarta-feira (11), por sinal, o ministro Jaques Wagner (Chefia de Gabinete da Presidência) informou aos ministros de Dilma Rousseff que todos serão exonerados junto com a saída da presidente, à exceção de Tombini e do ministro dos Esportes, Ricardo Leyser.

Ele explicou que uma exoneração de Alexandre Tombini deixaria o banco sem comando, já que Temer não teria como reconduzi-lo automaticamente ao cargo.

Ainda na lista de possíveis auxiliares de Meirelles, o atual presidente da Infraero, Gustavo do Vale, pode ser indicado para uma diretoria do Banco do Brasil.


Endereço da página:

Links no texto: