Folha de S. Paulo


Não estou cansada de lutar, mas sim dos desleais e dos traidores, diz Dilma

Pedro Ladeira/Folhapress
 A presidenta Dilma Rousseff participa cerimônia de abertura da 4ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres (4ª CNPM), no Centro de Convenções Ulysses Guimarães
A presidenta Dilma Rousseff participa da 4ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres

Dilma Rousseff subiu ao palco pontualmente às 16h40 desta terça-feira (10). A abertura da 4ª Conferência Nacional de Política para as Mulheres, em Brasília, poderia ser seu último evento público como presidente da República.

Cercada por auxiliares e assessores, Dilma chegou ao centro de convenções Ulysses Guimarães sorrindo e subiu ao palco em que mais de 70 pessoas formavam sua claque de apoio. Diante da plateia de mulheres simpatizantes a seu governo, acenava e agradecia aos gritos de "não vai ter golpe, vai ter luta" e "fica, querida".

Geralmente com pouca paciência para as delongas desse tipo de evento, Dilma pareceu mais à vontade para inovar e, de braços dados com ministros e lideranças de movimentos de mulheres, cantar o hino nacional à capela. Logo em seguida, porém, voltou a sua habitual nominata e "cumprimentou" –como pronuncia o verbo de saudação– quase todas as autoridades presentes. O que durou quase dez minutos.

Dilma usou seu discurso para dizer que "não está cansada de lutar", mas sim "cansada dos desleais e traidores" e que seu processo de impeachment "tem base no preconceito e na violência contra a mulher".

"Tenho certeza de que o Brasil também está cansado dos desleais e dos traidores e é esse cansaço que me impulsiona a lutar ainda mais", afirmou.

"Sabemos que um dos componentes desse processo tem base no fato de eu ser a primeira presidenta eleita pelo voto popular. E quero dizer que uma parte muito importante da minha capacidade de resistir decorre do fato de eu ser mulher", completou Dilma.

Apesar de dizer que, para ela, "o último dia previsto" do seu mandato é "31 de dezembro de 2018", a presidente prometeu que irá participar de "todos os atos e ações" de resistência que lhe convidarem daqui pra frente.

Para esta quarta-feira (11) está marcada a votação do impeachment no plenário do Senado. Caso aprovado, Dilma será afastada do cargo por até 180 dias e, então, tem início o julgamento que determinará se ela será ou não impedida de continuar à frente do Palácio do Planalto.

Mesmo com a fala otimista, Dilma já admitiu a aliados que seu afastamento provisório é "inevitável". Ministros, assessores e até mesmo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acreditam que será "muito difícil" a petista retomar o mandato ao final do processo.

"NOME AOS BOIS"

Com tom mais emotivo do que seus discursos nos últimos dias, a presidente repetiu que seu impeachment é um "golpe", que não vai renunciar ao cargo e que o processo é conduzido por uma "aliança" entre o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) e o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). "Preciso dar nome aos bois".

Segundo Dilma, seu impeachment decorre do fato de a oposição "não aceitar" os programas sociais desenvolvidos pelo governo do PT nos últimos 13 anos.

"Carrego em mim a força dos 36 milhões de brasileiros que saíram da pobreza, dos 11 milhões que moram em casa própria do Minha Casa, Minha Vida, dos 64 milhões que não tinham atendimento médico e agora têm com o Mais Médicos, dos 9 milhões do Pronatec, carrego os mais de 4 milhões que fizeram Prouni, Fies, que entraram na universidade, e carrego os filhos de pedreiros que viraram doutores. É por isso que eu jamais vou desistir", afirmou.

Antes de sair do centro de convenções, Dilma cumprimentou algumas das participantes da conferência, ganhou buquês de flores, cartas e faixas de apoio, mas, como de costuma, foi embora sem falar com jornalistas.


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