Folha de S. Paulo


Ex-ministro Mantega é levado para depor em nova fase da Zelotes

Sergio Lima - 29.dez.14/Folhapress
O ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do BNDES Guido Mantega, que foi convocado por CPI
O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega

A Polícia Federal deflagrou, na manhã desta segunda-feira (9), a sétima fase da Operação Zelotes, que tem como alvo principal ilegalidades em processos da empresa Cimento Penha no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais). O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega foi um dos alvos de mandado de condução coercitiva, em São Paulo.

O ex-ministro foi levado até a superintendência da Polícia Federal em São Paulo, onde chegou por volta das 9h45, por uma entrada alternativa. Mantega prestou seu depoimento por cerca de duas horas na Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros.

Além de conduzi-lo para prestar depoimento, a Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão na casa do ex-ministro Guido Mantega. A Folha apurou que as investigações apontaram indícios de movimentações financeiras incompatíveis com a renda de Mantega.

Em novembro do ano passado, os sigilos bancário e fiscal de Mantega foram quebrados pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, responsável pela Zelotes, que acolheu um pedido do Ministério Público Federal que procurava investigar a extensão do relacionamento do ex-ministro com o empresário Victor Sandri, da empresa Cimento Penha, que conseguiu reverter multas no valor de R$ 106 milhões em uma votação no Carf.

A intenção do Ministério Público com as quebras também era verificar se Mantega sofreu influência indevida ao nomear determinados membros do Conselho.

7ª fase da Operação Zelotes

À época, o advogado de Mantega, José Roberto Batochio, afirmou que a relação entre Mantega e Sandri começou há cerca de 20 anos, quando o ex-ministro vendeu ao empresário um terreno, que recebera de herança de seu pai. Sandri pagou o imóvel com unidades de um condomínio construído no local. "Esse negócio ocorreu quando Mantega não era ministro", disse o advogado.

Nesta nova fase da Zelotes foram cumpridos 28 mandados, dentre busca e apreensão, condução coercitiva e oitiva, em cinco Estados. Ainda não há detalhes sobre os alvos dos mandados. Não há prisões.

Em nota, a PF afirma que "o alvo desta fase de ações da PF, empresa produtora de material de construção, celebrou contratos com escritórios de advocacia e de consultoria, os quais, por meio de seus sócios, agiram de maneira ilícita, manipulando o andamento, a distribuição e decisões do CARF, visando obter provimento de seus recursos e cancelamento da cobrança de tributos em seus processos".

JOSÉ RICARDO

Também foi conduzido a depor o lobista José Ricardo da Silva, condenado na semana passada a 11 anos de prisão por envolvimento no esquema que está na mira da Zelotes.

Ele ganhou o direito de recorrer da sentença em liberdade e, pela manhã, esteve na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, mas permaneceu em silêncio.

Seu advogado, Getúlio Humberto de Sá, afirmou que ele só falará em juízo

ZELOTES

A Zelotes investiga casos de corrupção em que empresas pagariam propina para obter vantagens em julgamentos no Carf, que analisa autuações milionárias da Receita Federal.

Há processos da empresa Cimento Penha que estão sob a suspeita dos investigadores. A operação visa avançar nessas suspeitas.

Deflagrada no fim de março de 2015 com origem em uma carta anônima entregue num envelope pardo, a Operação Zelotes investiga um dos maiores esquemas de sonegação fiscal já descobertos no país.

OUTRO LADO

Procurado, o advogado Guilherme Batochio, que defende o ex-ministro, afirmou que "Mantega respondeu a todas as perguntas e tudo foi esclarecido".

Ele ainda afirmou que "a condução coercitiva foi totalmente ilegal e arbitrária". "O Mantega já prestou depoimento neste mesmo inquérito. Quando foi chamado, ele foi. O juiz Sergio Moro está fazendo escola", disse.

Tribunal sob suspeita


Endereço da página:

Links no texto: